Distúrbios marcam atos na França contra Macron, firme sobre reforma da Previdência

23 mar 2023
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O nono dia de protestos na França contra a reforma da Previdência, imposta pelo presidente Emmanuel Macron, voltou a mobilizar mais de um milhão de pessoas e se encerrou com distúrbios que deixaram 80 detidos e 123 policiais feridos.

A decisão de Macron de impor por decreto o adiamento da idade da aposentadoria de 62 para 64 anos até 2030 recrudesceu, há uma semana, a contestação, que entrou na nona fase com protestos espontâneos toda noite.

O ministro do Interior, Gérard Darmanin, anunciou, na noite desta quinta-feira (23), 80 detenções e 123 policiais feridos, enquanto os distúrbios continuavam e se espalhavam pelo centro de Paris.

"A responsabilidade da situação explosiva não recai nas organizações sindicais, mas no governo", alertaram os sindicatos, que convocaram novas mobilizações para a próxima terça-feira.

O novo dia de protestos vai coincidir com a visita do rei Charles III, da Inglaterra, a Bordeaux (sudoeste), onde os distúrbios provocaram na noite desta quinta um incêndio na fachada da Prefeitura, segundo a imprensa local.

Os sindicatos já tinham alertado Macron por carta sobre a explosiva situação do país.

O líder da central sindical CGT, Philippe Martínez, acusou o presidente nesta quinta de "jogar um tanque de gasolina ao fogo" com sua polêmica entrevista na quarta-feira.

Na ocasião, o presidente disse assumir a "impopularidade" de uma reforma que quer pôr em vigor "até o fim do ano", pelo "interesse geral" e atacou os sindicatos e os manifestantes mais radicais, que classificou como "subversivos".

Os cartazes contra a reforma dos primeiros protestos deram lugar a críticas ao presidente. "Macron, você perdeu a cabeça?", perguntava um cartaz em Paris, acompanhado do desenho de uma guilhotina.

O presidente da central sindical CFDT, Laurent Berger, pediu "ações não violentas" para não perder o apoio da opinião pública. No entanto, 70% dos franceses responsabilizam o governo pela violência, segundo uma pesquisa realizada nesta quinta pelo instituto Odoxa.

"Manifestar e expressa desavenças é um direito. A violência e os danos que vimos hoje são inaceitáveis", tuitou a primeira-ministra Élisabeth Borne, que expressou seu "reconhecimento às forças de segurança" mobilizadas.

- Leque de ações -

O governo, inflexível e ansioso para deixar para trás rapidamente o conflito social, esforça-se em se manter firme diante de uma oposição - política, sindical e popular - disposta a endurecer a queda de braço.

O governo está sob pressão ao adotar sua reforma sem o voto do Parlamento, temendo perder a votação, e contra a opinião de todos os sindicatos e de dois a cada três franceses, segundo pesquisas de opinião.

As marchas desta quinta se anunciavam cruciais para mostrar se os sindicatos serão capazes de manter viva a mobilização contra a reforma, que aguarda a aprovação final do Conselho Constitucional.

Os sindicatos têm sido a base da contestação desde janeiro e em 7 de março conseguiram mobilizar entre 1,28 milhão e 3,5 milhões de pessoas - segundo números da polícia e do CGT, respectivamente - nos maiores protestos contra uma reforma social em três décadas.

Nesta quinta, entre 1,089 milhão e 3,5 milhões de pessoas, segundo o Ministério do Interior e o CGT respectivamente, participaram dos protestos, que registraram um recorde em Paris com entre 119.000 e 800.000 manifestantes, segundo as mesmas fontes.

Com esta reforma, Macron enfrenta a maior crise de seu segundo mandato e aposta em poder aplicar seu programa reformista, depois de um primeiro mandato marcado por crises: protesto social dos 'coletes amarelos', pandemia, guerra na Ucrânia.

O governo espera que a mobilização arrefeça e tudo volte à normalidade "no fim de semana", mas os sindicatos já convocaram novas manifestações para o sábado e o domingo, antes da mobilização de terça.

As greves provocaram fortes distúrbios nesta quinta no transporte público parisiense e o cancelamento da metade dos trens de alta velocidade, o fechamento de escolas, o bloqueio de colégios e universidades, e o fechamento de monumentos como a Torre Eiffel.

Diante dos bloqueios que duram dias em depósitos e refinarias, o governo ordenou a volta ao trabalho de alguns grevistas para amenizar a falta de combustível em 15% dos postos de gasolina e a "crítica" situação do fornecimento de querosene nos aeroportos de Paris.

A capital segue com milhares de toneladas de lixo acumuladas nas ruas, dias antes da chegada do rei Charles III, que manteve sua viagem à França. Há, ainda, interrupções pontuais de estradas e o bloqueio de portos se propagam pelo país, entre outras ações.


FONTE: Estado de Minas


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