Cresce número de internações por atropelamento em Minas
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Na Avenida Presidente Antônio Carlos, em frente ao Hospital Belo Horizonte, na Região Nordeste, uma mulher, de 32 anos, foi atropelada, na manhã de ontem (14/9), por um ônibus do transporte público da capital. Na mesma manhã, uma mulher, de 50 anos, foi atropelada depois que um carro, que estava estacionado, perdeu os freios, desceu a via desgovernado e sem condutor, no Bairro Tupi A, na Região Norte.
A série de ocorrências tem aumentado de maneira assustadora o número de internações de pedestres por atropelamento em Minas Gerais, chegando a uma alta de quase 12% no comparativo com o primeiro semestre de 2022, conforme levantamento feito pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). Especialistas em segurança no trânsito sinalizam erros de pedestres, motoristas e de sinalização das vias. Eles também defendem que, além de fiscalização, o poder público deve investir em educação no trânsito.
Os dois elos dessa cadeia (motorista e pedestre) dividem a responsabilidade pelos acidentes, especialmente no caso de atropelamentos, e ainda há um somatório de imprudência e impaciência no trânsito. “São fatores determinantes para que esses acidentes aconteçam, seja no desrespeito às normas de trânsito, avanço de sinal, falhas de atenção ao conduzir e atravessar as ruas. Historicamente, os acidentes de trânsito respondem por uma ocupação de 60% dos leitos de UTI e 50% das cirurgias do SUS. É um número bem alto”, alerta Alysson Coimbra, médico especialista em medicina do tráfego e diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra).
RANKING Em Minas, 2.457 pedestres precisaram ser internados no Sistema Único de Saúde (SUS) no primeiro semestre de 2023, um aumento de 11,7% na comparação com o mesmo período do ano passado. O estado ocupa a terceira posição no ranking nacional, atrás apenas de Goiás (6.402) e São Paulo (3.077). O saldo de acidentes de trânsito no estado subiu de 3.856, entre janeiro e julho deste ano, para 3.957 no mesmo período de 2022, segundo dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).
Desatenção e pressa fazem parte da parcela de responsabilidade dos pedestres. É comum flagrar pessoas atravessando fora da faixa ou da passarela, mesmo quando a travessia segura está há poucos metros de distância, e se arriscando com sinal aberto para os veículos, ansiedade que pode acabar custando a vida. “O elo mais vulnerável (pedestre) se priva de usar todos os sentidos em um momento mais crítico e também tem o prejuízo da atenção dividida, assim como o motorista. É o mesmo cenário, porém o pedestre não tem o arcabouço de proteção que o veículo oferece”, ressalta o especialista.
Mais de um terço dos atropelamentos em Belo Horizonte envolvem motocicletas, sendo que o veículo representa cerca de 13% dos que estão em circulação, dependendo da via da cidade, conforme aponta a diretora e coordenadora de segurança no trânsito da BHTrans, Jussara Bellavinha. “É muito desigual o peso de um veículo qualquer, até moto, em relação ao pedestre”, declara. As estatísticas reforçam a necessidade de mais respeito no tráfego: 131 pessoas morreram em acidentes de trânsito em BH no ano passado, enquanto outras 14.364 estiveram envolvidas em ocorrências de atropelamento. Só em 2023, 22 pessoas morreram atropeladas, segundo a Sejusp.
CELULAR Entre os principais desafios para reduzir os números, está o celular, reconhece a diretora da BHTrans. O departamento não tem dados que associam a incidência de casos de atropelamentos ao uso do telefone, mas sinaliza o hábito como um fator significativo e de risco, que diminui a atenção. “São dois fatores novos, que temos até campanha voltada para isso”, disse. Um cálculo feito pela Abramet concluiu que a pessoa demora até quatro segundos para pegar o telefone e mais cinco segundos para discar o número, o que equivale a 125 metros de distância de distração em uma velocidade de 50 quilômetros por hora.
Ainda que a maior parte dos sinistros de trânsito estejam relacionados ao fator humano, especialistas não isentam o papel do poder público na resolução desses problemas. Áreas com maior fluxo de pedestres e de veículos, onde reconhecidamente acidentes são mais constantes, demandam atenção. É o caso da pista do Move na Avenida Antônio Carlos, Região da Pampulha, onde uma mulher de 32 anos foi atropelada na manhã de ontem (14/9), segundo Coimbra. “Temos que ter três coisas: educação, do condutor e do pedestre; fiscalização, até mesmo para proibir essas travessias inseguras; e a engenharia de tráfego, para reavaliação da existência e da suficiência de pontos de travessia segura”, analisa.
A BHTrans destaca ações educativas de trânsito em instituições de ensino, especialmente com o público infantil, como blitz e jogos interativos para conscientizar a população sobre comportamentos seguros e a responsabilidade individual na segurança. Também há campanhas e blitz com condutores e pedestres nas ruas. Além do trabalho educativo, a diretora da BHTrans ressalta outras iniciativas, como revisão de programação semafórica, implantação de semáforos, implantação de foco de pedestre e quebra-molas nas vias. “Nós temos tido resultados. Infelizmente, não é o que a gente gostaria”, disse em entrevista à reportagem do Estado de Minas. “Tivemos redução de 56% na década 2011 e 2020, impactado também pela baixa circulação de pessoas durante a pandemia. O número voltou a crescer no ano passado, mas não chegou ao patamar anterior à pandemia.”
FONTE: Estado de Minas