Estudante trans denuncia que foi impedida de usar banheiro feminino em hospital de Viçosa

11 ago 2023
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Hospital São João Batista disse que 'repudia ato de discriminação e reafirma compromisso com a igualdade e o cuidado a todas as pessoas'. Caso foi registrado na quarta-feira (9). Vivian Viana, estudante de direito da UFV, denuncia ter sido vítima de transfobia em hospital

Reprodução/TV Integração

Uma paciente trans, de 21 anos, alega ter sido vítima de transfobia ao ser repreendida por um médico quando tentava usar o banheiro feminino do Hospital São João Batista em Viçosa. A jovem registrou um Boletim de Ocorrência na quinta-feira (10), um dia após o ocorrido, e o caso é investigado pela Polícia Civil.

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Em entrevista à TV Integração, Vivian Viana, que é estudante de direito na Universidade Federal de Viçosa (UFV), disse que procurou atendimento por causa de uma crise de asma na madrugada de quarta-feira (9). Conforme ela, durante a consulta, o médico fez perguntas que não tinham relação com a doença.

"Ele me perguntou se o nome que estava no prontuário era o meu nome de batismo. E isso já não é uma pergunta padrão, né? De um médico. Se o nome está no prontuário, com certeza eu gostaria de ser chamada por aquele nome até porque aquele nome me pertence", disse.

"A gente pensa que na rua é o lugar mais perigoso, mas eu fui sofrer [transfobia] em lugar de acolhimento. Ele tirou toda a minha força naquele momento que ele deveria cuidar de mim como profissional médico".

A unidade de saúde disse estar ciente e repudiou a situação, que "não reflete os valores do corpo clínico da unidade". Conforme nota enviada ao g1, um procedimento administrativo vai apurar o ocorrido. Confira o posicionamento completo mais abaixo.

Negativa para uso do banheiro

Após a consulta, a jovem foi encaminhada para a sala de medicação e, enquanto tomava soro na veia, precisou ir ao banheiro.

No entanto, o médico teria a impedido de entrar alegando que era uma norma do hospital e que já havia sido demitido de outro lugar por ter autorizado uma pessoa a usar o banheiro feminino.

"Aí eu peguei e falei com ele para ficar com o meu e-mail e meu telefone porque, se por ventura ele fosse demitido, eu faria questão de contratar um advogado para defendê-lo. Por fim, ele queria eu assinasse um termo e eu falei que só assinaria se pudesse tirar uma foto, o que foi negado".

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Diante da situação, Vivian afirmou que iria usar o banheiro e entrou no local. Ao sair, percebeu que o médico estava do lado de fora, e por isso, começou a gravar.

"Ele começou a caminhar em direção a um corredor falando que existia um terceiro banheiro para pessoas como a mim. Eu respondi que não precisava, sendo que tinha um banheiro feminino perto do local onde eu estava e que eu não iria me deslocar porque o hospital não quer que eu use o banheiro que eu tenho o costume de usar."

Segundo a paciente, o médico teria a examinado novamente: "Não pediu desculpas, não se lamentou. Ele só simplesmente esqueceu o que tinha feito".

Denúncia na ouvidoria e na Polícia Militar

Ao chegar em casa, Vivian ligou na ouvidoria do hospital e foi informada que um procedimento interno seria instaurado para averiguar a conduta do profissional. Depois, foi para a delegacia registrar um boletim de ocorrência.

"Eu errei em não chamar a PM na hora para ele ter sido preso em flagrante, mas eu só queria o tratamento".

Na quinta-feira (10), a estudante prestou depoimento na Delegacia da Polícia Civil. Ela disse que pretende formalizar uma denúncia no Conselho Regional de Medicina.

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Reprodução/TV Integração

O que diz o hospital

Em nota, a direção do Hospital São João Batista disse que repudia ato de discriminação e reafirma compromisso com a igualdade e cuidado a todas as pessoas.

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"O Hospital São João Batista (HSJB) vem a público expressar seu profundo repúdio e consternação diante do incidente relatado envolvendo uma paciente trans de 21 anos, que relatou ter sido vítima de atitudes transfóbicas por parte de um médico de nossa instituição, na manhã da última quarta-feira (9). Acreditamos na importância de tratar a diversidade com respeito, empatia e igualdade, valores que norteiam nossa missão de cuidar da saúde e do bem-estar de toda a comunidade. A situação relatada é inaceitável e contraria veementemente os princípios de respeito aos direitos humanos que orientam nossa atuação. Ressaltamos que a postura e as ações do referido médico não refletem os valores e a postura da administração e de todos os profissionais que compõem o corpo clínico do Hospital São João Batista. Diante disso, informamos que será instaurado um procedimento administrativo para apurar o ocorrido e garantir que as medidas cabíveis sejam tomadas. Nossa instituição está empenhada em reforçar as políticas de diversidade e inclusão, bem como em promover a conscientização sobre a importância do tratamento igualitário a todas as pessoas, independentemente do sexo, gênero ou raça. Acreditamos que a saúde deve ser acessível a todos, sem qualquer forma de discriminação. Reiteramos nosso compromisso em oferecer atendimento médico e hospitalar de qualidade, pautado pela humanização, cuidado e respeito, assegurando que todos os pacientes se sintam acolhidos e respeitados em nossa instituição. Estamos tomando todas as medidas necessárias para prevenir que situações semelhantes ocorram novamente, reforçando a educação e a sensibilização de nossa equipe para que possamos construir um ambiente cada vez mais inclusivo e acolhedor. Contamos com a compreensão da comunidade e reafirmamos nosso compromisso com a promoção da igualdade e a prestação de serviços de saúde com excelência e respeito a todos".

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FONTE: G1 Globo

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