Grande júri de NY cancela sessão, atrasando decisão sobre acusações contra Trump
Um grande júri de Nova York cancelou sua sessão nesta quarta-feira (22), informou a mídia americana, o que atrasa a decisão sobre um eventual indiciamento criminal contra o ex-presidente Donald Trump por pagar pelo silêncio de uma atriz pornô antes das eleições de 2016.
O painel, que atua em sigilo, geralmente se reúne às segundas, quartas e quintas à tarde, o que tem gerado especulações sobre a iminência de uma votação sobre um indiciamento histórico.
A sessão desta quarta foi cancelada, indicaram autoridades policiais não identificadas a vários veículos de comunicação dos Estados Unidos, sem explicar o motivo. Segundo o jornal The New York Times, a interrupção dos procedimentos de um grande júri não é comum.
O Insider, publicação que deu a notícia de que não haverá reunião do painel nesta quarta, citou uma fonte dizendo que é possível que os trabalhos sejam retomados esta semana, o que significa que apenas a partir da próxima segunda-feira haveria uma decisão sobre o caso, na melhor das hipóteses.
Com barricadas do lado de fora da Trump Tower e a polícia em alerta máximo, a cidade está em suspense há dias com a possibilidade de o ex-presidente ser indiciado pelo tribunal estadual de Nova York, em especial depois que Trump afirmou, no fim de semana, que seria preso na terça, o que não aconteceu.
Nos Estados Unidos, os promotores podem apresentar testemunhas e evidências a um painel de cidadãos conhecido como grande júri, que decide se há justificativas para um indiciamento.
Se indiciado, o magnata de 76 anos se tornaria o primeiro ex-presidente dos EUA acusado de um crime, o que complicaria suas aspirações de ser o escolhido do Partido Republicano para as eleições presidenciais de 2024.
Também seria a primeira vez que um ex-presidente dos Estados Unidos poderia ser preso, registrado com impressões digitais e possivelmente algemado.
O promotor distrital de Manhattan, Alvin Bragg, formou o grande júri em janeiro após uma investigação sobre os US$ 130 mil pagos à atriz pornô conhecida como Stormy Daniels há mais de sete anos.
Os grandes júris operam a portas fechadas para evitar perjúrio, ou manipulação de testemunhas, antes do julgamento, tornando praticamente impossível acompanhar seu trabalho.
Um porta-voz de Bragg disse à AFP que "não pode confirmar nem comentar sobre assuntos do grande júri".
Especialistas jurídicos sugeriram que poderia levar algum tempo até que Trump, atualmente em seu resort Mar-a-Lago, na Flórida, seja processado perante um juiz do Tribunal Criminal de Manhattan.
- Trump convoca protestos -
O pagamento foi feito semanas antes da eleição de 2016, supostamente para impedir que Daniels tornasse pública uma relação que ela afirma ter tido com Trump anos antes. O republicano, que governou de 2017 a 2021, nega o caso e chamou a investigação de "caça às bruxas".
Michael Cohen, ex-advogado pessoal do magnata que testemunhou perante o grande júri, disse ao Congresso em 2019 que entregou o dinheiro em nome de Trump e foi posteriormente reembolsado.
Se não for devidamente contabilizado, o pagamento a Daniels pode resultar em uma acusação de contravenção por falsificação de registros comerciais, dizem os especialistas.
Mas pode se tornar um crime grave, se essa manipulação contábil tiver como objetivo acobertar um segundo crime, como violar as leis de financiamento de campanha, que é punível com até quatro anos de prisão.
Os analistas, porém, afirmam que isso não foi comprovado e seria difícil de provar no tribunal.
Uma acusação contra Trump iniciaria um processo que poderia durar vários meses, se não mais. Enfrentaria muitas questões legais antes da seleção do júri e complicaria o trabalho do Serviço Secreto que protege Trump.
O ex-presidente convocou manifestações em massa se for acusado, alimentando temores de distúrbios semelhantes aos de 6 de janeiro de 2021, quando os apoiadores de Trump invadiram o Capitólio, sede do Congresso americano. Mas, até agora, os protestos têm sido pequenos e silenciosos.
Trump é alvo de várias investigações criminais nos níveis estadual e federal por possíveis irregularidades que ameaçam sua nova corrida pela Casa Branca, muitas delas mais graves do que o caso de Manhattan.
Entre elas, seus esforços para anular sua derrota eleitoral de 2020 no estado da Geórgia, seu manuseio de documentos sigilosos e sua possível participação nos distúrbios de 6 de janeiro.
Alguns observadores acreditam que um indiciamento seria um mau presságio para as chances de Trump em 2024, enquanto outros dizem que poderia aumentar o apoio ao ex-presidente.
THE NEW YORK TIMES COMPANY
FONTE: Estado de Minas