Milton Nascimento atiça o cio da terra sertaneja em disco com Chitãozinho & Xororó
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Com sete músicas, 'Outros cantos' destaca a canção inédita 'Seu Bento e Dona Linda' em repertório que inclui balada obscura de Ivan Lins e revive tema ambiental do repertório da dupla dos irmãos. Capa do disco 'Outros cantos', de Milton Nascimento e Chitãozinho & Xororó
Divulgação Resenha de disco Título: Outros cantos Artista: Milton Nascimento e Chitãozinho & Xororó Edição: Onda Musical Cotação: ★ ★ ★ 1/2 ♪ No sertão da terra de Milton Nascimento, as toadas mineiras constituem uma das ricas referências amalgamadas na monumental obra do compositor. Disco gravado pelo cantor com Chitãozinho & Xororó e situado na tênue fronteira entre EP e álbum por reunir sete gravações inéditas, Outros cantos atiça o cio da terra sertaneja embutida no cancioneiro singular de Milton. Das sete músicas do disco, é justamente a única inédita, Seu Bento e Dona Linda (Davi Villa, Erik Visacre, Leandro Visacre e Lucas Carvalho), que atinge o céu. Milton e Chitãozinho & Xororó se afinam no canto desta bela canção sertaneja que versa sobre o amor transcendental de Seu Bento por Dona Linda, contando o causo do viúvo que, em noite de lua cheia, vai para a praça da cidade alimentar a visão e a paixão pela esposa já falecida. Com arranjos de Ricardo Gama e Cláudio Paladini, o disco Outros cantos também acerta ao trazer para o universo sertanejo Olhos pra te ver (2012), pouco conhecida balada romântica do repertório de Ivan Lins, parceiro de Gilson Peranzzetta na canção apresentada na voz de Ivan no álbum Amorágio (2012). Iniciada pela dupla, com a voz de Milton sendo ouvida somente quando a letra da canção começa a ser repetida, a gravação do trio é adoçada pelas cordas arranjadas por Lucas Lima. Em linha mais amorosamente politizada, Terra tombada (Carlos César e José Fortuna) – música de 1985 gravada por Chitãozinho & Xororó em álbum lançado pela dupla em 1986 – também sobressai no disco por inserir na pauta a questão ambiental, cada vez mais urgente e necessária. Vale também reouvir Morro velho (1967) em clima sertanejo com o toque de viola e sanfona, além das vozes de Chitãozinho & Xororó, escutadas na faixa após o canto de Milton. A saga dos amigos da infância vivida na fazenda – separados pelo abismo social erguido entre eles na vida adulta – reverbera com sensibilidade nesse universo sertanejo. Já Evidências (José Augusto e Paulo Sérgio Valle, 1989) é ouvida em tons outonais, sem a vibração exigida por essa canção que, com o tempo, se tornou o maior sucesso de Chitãozinho & Xororó. Da mesma forma, A festa (Milton Nascimento, 2003) ressurge sem animação pela falta de viço no canto dos artistas. Completa o repertório uma interessante abordagem de Nos bailes da vida (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1981) em gravação iniciada com a voz de Xororó e adornada com cordas. Detalhe: reouvida no disco Outros cantos, a letra de Nos bailes da vida parece fazer mais sentido nas vozes de dupla sertaneja vinda do interior do Brasil – no caso de pequenas cidades do estado do Paraná – do que nas de cantores revelados em grandes centros urbanos. Masterizado por Brendan Duffey, o disco Outros cantos oferece de fato outra visão do cancioneiro de Milton Nascimento neste encontro harmonioso com Chitãozinho & Xororó. A terra revolvida pelo trio é fértil. Milton Nascimento entre Chitãozinho (à esquerda) e Xororó na gravação do programa 'Som Brasil' Fábio Rocha / GloboFONTE: G1 Globo