‘Dinheiro fácil’ adapta história real em conto divertido e satisfatório de desforra contra Wall Street; g1 já viu

19 out 2023
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Filme retrata episódio de 2021, quando pequenos investidores compraram milhões de ações da GameStop e custaram bilhões a fundos de investimento. Obra é exibido a partir desta quinta (19) na Mostra de SP. Com uma narrativa ágil e um elenco carismático, "Dinheiro fácil" faz jus à história real fantástica na qual se baseia para apresentar um conto divertido (e muito satisfatório) de desforra contra os endinheirados de Wall Street.

O filme, que passa a ser exibido a partir desta quinta-feira (19) na Mostra de SP e estreia em 2 de novembro nos cinemas brasileiros, até precisaria se esforçar muito para estragar sua trama – daquelas fantásticas demais para acreditar.

O maior mérito de "Dinheiro fácil" é fazer parecer, bem, fácil.

Afinal, não é difícil cair nas inúmeras armadilhas dos pormenores do mercado de ações, um mistério para a maioria, sem apelar para o professoral ou discursos entediantes.

No fim, mais do que apresentar o episódio para quem não conhece, o filme serve como um crescendo descontraído de absurdos até a inevitável catarse.

Veja o trailer de 'Dinheiro fácil'

Esqueça o 'short squeeze'

"Dinheiro fácil" se baseia no livro "A rede antissocial: o short squeeze da GameStop e o grupo desordeiro de traders amadores que desarmou Wall Street", de Ben Mezrich.

Como o título já deixa mais ou menos claro (pelo menos para quem sabe o que é "short squeeze"), se trata do episódio real de 2021, quando milhares de pequenos investidores – pessoas comuns, com trabalhos variados e hipotecas – se juntaram para comprar milhões de ações de uma rede de lojas de games, a GameStop.

O que por sua vez fez o valor da empresa disparar no mercado, e causou bilhões de dólares em prejuízos para fundos de investimento que haviam apostado em sua quebra iminente – e, para todos os efeitos, certeira.

O roteiro escrito por Lauren Schuker Blum e Rebecca Angelo (que trabalharam juntas em "Orange is the new black") desde o começo se mostra menos interessado no que seria um "short squeeze" e aposta no lado humano.

Nick Offerman e Seth Rogen em cena de 'Dinheiro fácil'

Divulgação

Afinal, poucas coisas são mais relacionáveis do que a vontade de ganhar um dinheiro extra, a ganância dos envolvidos no mercado de ações ou, especialmente, o desejo de fazer um sistema que parece viciado para sempre beneficiar os poderosos quebrar, pelo menos uma vez.

Pode não ser necessariamente o que aconteceu de verdade – mas nem precisa. Se nem documentários na verdade precisam de isenção (algo que muita gente confunde), o único compromisso primordial em um filme como esse é com o entretenimento.

Objetivo esse que, com a ajuda da mão leve do diretor especializado em histórias reais Craig Gillespie ("Eu, Tonya") e uma trilha sonora afiada, "Dinheiro fácil" consegue com tranquilidade.

Paul 'cara comum' Dano

Outro acerto é, assim como no livro, contar a história a partir do ponto de vista dos envolvidos. A maior parte deles, os tais pequenos investidores que arriscaram suas economias durante a pandemia e que depois – seja por lucro um lucro maior ou pela desforra mesmo – se recusaram a vender as ações.

No centro deles, o youtuber que de certa forma iniciou o movimento. Com ele, Paul Dano ("Batman"), um dos grandes atores de sua geração, prova que merece receber mais papéis de "pessoas comuns".

Shailene Woodley e Paul Dano em cena de 'Dinheiro fácil'

Divulgação

Após anos como maníacos malucos (o jovem de "Sangue Negro", o suspeito de "Os suspeitos", o Charada incel), ele já mostrava que podia brilhar mesmo como um cara qualquer em "Os Fabelmans" (2022) – no qual, inclusive, merecia mais atenção.

Mas em "Dinheiro fácil", Dano se sustenta como a alma e o coração. Sem ele, seria fácil desprezar o pai meio abobado que grava vídeos na internet com memes de gatinhos e dicas de investimento no porão de casa. O ator faz de seu magnetismo algo inquestionável.

Ao lado de Pete Davidson ("Saturday Night Live"), que repete de forma competente seu único personagem drogado e maluquinho, Dano é a grande âncora emocional. E sua importância fica maior com a falta de peso dos demais investidores.

Uma enfermeira endividada (America Ferrera), um funcionário da própria GameStop (Anthony Ramos), duas universitárias (Myha'la Herrold e Talia Ryder). Todos fundamentais à trama, mas explorados tão de passagem que parecem apenas personagens em uma reportagem.

Vincent D'Onofrio em cena de 'Dinheiro fácil'

Divulgação

O outro lado

Do outro lado, Seth Rogen (mais um de "Os Fabelmans"), Nick Offerman ("Parks & Recreation"), Vincent D'Onofrio ("Demolidor") e Sebastian Stan ("Falcão e o Soldado Invernal") têm uma vida mais fácil como os bilionários que todos amam odiar.

Todos estão ótimos, claro, mas há de se concordar que não é lá tão difícil torcer contra um bando de homens que agem como se mandassem no mundo (até porque, em muitos níveis, de certa forma controlam, sim).

Sem eles, no entanto, "Dinheiro fácil" não teria o mesmo efeito. Alguém que exagerasse no drama ou na caricatura (algo que Stan, de longe o mais fraco dos quatro atores, chega perigosamente perto) poderia pôr tudo a perder.

É inevitável não comparar o filme com "A grande aposta" (2015), que retratou (e explicou, com uma Margot Robbie na banheira) a grande crise imobiliária americana dos anos 2000.

Mas, sem tanto interesse nos detalhes e com uma história mais reconfortante, "Dinheiro fácil" consegue se sustentar nos próprios méritos.

Em uma sessão dupla, a recomendação é que a produção mais nova fique para depois, para tirar o gosto ruim da boca com um pouco da boa e velha catarse.


FONTE: G1 Globo


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