Manifestações contra a reforma da Previdência se multiplicam na França
As manifestações contra a reforma da Previdência imposta por decreto pelo presidente liberal Emmanuel Macron se multiplicaram neste sábado (18) na França, em um clima de crescente tensão política e social, com o início dos bloqueios nas refinarias do país.
Mais cedo, autoridades policiais chegaram a proibir concentrações de pessoas na Place de la Concorde, em Paris, em frente à Assembleia Nacional (Câmara dos Deputados), após duas noites de confrontos entre manifestantes, que atiraram garrafas e sinalizadores contra a polícia, que, por sua vez, respondeu com gás lacrimogêneo e prendeu mais de 300 pessoas.
"As pessoas que tentarem se reunir nos locais serão sistematicamente dispersadas pela polícia" e poderão ser multadas, disseram as forças de segurança.
À espera de uma nova onda de protestos convocados pelos sindicatos na próxima quinta-feira, as greves setoriais desaceleram a atividade da segunda maior economia da União Europeia (UE) e toneladas de lixo se acumulam em suas principais cidades.
A decisão de Macron de aprovar a reforma por meio do polêmico artigo 49.3 da Constituição, sem passar pelo voto dos deputados, impulsionou a indignação popular, que vinha diminuindo, e radicalizou grupos de jovens.
Deputados da oposição apresentarão duas moções de censura, que serão discutidas a partir da segunda feira (20). A aprovação de qualquer uma delas anularia o decreto presidencial e forçaria a renúncia da primeira-ministra, Elisabeth Borne.
O objetivo do novo sistema previdenciário é aumentar a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos até 2030 e adiantar para 2027 a exigência de 43 anos de contribuição (e não 42 como até agora) para garantir a aposentadoria integral.
- Novos protestos e incidentes -
Neste sábado, uma manifestação reuniu cerca de 4.000 protestantes, de acordo com uma fonte policial, na Place d'Italie, uma área movimentada de Paris.
"Eu fico o dia todo sentada na frente do computador, meus olhos doem, estou com dor de cabeça e já tive duas flebites", diz uma manifestante de 55 anos, para explicar sua rejeição à reforma.
Os organizadores da manifestação incentivaram sua dispersão quando alguns grupos começaram a incendiar latas de lixo e destruir pontos de ônibus protegidos.
Foram registrados protestos em várias cidades do país, incluindo Marselha, Brest (oeste), Toulon e Montpellier.
"O que nos resta senão continuar manifestando? As mobilizações foram pacíficas, até a aplicação do 49.3. Agora há potencial para um aumento da tensão social", disse Romain Morizot, um engenheiro de telecomunicações de 33 anos, em uma manifestação em Marselha.
Com a paralisação da maior refinaria de petróleo da França, localizada na Normandia (nordeste), na noite de sexta-feira, o ministro da Indústria, Roland Lescure, indicou que o governo poderia convocar trabalhadores para evitar a escassez de combustível.
Também foram requisitados funcionários da coleta de lixo municipal para começar a limpar cerca de 10.000 toneladas de lixo que se acumulam nas ruas de Paris devido a uma greve no setor.
"Obviamente o Presidente da República está acompanhando a situação", disse à AFP uma fonte próxima à Macron.
- "Negação da democracia" -
Uma das moções contra o governo foi apresentada pelo grupo parlamentar independente LIOT e outra pelo partido de extrema-direita Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen, derrotada por Macron no segundo turno das duas últimas eleições presidenciais.
Mesmo que a apresentada pelo LIOT receba amplo apoio, ainda precisaria de cerca de 30 votos para chegar aos 287 necessários (metade mais um dos 577 assentos) para derrubar o governo e a reforma.
A frente de esquerda Nupes e o partido de Le Pen anunciaram que apoiariam a moção do LIOT. Os votos que faltam devem vir do partido de oposição de direita Os Republicanos, que negociou a reforma da Previdência com o partido governista, embora com a discordância de cerca de vinte de seus legisladores.
"O que vou responder aos jovens que me dizem que votar é inútil? Elegi um deputado, que não pode votar. Estamos em plena negação da democracia", diz Nathalie, uma mulher de 30 anos em um protesto de cerca de 300 pessoas em Besançon (leste).
FONTE: Estado de Minas