De olho no sistema bancário, BID realiza assembleia no Panamá
O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) abre, nesta quinta-feira (16), sua assembleia anual no Panamá, com uma agenda focada na luta contra a pobreza e as mudanças climáticas, mas com os olhos voltados para o sistema bancário, em meio às turbulências no setor nos Estados Unidos e na Europa.
A assembleia reunirá os titulares das Finanças do continente, dias depois da quebra do Silicon Valley Bank e de outros dois bancos nos Estados Unidos, e em plena crise envolvendo o Credit Suisse na Suíça.
"Um tema (que os governadores dos 48 países do BID devem discutir em suas sessões fechadas de sábado e domingo) é verificar se a regulação bancária está bem estabelecida e se os bancos a estão cumprindo", disse à AFP o economista e acadêmico Guillermo Larraín, ex-superintendente de Valores e Seguros do Chile.
O novo presidente do BID, o brasileiro Ilan Goldfajn, indicou nesta quarta (15), em entrevista coletiva após desembarcar no Panamá, que os governadores irão falar sobre "a conjuntura".
Criado em 1959 e com sede em Washington, o BID é uma das principais fontes de financiamento a longo prazo para a América Latina e o Caribe. Contudo, Goldfajn afirmou que a quantidade de crédito que a instituição concede não é relevante, nem quanto dinheiro ela empresta. "O que é primordial é o impacto de desenvolvimento tangível e mensurável", declarou ao assumir o cargo, em 12 de janeiro.
Goldfajn disse hoje que a região deve "resolver o desafio" de como atender "a muitas demandas sociais com poucos recursos", e ressaltou que essa questão será tratada na assembleia.
"Os cidadãos querem melhores índices, menos pobreza, mais igualdade, mais educação, mais saúde", mas "os países têm recursos limitados. Seja por conta de dívidas, déficit fiscal, o orçamento nunca é infinito. Então, é preciso criar os recursos, mas, para isso, é preciso crescimento", apontou.
Goldfajn assumiu as rédeas do banco após um período conflituoso sob a gestão polêmica de seu antecessor, o americano Mauricio Claver-Carone, que foi destituído.
- 'Situação em desenvolvimento' -
A assembleia começa cinco dias depois que os reguladores financeiros dos Estados Unidos assumiram o controle do Silicon Valley Bank (SVB) da Califórnia, após uma onda de saques maciços de clientes, que o levou à falência. Dias depois, houve intervenção no Signature Bank, com sede em Nova York.
Autoridades americanas anunciaram medidas radicais para proteger os depósitos bancários, mas não conseguiram dissipar todos os temores, o que afetou as bolsas ao redor do mundo nesta semana.
"Acredito que seja uma situação em desenvolvimento, que, a princípio, está bem encaminhada, mas que está em desenvolvimento", considerou Larraín, que também foi presidente do Banco Estado no Chile. "O que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) tenta fazer, e os reguladores estaduais, é criar condições para evitar uma crise de pânico dos correntistas. Isso é algo sobre o qual há um certo grau de controle, mas não é total", acrescentou.
- Momento complicado -
As turbulências no sistema bancário dos Estados Unidos chegam em um momento complicado para a América Latina e o Caribe.
A dívida total da região chega a 5,8 trilhões de dólares, equivalente a 117% do PIB regional. Em 2008, esse valor era inferior a 3 trilhões, revelou o BID, que considera preocupante essa tendência.
Goldfajn ressaltou que, nas últimas duas décadas, a região cresceu 12 vezes menos do que os países asiáticos emergentes. Além disso, nos cinco anos anteriores à pandemia, suas economias retraíram, enquanto praticamente todas as demais registravam crescimento.
Goldfajn também advertiu que a pandemia piorou as coisas, dobrando o déficit fiscal e fazendo a dívida pública disparar. E, agora, o ambiente financeiro internacional exerce mais pressão sobre a América Latina e o Caribe, onde a inflação disparou.
- Primeira reunião presencial desde 2019 -
Nesta quinta e sexta-feira, a agenda da assembleia traz seminários com especialistas sobre segurança alimentar, investimentos sociais para reduzir a pobreza, infraestrutura para o desenvolvimento, parceria público-privada, proteção da biodiversidade e mudanças climáticas.
Essa será a primeira assembleia presencial do BID desde 2019, devido à pandemia. O Panamá também sediou o encontro em 1964, 1983 e 2013.
O Grupo BID é composto pelo banco em si; o BID Invest, que colabora com setor privado; e o BID Lab, que experimenta formas inovadoras de promover um crescimento mais inclusivo.
Os três principais acionistas do banco - Brasil, Estados Unidos e Argentina - possuem, juntos, quase 53% dos direitos de voto na instituição.
CREDIT SUISSE GROUP
FONTE: Estado de Minas