Guatemala elege presidente em meio a denúncias de compra de votos
Os guatemaltecos votavam neste domingo (25) para eleger um novo presidente, em meio a denúncias feitas por dois dos principais candidatos de que o governismo estaria distribuindo alimentos em troca de votos.
Após uma campanha marcada pela exclusão de candidatos e perseguição a jornalistas, a social-democrata Sandra Torres liderava as intenções de voto, seguida pelo centrista Edmond Mulet, pela direitista Zury Ríos e pelo governista de direita Manuel Conde, segundo pesquisas.
Sandra lembrou que o presidente Alejandro Giammattei havia afirmado anteontem que respeitaria o resultado da votação. "Onde está a transparência se o partido oficial está comprando votos?", questionou a ex-mulher do presidente falecido Álvaro Colom. Mulet também sugeriu que houve irregularidades nas primeiras horas de votação.
O Tribunal Eleitoral registrava cinco incidentes. Em dois deles houve confrontos entre moradores e policiais, que lançaram gás lacrimogêneo para dispersar os protestos, motivados por supostas irregularidades nas eleições.
Os distúrbios ocorreram em San José del Golfo, onde a votação foi suspensa, e em San Martín Zapotitlán, segundo o órgão eleitoral.
Os quase 3.500 centros de votação abriram às 7h locais (10h em Brasília), conforme previsto, para receber 9,4 milhões de cidadãos durante 13 horas. Os primeiros resultados oficiais serão conhecidos por volta das 21h locais.
"Levantamos cedo para votar. Votamos com gosto e depois os presidentes são a mesma coisa", disse à AFP María Chajón, 53 anos, do município de San Juan Sacatepéquez, a 20 quilômetros da capital e habitada principalmente por indígenas.
Vinte e dois candidatos disputam a presidência. Se nenhum deles obtiver a maioria absoluta, haverá um segundo turno, em 20 de agosto. O voto é voluntário e a reeleição é proibida.
O presidente de direita Alejandro Giammattei chega ao fim de seu mandato de quatro anos com um índice de desaprovação de 76%, segundo pesquisas.
Além disso, nestas eleições serão eleitos 160 deputados, 340 prefeitos e 20 representantes do Parlamento Centro-Americano.
- Perseguição a promotores e jornalistas -
O sistema democrático navega em águas turbulentas na Guatemala, com controle do governo sobre o Judiciário, processos contra jornalistas, exclusão de candidatos e perseguição a promotores que lutaram contra a corrupção.
Há duas semanas, o proprietário de um jornal crítico ao governo, José Rubén Zamora, foi condenado a seis anos de prisão por lavagem de dinheiro, em um julgamento denunciado como abusivo pela Associação Interamericana de Imprensa (SIP). Seu jornal, fundado em 1996, deixou de ser publicado em 15 de maio.
A Associação de Jornalistas da Guatemala registrou 117 casos de violação da liberdade de imprensa em 2022, entre os quais se destacam perseguições judiciais, limitações de cobertura e casos de exílio.
Os Estados Unidos, a União Europeia, agências da ONU e organizações de direitos humanos denunciaram a perseguição a jornalistas e promotores. Além disso, as autoridades eleitorais e judiciais excluíram da corrida presidencial dois candidatos: o empresário de direita Carlos Pineda e a indígena de esquerda Thelma Cabrera, o que causou desconfiança e desinteresse nas eleições.
- Pobreza e insegurança -
A pobreza e a violência levam milhares de guatemaltecos a emigrar para os Estados Unidos todos os anos. Com 71,1% de informalidade trabalhista, a Guatemala é um dos países mais desiguais da América Latina, segundo o Banco Mundial.
Cerca de 10,3 milhões de seus 17,6 milhões de habitantes vivem na pobreza e metade das crianças menores de cinco anos sofre de desnutrição crônica, segundo a ONU.
Outro problema avassalador é a insegurança, já que a taxa de homicídios na Guatemala é três vezes maior que a média mundial, segundo a ONU.
FONTE: Estado de Minas