Irã quer construir com Arábia Saudita ‘união do mundo muçulmano’
O chanceler do Irã, Hossein Amir Abdollahian, declarou nesta quinta-feira (17) que seu país atua em favor "da união do mundo muçulmano", em sua primeira viagem oficial à Arábia Saudita após a aproximação diplomática entre as duas potências do Oriente Médio.
O Irã, de maioria xiita, e a Arábia Saudita, essencialmente sunita, mantiveram uma relação tensa nas últimas décadas e apoiaram atores beligerantes em conflitos regionais, como no Iêmen. Mas os laços entre Teerã e Riade se tornaram menos tensos após um acordo fechado em março, que encerrou sete anos de ruptura diplomática.
As relações entre o Irã e a Arábia Saudita "caminham em boa direção", disse Amir Abdollahian em entrevista coletiva em Riade com seu par saudita, o príncipe Faisal bin Farhan. "Estamos convencidos de que estas reuniões e esta cooperação irão contribuir para a união do mundo muçulmano", disse o líder iraniano.
Faisal bin Farhan, que confirmou a reabertura da embaixada saudita em Teerã, destacou a "nova etapa no desenvolvimento das relações entre os dois países".
- Pontos de atrito -
O Irã e a monarquia rica do Golfo romperam relações em 2016, após o ataque a missões diplomáticas sauditas na república islâmica por manifestantes iranianos, em protesto contra a execução de um clérigo xiita. A reconciliação entre os rivais do Oriente Médio foi selada em um acordo firmado em 10 de março, mediado por China e Iraque.
O restabelecimento das relações ocorreu em junho, quando a República Islâmica reabriu sua missão diplomática em Riade. Dias depois, o príncipe Faisal bin Farhan fez uma visita oficial ao Irã, a primeira de um chanceler saudita em 17 anos.
Amir Abdollahian fez sua viagem oficial de um dia ao território saudita acompanhado do novo embaixador iraniano em Riade, segundo a agência de notícias estatal Irna.
Essa viagem e a reabertura das respectivas embaixadas representam "medidas importantes", ressaltou Anna Jacobs, especialista do centro de reflexão International Crisis Group. Esse degelo, no entanto, "encontra-se apenas em uma fase inicial e não está claro como as duas partes lidarão com os diversos pontos de atrito".
- Oportunidade para o diálogo -
A reaproximação diplomática gerou esperança de uma estabilização no Oriente Médio, principalmente no Iêmen, país devastado por uma guerra sangrenta desde 2015. Embora os combates tenham diminuído nos últimos meses, os esforços recentes não levaram a um acordo de paz naquele país, onde se enfrentam forças pró-governo, apoiadas por Riade, e rebeldes huthis, ligados a Teerã.
O degelo entre o Irã e a Arábia Saudita também foi fundamental para a reincorporação da Síria à Liga Árabe. O regime de Bashar al-Assad havia sido suspenso da organização após a repressão violenta às manifestações contra o governo em 2011.
Apesar desses avanços, Teerã e Riade continuam discordando em temas sensíveis, como a exploração de recursos ligados ao gás em áreas vizinhas, questão que "não deve representar um obstáculo maior na melhora da relações, podendo, inclusive, representar uma oportunidade para o diálogo", avaliou Anna Jacobs.
FONTE: Estado de Minas