Comitê faz alerta para risco de ‘privatização’ da bacia do São Francisco
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Mateus ParreirasEnviado especial a Ouro Preto
“A cada R$ 1 gasto na transposição das águas do Rio São Francisco, R$ 2 serão investidos em revitalização”. A promessa dos governantes que implantaram o sistema de captação e que nunca se concretizou e a degradação crescente do rio na integração nacional levaram o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) a se engajar na campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico”, que teve a sua nona edição lançada nesta quarta-feira (18/5), em Ouro Preto.
Voltando a ser feita de forma presencial após o controle dos casos de COVID-19 no Brasil, a campanha de 2022 tem o lema “O Rio São Francisco São Muitos”, que revela um objetivo ambicioso de quebrar uma barreira cultural.
Entidades assinam carta que pede rejeição ao PL do novo Marco Hídrico
“Uma bacia não se faz de uma única calha, mas de afluentes, nascentes e sobretudo de gente. Temos de trazer o pertencimento a áreas da bacia que não se veem como parte. O pertencimento é muito forte em alguns locais, como Aracaju, onde o abastecimento depende em 70% das águas do rio, mas o mesmo não ocorre em Belo Horizonte e Salvador que estão distantes do rio propriamente dito, mas fazem parte da bacia. Por isso queremos levar esse sentimento a esses lugares”, afirma o presidente do CBHSF, Maciel Oliveira.
As cidades que concentram a campanha e a disseminam regionalmente são Pirapora (Alto São Francisco), Ibotirama (BA – Médio SF), Glória (BA – Submédio SF) e Gararu (SE – Baixo SF).
O comitê também alerta para o risco de mudança da legislação que instituiu a política hídrica nacional, a lei 9.433, por meio do Projeto de Lei PL 4.546. “Esse projeto põe em risco todas as bacias e principalmente a do São Francisco. “A lei-9.433 foi uma conquista e que foi discutida pela sociedade. A nova redação proposta centraliza no estado o poder que era da bacia, pois o povo e os usuários conhecem melhor a bacia. A água é um bem limitado e dotado de valor econômico. Nessa nova redação estão querendo privatizar e fazer um comércio das águas”, criticou Oliveira.
Caso o projeto seja aprovado no Congresso e sancionado, os comitês passarão a não ter mais como aprovar os planos de gestão de recursos hídricos. “Isso seria delegado às mãos do poder público, que é chapa branca e não conhece a bacia tão bem como quem está lá. Isso traria também a judicialização de conflitos que não existem hoje por causa do comitê. As leis estaduais terão de mudar. Será um desmonte”, resumiu o presidente do CBHSF.
Governo envia ao Congresso texto que institui Política de Infraestrutura hídrica
'Novo marco hídrico'
O projeto de lei institui a Política Nacional de Infraestrutura Hídrica, dispõe sobre a organização da exploração e da prestação dos serviços hídricos e altera a Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, e a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000.
A proposta que tramita na Câmara dos Deputados vem sendo chamada pelo governo de “novo marco hídrico”.
De acordo com o governo, o projeto favorece o gerenciamento eficiente da água no Brasil, principalmente em bacias críticas. Também ampliaria a participação da iniciativa privada no financiamento e exploração das infraestruturas hídricas, como barragens e canais de água para usos múltiplos.
O Poder Executivo alega que o setor vai demandar investimentos de R$ 40 bilhões até 2050, o que não seria viável apenas com recursos públicos. Por isso, segundo o governo, seria necessário atrair a iniciativa privada.
O momento foi também de lançamento da Expedição Científica, que este ano se amplia e chega ao Submédio São Francisco, e o Simpósio da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, que reunirá cientistas e acadêmicos da bacia para o debate e a busca de soluções para os problemas que afetam o manancial da integração nacional.
A bacia do São Francisco abrange 8% do território brasileiro em 505 municípios, passando pelos estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. A transposição é um projeto que liga os estados do Ceará, da Paraíba e do Rio Grande do Norte. São 18 milhões de pessoas que dependem das águas da bacia.
FONTE: Estado de Minas