Menores ucranianos ‘deportados’ pela Rússia voltam para casa

23 mar 2023
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Um menino de 10 anos salta do ônibus para os braços de seu pai, em Kiev: é um dos 17 menores que, graças a uma ONG, conseguiram voltar para casa, após terem sido levados para a Rússia, ou para zonas ocupadas pelas forças russas na Ucrânia.

Denis Zaporozhenko não via seu filho, nem suas duas filhas há seis meses e meio. Todos viviam juntos em Kherson, no sul ocupado da Ucrânia, quando se separaram, em 7 de outubro, um mês antes de as forças ucranianas reconquistarem a cidade.

Esse pai de família conta que aceitou enviar seus filhos para "acampamentos de férias" mais ao sul, na Crimeia anexada, porque terríveis combates se anunciavam para acontecer em Kherson, com a contraofensiva ucraniana.

Os funcionários russos da escola, na qual estudavam, "prometiam enviá-los durante uma semana, ou duas", relata.

"Quando nos demos conta de que não devíamos aceitar, já era tarde demais", continua.

Ele diz que pôde falar com seus três filhos por telefone durante esses longos meses de separação.

Para a Ucrânia, esses menores são parte dos 16.000 que foram "sequestrados" pelos russos.

Moscou desmente e se felicita por tê-los "salvado" da guerra e por ter estabelecido procedimentos para reuni-los com suas famílias.

O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu, na semana passada, um mandado de prisão contra Vladimir Putin, considerando-o suspeito de ser responsável pelo "crime de guerra de deportação ilegal" de menores.

- Intimidação, manipulação e chantagem -

Miroslava Kharchenko, jurista da ONG Save Ukraine - que organizou o retorno dos 17 menores -, detalha que as autoridades russas utilizaram "a intimidação, a manipulação e a chantagem" para se apoderar delas.

"Diziam aos pais que tinham uma hora para refletir e que, se os ucranianos chegassem, trariam mercenários americanos iriam agredir e violentar" os menores, lamenta.

"Afirmavam a eles que era 'a única oportunidade para salvar seus filhos'", relata.

A ONG responde a pedidos de pais desesperados que não conseguem recuperar seus filhos, diante da recusa da administração russa.

Na ausência de um acordo diplomático entre Kiev e Moscou, a ONG deve se submeter aos procedimentos administrativos estabelecidos pelos russos para cada "repatriação".

E, pela primeira vez, a associação conseguiu organizar um retorno em grupo para a Ucrânia.

Fretou um ônibus e, levando algumas das mães, fez um longo caminho: primeiro, em direção ao oeste; em seguida, ao norte; depois, ao leste; e, finalmente, ao sul, passando por Polônia, Belarus, Rússia e Crimeia, já que não foi permitido cruzar a linha do "front" no sul da Ucrânia.

Ouvidos pela AFP na quarta-feira (22), vários desses menores disseram não terem sofrido maus-tratos, mas relataram episódios de doutrinação.

"Se você não cantava o hino nacional russo, te obrigavam a escrever notas explicativas. E, no Ano Novo, mostraram o discurso de Putin para a gente", conta Taisia Volinska, de 15 anos, natural de Kherson.

Yana Zaporozhenko, filha de 11 anos de Denis, descreve "muitas inspeções de funcionários russos em seu acampamento".

"Pediam a gente para cantar e dançar, quando havia inspeções", acrescenta.

Inessa Vertoch, de 43 anos, que esperou seu filho "dia após dia", afirma que ele está "mais sério".

"Me olha e me diz: Mamãe, não quero te contar. Você nunca mais dormiria à noite", destaca.

Miroslava Kharchenko, da Save Ukraine, assegura que os psicólogos vão atender cada uma dessas crianças. E insiste em que os pais não devem voltar a viver nas "áreas perigosas".


FONTE: Estado de Minas


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