Jovens russos se preocupam com lei que facilita convocação do exército
Uma lei que facilita a convocação ao exército e a punição dos refratários foi aprovada nesta quarta-feira (12) na Rússia. Esta é uma preocupação para os jovens russos que não querem lutar na Ucrânia.
As duas casas do Parlamento russo aprovaram uma lei que autoriza o envio de ordens de mobilização por meios eletrônicos, e não apenas pessoalmente como antes. Este sistema impedirá que os russos ignorem as convocações e as torna mais difíceis de evitar.
Uma vez convocada, a pessoa já não pode sair do país.
"É preocupante como todas as leis votadas no último ano. Como foi aprovada em apenas dois dias, nada de bom pode ser esperado dela", disse à AFP um russo de 28 anos, mobilizado e morador do norte do país que pediu anonimato por razões de segurança.
Apesar dos riscos, ele planeja "ignorar" a convocação, caso receba. "Não irei ao escritório de recrutamento, pois é uma bilhete de ida para Bakhmut", disse ele, referindo-se à cidade epicentro dos combates no leste da Ucrânia.
O presidente Vladimir Putin decretou a mobilização de 300.000 reservistas em setembro de 2022, desenrolado de maneira caótica.
Embora o Kremlin desminta os planos de lançar uma segunda onda de recrutamento, muitos na Rússia estão preocupados enquanto o exército ucraniano prepara uma ampla contraofensiva.
"A frente se fragmentará como no outono passado e será necessário acumular urgentemente carne humana para tapar os buracos", diz o russo de 28 anos, para quem a amplitude da próxima mobilização "dependerá diretamente do sucesso" dos ucranianos no campo de batalha.
- Pegar os recalcitrantes -
Outro russo, 21, que também prefere o anonimato para garantir sua segurança, diz estar "tão preocupado quanto todo mundo", muito mais porque ainda não cumpriu o serviço militar obrigatório de um ano.
Este morador da Sibéria afirma que "o que é alarmante é a urgência e a intransigência da nova lei".
Como muitos outros, ele ignorou "o escritório de recrutamento" desde o início do conflito. "No outro dia, meus pais receberam uma ligação anunciando que eu estava na lista", acrescentou.
"Sou procurado por pessoas fardadas para ser levado ao comissariado militar", contou este russo, que diz mudar frequentemente de residência para escapar do recrutamento.
"Moro um pouco aqui ou ali. Minha estratégia ainda está sendo elaborada, não está clara" por enquanto.
Entre os russos interrogados em Moscou, muitos são os que não querem falar, um deles reconheceu que é refratário.
Outros expressam uma certa resignação, comum em parte da sociedade.
"Se você tem que ir (para o front), você tem que ir. O destino de muitas pessoas depende de nós até certo ponto. E se alguém morrer, vale a pena", disse Denis Chevtchenko, um trabalhador de 35 anos.
Kirill Asmadeous, um programador de 34 anos, acredita que "deveria ser feito assim há muito tempo". Ele "entende as pessoas preocupadas, mas não entende o motivo".
A polícia tem o direito de buscar o refratário, que pode ser condenado a penas de prisão de acordo com a lei russa.
O serviço fiscal, as universidades e outras organizações públicas terão o dever de fornecer todas as informações pessoais dos mobilizados.
A recusa em comparecer ao escritório privará estes russos da possibilidade de trabalhar como empresários ou autônomos, receber empréstimos ou possuir casa ou carro.
Essas medidas se aplicam também às dezenas ou centenas de russos que fugiram do país e vivem principalmente em casas alugadas ou trabalham remotamente com empresas
Segundo o especialista russo Alexei Tabalov, diretor da organização Consscript School, existem maneiras de burlar o exército, como certificado de invalidez, estudo ou suborno.
A vida ficará, entretanto, cada vez mais difícil para quem procura um esconderijo.
"O grau de liberdade é reduzido para quem quer se esconder do cartório. O Estado vai pegá-los", diz Tabalov, que deixou a Rússia.
Para o especialista, as autoridades vão tentar convencer os recrutas que são convocados todos os anos a se alistar.
"Eles farão um trabalho de fundo com os convocados, os convencerão, os ameaçarão e os pressionarão a firmar o contrato", disse ele.
A mobilização anterior em setembro de 2022, no entanto, resultou na fuga de milhares de russos para o exterior.
"Temos que deixar a Rússia agora? Resposta curta: sim", intitulou nesta quarta-feira o site do jornal Meduza, popular entre os jovens russos e declarado "indesejável" pelas autoridades.
FONTE: Estado de Minas