Esquerda surpreende e pode manter Pedro Sánchez no poder da Espanha
Desafiando todas as previsões, os socialistas do presidente Pedro Sánchez perderam por pouco para os conservadores nas eleições legislativas deste domingo (23) na Espanha, mas têm a possibilidade de renovar seu mandato com o apoio de outros partidos.
Com praticamente 100% dos votos apurados, o conservador Partido Popular (PP) de Alberto Núñez Feijóo elegeu 136 deputados, enquanto o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), de esquerda, obteve 122. Seus aliados potenciais, o partido de extrema-direita Vox e o de esquerda radical Sumar, obtiveram respectivamente 33 e 31 cadeiras.
"O bloco reacionário do Partido Popular com o Vox foi derrotado", afirmou Sánchez para milhares de apoiadores reunidos em frente à sede do PSOE em Madri.
"Somos em maioria, os que querem que a Espanha avance, e assim continuará", acrescentou.
O bloco de direita PP+Vox totaliza 169 deputados, enquanto o bloco de esquerda PSOE-Sumar tem 153, mas este último tem mais chances de obter o apoio dos nacionalistas bascos, catalães e outros partidos minoritários para alcançar os 176 votos necessários para a maioria absoluta no Congresso e conseguir a investidura.
Muitos desses partidos anunciaram que nunca votariam em um governo que incluísse a extrema-direita.
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"É uma surpresa", confirmou à AFP Antonio Barroso, analista da consultoria Teneo. "O desafio de Sánchez é encontrar uma maioria, tudo depende de um ou dois assentos", acrescentou.
A sorte de Sánchez
Pedro Sánchez, de 51 anos, cinco deles no poder, confirma desta forma sua reputação como um homem de sorte e valida sua aposta arriscada de antecipar as eleições gerais após o fracasso nas eleições municipais de maio.
Nada adiantou para Feijóo melhorar em 47 assentos os resultados do PP nas eleições de 2019.
Presumivelmente, a partir desta segunda-feira, as negociações entre os diferentes partidos para formar um governo começarão e, em um mês, o Parlamento será constituído.
"Poderemos inclinar a balança", disse o deputado catalão independentista Gabriel Rufián, cujo partido ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) obteve 7 assentos, e que antecipou que pediria um referendo de independência em troca de seu apoio a Sánchez.
"Nossos votos serão decisivos mais uma vez", concordou Andoni Ortuzar, do Partido Nacionalista Basco (PNV), que conquistou cinco assentos.
Medo do Vox mobiliza esquerda
Uma vez constituído o Parlamento, o rei Felipe VI receberá representantes das diferentes forças parlamentares e proporá um candidato para a investidura, que deverá contar com o apoio da maioria absoluta do Congresso dos Deputados, em uma primeira votação, ou da maioria simples na votação seguinte.
Se, no final, não houver uma maioria viável, nem de direita nem de esquerda, o país se verá forçado a novas eleições dentro de alguns meses.
Quase todas as pesquisas davam uma vitória significativa para Feijóo, e a única questão era se ele precisaria da extrema direita, o que representaria o retorno de um partido dessa tendência ao governo espanhol pela primeira vez desde o fim da ditadura franquista em 1975.
Aproximadamente 37,5 milhões de eleitores foram chamados para renovar por mais quatro anos os 350 membros do Congresso dos Deputados e eleger 208 senadores.
Em um dia de muito calor no auge do verão, a participação foi de 70%, superior a 2019 (66,23%). Principalmente devido às férias, 2,5 milhões de pessoas votaram por correio, um número recorde.
Alívio na esquerda europeia
A sobrevivência dos socialistas espanhóis é um alívio para a esquerda europeia, que já perdeu a Itália no ano passado e agora governa apenas em meia dúzia dos 27 países membros da União Europeia (UE). A Espanha ocupa atualmente a presidência semestral da UE.
Um fator mobilizador para a esquerda nessas eleições foi o medo de que a extrema direita entrasse em uma coalizão de governo, especialmente depois que PP e Vox firmaram acordos em várias prefeituras e governos regionais.
Sánchez enfatizou que tal aliança seria "um retrocesso para a Espanha" e mal visto na Europa, enquanto a líder do Sumar, Yolanda Díaz, disse neste domingo à noite que "as pessoas vão dormir mais tranquilas".
"O Partido Popular perdeu apoio com os últimos movimentos de campanha, enquanto, ao mesmo tempo, o Partido Socialista conseguiu mobilizar seu eleitorado", afirmou Giselle García Hípola, professora de Ciências Políticas na Universidade de Granada.
FONTE: Estado de Minas