Francis Hime revisa o cancioneiro em livro que dá a devida dimensão ao compositor revelado há 60 anos
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Capa do livro 'Francis Hime – Ensaio e entrevistas', de André Simões
Cafi Resenha de livro Título: Francis Hime – Ensaio e entrevistas Autoria: André Simões Edição: Editora 34 Cotação: ★ ★ ★ ★ ♪ Nas livrarias desde março, mas promovido na mídia somente a partir de maio, Francis Hime – Ensaio e entrevistas é livro para músicos e para quem se interessa pela gênese de músicas. Sem a envergadura das grandes biografias, mas consistente como inventário da obra musical do compositor carioca nascido em 31 de agosto de 1939, o livro repassa a obra deste artista que é também pianista, arranjador e maestro, além de extraordinário compositor surgido há 60 anos. Discípulo de Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994), Hime apareceu na geração que revelou Edu Lobo e Marcos Valle na primeira metade da década de 1960, alguns (poucos) anos antes da erupção da MPB em 1965 na plataforma dos festivais. Compositor e músico que transita com naturalidade entre o mundo da canção popular (sempre elevada por ele ao status de Arte) e os cânones da música dita erudita, incursionando também pelo campo das trilhas sonoras para cinema e teatro, Francis Hime tem a obra corretamente dimensionada pelo jornalista André Simões no ensaio que preenche 100 das 382 páginas do livro. Intitulado, Francis Hime, música e canção, o ensaio é escrito com precisão e lança mão da linguagem técnica da teoria musical para justificar a sofisticação do compositor e, de quebra, legitimar o apreço do autor pela obra perfilada no texto. O conhecimento técnico de Simões o capacita a realizar a entrevista em que repassa o cancioneiro de Francis, música por música, em conversa minuciosa com o autor. Alocada após o ensaio, a entrevista legitima o texto anterior e torna ainda mais notório o saber de Simões no bate-bola em que o autor também se posiciona a respeito do resultado final e da gravação das músicas. Simões aponta, por exemplo, a sonoridade datada do álbum Essas parcerias (1984), gravado com os sintetizadores em voga nos anos 1980. Nota-se a ausência de subserviência do entrevistador em relação ao entrevistado. Hime é questionado sobre a interrupção da parceria com Chico Buarque após o samba Vai passar (1984). Até porque sempre houve especulações nos bastidores da MPB sobre o fim da parceria que gerou composições como o choro Meu caro amigo (1976). Francis, no entanto, sustenta que “não houve nenhum rompimento traumático”, que “foi uma coisa profissional mesmo” – argumentando que a parceria perdeu impulso naturalmente quando deixou de arranjar os discos do parceiro e, consequentemente, passou a trabalhar menos com Chico – e que, especular o contrário, seria procurar “pelo em ovo”. Seja como tenha sido, a parceria com Chico – iniciada em 1972 com a canção Atrás da porta, imortalizada na voz de Elis Regina (1945 – 1982) – popularizou o nome de Francis e abriu caminho para que o artista gravasse o primeiro álbum em 1973, Francis Hime, disco pautado pela densidade orquestral que pôs o cantor em cena. Contudo, a rigor, o sucesso para o cantor veio somente com o segundo álbum, Passaredo (1977), disco de canções como Trocando em miúdos, outra obra-prima da parceria com Chico. Para quem se interessa pelo processo criativo de um compositor requintado como Francis Hime, cabe ressaltar, a longa entrevista flui muito bem. Parceiro de Vinicius de Moraes (1913 – 1980), Cacaso (1944 – 1987), Ruy Guerra, Paulo César Pinheiro e Olivia Hime (parceira também na vida a dois dividida oficialmente desde 1969), Francis Hime tem muito o que dizer. E diz neste livro valorizado por conter iconografia com mais de 150 imagens, além de discografia e musicografia completas do artista.FONTE: G1 Globo