Lula faz escala comercial nos Emirados, após visita à China com viés geopolítico
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos (EAU), neste sábado (15), vindo da China, onde buscou reforçar os laços diplomáticos e econômicos com a potência asiática, cada vez mais confrontada com os Estados Unidos.
Lula foi recebido pelo xeque Mohammed ben Zayed al Nahyan, presidente deste país da Península Arábica, rico em hidrocarbonetos.
Sua chegada ao palácio presidencial foi saudada com uma salva de 21 tiros de canhão.
À noite, Lula assistirá a um iftar, a ceia que marca o fim do jejum diurno durante o ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos, e no domingo pela manhã deve dar uma coletiva de imprensa antes de viajar de volta ao Brasil.
Durante a visita, serão discutidos "temas de agenda bilateral, incluindo comércio, investimentos, transição energética, mudanças climáticas e segurança global", informou o Itamaraty em um comunicado.
"Desde 2008, os EAU estão entre os três principais parceiros do Brasil no Oriente Médio" e em 2022 "foi o principal destino das exportações brasileiras entre os países árabes", acrescentou a nota.
O comércio entre o país da Península Arábica e o Brasil somou, em 2022, US$ 5,768 bilhões (em torno de R$ 30 bilhões na cotação da época) - um aumento de 74,5% em relação ao ano anterior, com um superávit de US$ 740 milhões (R$ 3,8 bilhões, aproximadamente) a favor do Brasil, segundo dados oficiais brasileiros.
Dos US$ 3,254 bilhões (cerca de R$ 16 bilhões) faturados, o principal produto de exportação brasileiro foi a carne de frango (29% do total), seguido de açúcar (14%), ouro (14%), celulose (8,2%) e carne bovina (8%).
Já nas importações, 89% do valor total correspondeu à compra de petróleo e materiais betuminosos, derivados de hidrocarbonetos.
- Críticas aos EUA por conflito na Ucrânia -
Em Pequim, o presidente anunciou que o Brasil "está de volta" à geopolítica mundial, após os quatro anos do governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), caracterizados por um afastamento do cenário internacional.
Lula, que aspira fazer parte de uma mediação de paz entre a Rússia e a Ucrânia, pediu aos Estados Unidos que parem de "incentivar a guerra".
Diferentemente das potências ocidentais, nem China nem Brasil impuseram sanções à Rússia e tentam se posicionar como mediadores para alcançar a paz, pondo fim ao conflito, iniciado quando os russos invadiram a ex-república soviética.
Os Emirados Árabes, que também adotaram uma postura de neutralidade frente ao conflito, receberam um número significativo de empresários russos, sobretudo em Dubai, buscando evitar as sanções ocidentais.
Antes de iniciar este giro ao Oriente, Lula afirmou que ao voltar ao Brasil pretendia formar um grupo de países para trabalhar em uma solução negociada para o conflito.
Mas o projeto não parece ter gerado muito entusiasmo por enquanto.
"É preciso ter paciência para conversar com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. É preciso ter paciência para conversar com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky", disse Lula.
"Mas é preciso, sobretudo, convencer os países que estão fornecendo armas e incentivando a guerra a pararem", frisou.
- Sem "arranhões" com os EUA -
Lula tem realizado um delicado exercício de equilíbrio geopolítico entre os Estados Unidos e a China, duas potências confrontadas em um número crescente de temas, incluindo o das tensões entre Pequim e a ilha de Taiwan.
Em fevereiro, Lula foi recebido na Casa Branca por Joe Biden, e ambos se apresentaram como defensores dos valores democráticos e ambientais.
Neste sábado, antes de deixar a China, Lula disse estar confiante em que esse fortalecimento das relações entre Brasília e Pequim "não é capaz de criar nenhum arranhão" com os Estados Unidos.
"Nós não precisamos romper e brigar com ninguém para que a gente melhore. O Brasil tem que procurar os seus interesses, ir atrás daquilo que necessita. O Brasil tem que fazer acordos possíveis com todos os países", defendeu.
O presidente Xi, por sua vez, garantiu ao brasileiro que o desenvolvimento da economia chinesa "abrirá novas oportunidades para o Brasil e para os países de todo o mundo", segundo nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores da China.
"Em seu terceiro mandato, Lula parece manter uma abordagem das relações internacionais semelhante à de seus dois primeiros mandatos [2003-2010]", com uma "política externa independente e pragmática", disse Lian Lin, analista da consultoria Economist Intelligence Unit (EIU).
Mas o desafio não será simples, em um "ambiente político (...) muito mais polarizado, que colocará sob escrutínio cada uma das suas iniciativas", acrescentou.
"Achamos que a habilidade política de Lula permitirá que ele navegue com sucesso por essas águas agitadas, mas não será fácil", concluiu.
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FONTE: Estado de Minas