Dois aliados de Petro deixam governo colombiano após escândalo de escutas ilegais
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou nesta sexta-feira (2) a saída do governo de Laura Sarabia, sua chefe de gabinete, e do embaixador na Venezuela, Armando Benedetti, ambos próximos do presidente e alvos de um escândalo de escutas telefônicas ilegais, conspiração e chantagem.
Depois que uma pasta com milhares de dólares foi roubada da casa de Sarabia, sua babá acabou sendo interrogada com um polígrafo na residência presidencial e suas conversas telefônicas foram interceptadas com um falso relatório policial que a ligava a traficantes de drogas do Clã del Golfo, segundo o Ministério Público (MP).
Benedetti, um poderoso político que apoiou Petro na campanha e servia como embaixador na Venezuela, apresentou o presidente a Laura Sarabia e viu-se envolvido na história, em uma reviravolta inesperada que deixa mais perguntas do que respostas. Os ex-funcionários compartilharam a mesma babá e se acusam de chantagem, trapaça e conspiração.
"Enquanto a investigação está sendo realizada, minha funcionária querida e o embaixador na Venezuela estão se retirando do governo para que, pelo poder que essas acusações implicam, não possam sequer ter a desconfiança de que os processos de investigação serão alterados", declarou Petro durante uma cerimônia de promoção para oficiais do Exército.
"Este governo respeita os direitos humanos, não coloca escutas ilegalmente nos telefones" de ninguém, repetiu insistentemente durante seu discurso.
- Popularidade atingida -
O autodenominado "governo da mudança" foi criticado por recorrer a velhas práticas políticas.
As escutas telefônicas ilegais marcaram a história polarizada da Colômbia em meio ao prolongado conflito armado. Petro, junto com alguns de seus ministros de esquerda, já foram vítimas dessa espionagem.
"Não pode haver dúvida de que este governo vai repetir a sujeira que outros governos fizeram", disse o presidente.
Antes de assumirem seus cargos, Petro e o ministro da Defesa, Iván Velásquez, foram reconhecidos como vítimas das escutas telefônicas ilegais colocadas em prática pelo Departamento Administrativo de Segurança (DAS), extinto em 2011.
O DAS, que respondia diretamente à Presidência, esteve envolvido no governo de direita de Álvaro Uribe (2002-2010) em um escândalo de escutas telefônicas ilegais de magistrados da Suprema Corte, opositores e jornalistas.
No poder desde agosto, o primeiro governo de esquerda da história da Colômbia acumula reveses que têm prejudicado sua popularidade. Segundo pesquisa da Invamer divulgada nesta sexta-feira, a aprovação de sua gestão passou de 50% em novembro para 34% em maio.
Petro renovou sete ministros em abril, rompendo com os partidos tradicionais e virando-se para a esquerda, em meio aos obstáculos que suas reformas enfrentam para se tornar realidade no Congresso.
- A babá -
A cuidadora Marelbys Meza foi babá dos filhos de Benedetti até junho de 2022, quando foi demitida sob suspeita de roubar milhares de dólares após um teste de polígrafo que detectou mentiras em sua explicação, segundo o ex-embaixador.
Sarabia a contratou em agosto de 2022, após consultar Benedetti, segundo o próprio diplomata.
Em 30 de janeiro, a babá foi submetida a um segundo teste de polígrafo por suspeita de outro roubo, desta vez na casa de Sarabia e no valor de US$ 7 mil (R$ 35,6 mil na cotação da época), segundo seu ex-chefe de gabinete.
Meza disse à mídia local que foi levada a um porão anexo à residência presiencial, onde durante quatro horas foi questionada sobre o roubo da pasta. "Me senti sequestrada, atordoada, afogada", disse ela numa entrevista que incendiou as redes sociais e foi a ponta do icebergue de um escândalo que acabou envolvendo o governo.
"Com o uso de um relatório falso", os telefones da babá e de uma empregada de Sarabia foram interceptados por suspeita de as duas serem aliadas do Clã del Golfo, a maior organização de tráfico de drogas do país, segundo o MP.
Segundo informações da imprensa, Sarabia acusa Benedetti de armar contra ela e chantageá-la com a não publicação da entrevista da babá em troca de um ministério.
O diplomata, que levou Meza em um voo privado para Caracas onde a babá permaneceu por vários dias, diz que estava tentando ajudar Sarabia e é ela quem "está manipulando a informação e essa cortina de fumaça que não justifica o abuso de poder, sequestro e intimidação", de acordo com uma mensagem em sua conta no Twitter.
FONTE: Estado de Minas