Combates entre exército e paramilitares matam ao menos 56 civis no Sudão
Pelo menos 56 civis morreram, incluindo três funcionários da ONU, nas últimas 24 horas no Sudão, onde o Exército e um poderoso grupo paramilitar se enfrentam neste domingo (16), pelo segundo dia consecutivo.
A violência eclodiu no sábado (15), em meio a uma disputa de poder entre os dois generais que protagonizaram o golpe de Estado de 2021: o comandante do Exército, Abdel Fatah al Burhan, e o chefe das Forças de Apoio Rápido (FAR), general Mohamed Hamdan Daglo, conhecido como "Hemedti".
Neste domingo, o Exército regular e os paramilitares das FAR se enfrentavam com armas pesadas nos subúrbios do norte da capital, Cartum, e no sul da cidade, segundo testemunhas.
Ambos os lados anunciaram a abertura de corredores humanitários a partir das 11h (horário de Brasília), com duração de três horas, para retirar os feridos.
Sem água e sem luz, os moradores de Cartum estão há 24 horas entrincheirados em suas casas, enquanto combates com armas pesadas acontecem nas ruas.
"Os disparos e as explosões não param", disse Ahmed Hamid, de 34 anos, morador de um subúrbio do norte de Cartum.
Os combates se concentram na capital e em Darfur, a oeste do país.
De acordo com uma rede de médicos pró-democracia, 56 civis e "dezenas" de combatentes morreram, e mais de 600 pessoas ficaram feridas.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) anunciou a suspensão de suas operações no país após a morte, no sábado, de três funcionários que trabalhavam para esta agência especializada das Nações Unidas.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu por meio de seu porta-voz, que os responsáveis pela morte dos funcionários do PMA no Sudão sejam "levados à justiça rapidamente".
O chefe das Nações Unidas "condena firmemente" a morte de civis, entre eles a dos três agentes humanitários, destacou, em nota, seu porta-voz, Stéphane Dujarric.
"As instalações das Nações Unidas e outras organizações humanitárias também foram atingidas por projéteis e saques em vários locais de Darfur", lamentou.
- Rivalidade entre dois generais -
O conflito levava semanas sendo gestado, impedindo um acordo político em um dos países mais pobres do mundo. Desde a revolta popular que depôs Omar al Bashir, em 2019, o Sudão tenta realizar suas primeiras eleições livres após 30 anos de ditadura.
Durante o golpe de Estado que pôs fim à transição democrática, em outubro de 2021, o chefe do Exército, Abdel Fatah al Burhan, e o líder das FAR, general Mohamed Hamdan Daglo, aliás 'Hemedti', juntaram forças para expulsar os civis do poder.
Mas a rivalidade entre os dois generais levou à violência no sábado.
As duas partes se acusam mutuamente dos atos de violência e dizem controlar locais-chave da capital.
Daglo anunciou a ocupação do aeroporto internacional de Cartum e do palácio presidencial, mas o exército garante que continua controlando ambos.
- Apelos à calma -
A comunidade internacional fez apelos à calma e a Liga Árabe e a União Africana celebraram reuniões de emergência neste domingo.
No Cairo, os países árabes acordaram condenar a violência e pedir uma "solução política", enquanto a União Africana (UA) anunciou que o presidente da comissão, Mussa Faki Mahamat, viajará "imediatamente" ao Sudão para orientar ambas as partes no sentido de um cessar-fogo.
Países como China, Reino Unido, Rússia e membros da União Africana e da União Europeia pediram um cessar-fogo. E o papa Francisco fez um apelo à retomada do diálogo no país.
Por enquanto, porém, nenhum dos dois generais parece disposto a conversar.
"Burhan, o criminoso, deve se render", disse Hemedti em entrevista à rede dos Emirados Sky News Arabia.
O exército, por sua vez, publicou no Facebook um "alerta de busca" contra Hemedti.
"Este criminoso foragido é procurado pela Justiça", dizia a mensagem.
O Conselho de Segurança da ONU vai abordar a situação no país na segunda-feira, a portas fechadas, anteciparam à AFP fontes diplomáticas.
O último episódio de violência se soma à repressão das manifestações pró-democracia que abalaram o país nos últimos 18 meses e deixaram mais de 120 civis mortos.
A disputa entre os dois generais bloqueia a transição democrática, exigida pela comunidade internacional para retomar a ajuda ao Sudão, um dos países mais pobres do mundo.
Burhan, um soldado que ascendeu na carreira durante o governo do agora preso general islamita Bashir, assegurou que o golpe de 2021 foi "necessário" para incluir mais facções na política.
Daglo, por sua vez, qualificou o golpe de "erro" porque não conseguiu produzir mudanças e reativou alguns elementos do regime de Bashir, deposto pelo exército, em 2019, após protestos maciços.
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FONTE: Estado de Minas