Dois generais disputam poder no Sudão

17 abr 2023
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O primeiro representa o poder militar no Sudão, enquanto o segundo lidera um grupo de milícias que se formou em Darfur. Outrora amigos, os generais Abdel Fatah al Burhan e Mohamed Hamdan Daglo agora se enfrentam pelo controle do país.

Al Burhan é o dirigente de fato do Sudão desde o golpe de Estado de outubro de 2021. Nascido em Gandatu, um povoado situado no norte de Cartum, o general de 62 anos se tornou uma das poucas figuras geradoras de consenso para liderar o país.

Ex-comandante do Exército sob o ditador deposto Omar al Bashir, Al Burhan pensava contar com a lealdade de seu vice, general Mohamed Hamdan Daglo, também conhecido como "Hemedti".

Ambos protagonizaram o golpe que pôs fim à transição do Sudão para um governo civil. Mas os dois lados estão travando combates ferozes, que já mataram mais de 100 civis, e se acusam mutuamente da violência.

Al Burhan é acusado por seus adversários de ser um cavalo de Troia dos islâmicos e chefes da época de Al Bashir, que governou o país com mão de ferro por 30 anos.

Após a queda de Al Bashir em 2019, Al Burhan dirigiu o Conselho Soberano junto com partidos políticos civis para levar o país rumo à democracia. Antes do golpe, porém, o general, que passou pelas academias militares do Sudão, do Egito e da Jordânia, prendeu quase todos os ministros e autoridades civis.

Seus homens descrevem-no como "um comandante que sabe liderar suas tropas", disse um oficial à AFP à época do golpe.

O general, pai de três filhos, coordenou o envio de tropas sudanesas para o Iêmen, segundo a imprensa local. Também impulsionou a normalização das relações com Israel e mantém bons vínculos com o Egito.

- De Darfur a Cartum -

No Golfo, porém, muitos observadores apontam que Daglo, seu agora inimigo, conseguiu se impor mais.

Nascido em 1975 em uma tribo árabe na fronteira com o Chade, Daglo conseguiu criar aliados nos Emirados Árabes Unidos e na Arábia Saudita depois de enviar seus homens para lutar na Líbia, ou na coalizão militar liderada por Riade no Iêmen.

Hoje, conta com uma vantagem de peso. Suas Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), criadas em 2013 e integradas ao Exército regular, controlam inúmeras minas de ouro, lembra o European Council on Foreign Relations. E, de acordo com os Estados Unidos, contam com o apoio dos paramilitares russos do grupo Wagner.

Ao longo dos anos, Hemedti se estabeleceu como um jogador-chave no país.

No início dos anos 2000, ele era apenas o chefe de uma pequena milícia do Oeste. Depois, no entanto, de inúmeras batalhas, incursões e outras atrocidades que renderam ao ditador Al Bashir acusações de crimes de guerra, o general conseguiu se estabelecer no topo do poder.

Daglo liderou as milícias Janjawid, as quais Al Bashir ordenou que implementassem a política de terra arrasada contra as minorias étnicas não árabes em Darfur, em 2003.

Na época, "ele era visto pela elite de Cartum como um criminoso novato e analfabeto que foi armado apenas para fazer o trabalho sujo da guerra de Darfur", disse à AFP Alan Bosweel, pesquisador do International Crisis Group.

Centenas de milhares de mortes depois, Hemedti conseguiu estender sua esfera de influência dessa região, onde ainda mantém seu quartel-general, até Cartum. Integrados à RSF, seus homens agora tentam tomar o poder do Exército.

Durante o golpe de 2021, Daglo ofereceu sua ajuda a Al-Burhan, mas hoje diz que mudou e se alinha com os civis para denunciar o Exército.


FONTE: Estado de Minas


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