Museu no Centro de BH tem obras raras, mas nunca funcionou

06 out 2023
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Um edifício tombado da década de 1920, no Centro de Belo Horizonte, reúne preciosidades à espera de recursos públicos para serem exibidas para a população. Quem passa pela construção com ar de abandono, localizada em um quarteirão praticamente deserto no comecinho da Rua da Bahia, nem imagina que lá dentro estão guardadas cerca de 2 mil peças e livros praticamente prontos para virar um museu de ciência e tecnologia.

O acervo integra o Centro da Memória da Engenharia, criado em 1993 para se transformar em museu e gerido pela Associação dos Ex-Alunos da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, mas que três décadas depois ainda não virou realidade.

O Centro da Memória da Engenharia reúne o acervo colecionado por anos por Hugo Luiz Sepúlveda, professor emérito da UFMG, falecido em 2009, além de maquinários e peças pertencentes à Escola de Engenharia, fundada em 1911, antes mesmo da criação da universidade federal mineira. Entre as raridades do acervo estão um fonógrafo (aparelho de som) de 1877, inventado por Thomas Edison – conhecido mundialmente pela criação da lâmpada elétrica –, uma central telefônica de 1920, do tipo castiçal muito visto em filmes que se passam no começo do século passado, além de livros raros e muitos equipamentos que foram se tornando obsoletos, mas que deram origem ao que há de mais moderno hoje em termos de comunicação, computação e diversas áreas da engenharia.

São muitos telefones, aparelhos de som e radiodifusão, telex, motores de avião, computadores da primeira geração surgida no mundo e balanças de precisão, teodolitos (equipamentos usados há centenas de anos para medição de ângulos), além de móveis antigos. Tudo muito bem organizado e já com cara de museu, apesar de fechado ao público, graças ao trabalho incansável do engenheiro Bernardo Abraão, que comandou a Associação dos Ex-Alunos por oito anos. Foi ele quem começou a dar ao prédio a forma de um tão sonhado museu.

Recuperação gradual

Bernardo conta que quando assumiu a gestão, em 2016, começou a organizar o prédio, retirando biombos, derrubando tapumes improvisados e descartando material acumulado que estava no prédio. “Começamos a recuperar o prédio e aos poucos fomos alcançando uma melhoria espacial, estética e funcional com essas intervenções e começou a aparecer um museu”, diz Bernardo, um apaixonado pelo patrimônio histórico e pela engenharia que, segundo ele, está presente em tudo na vida: "Da cadeira que a gente senta até o mais moderno equipamento e edifício", comenta.

Hoje a associação é comandada por Consuelo Bethônico Máximo, de 82 anos, formada em engenharia pela UFMG em 1965 e sucessora de Bernardo, não só no comando da associação, mas no sonho de transformar o local em um museu. "Um acervo rico, variado e bem conservado já temos. Falta recursos para transformar tudo em um museu e abrir para a população", conta.

Esse é o desejo de todos os ex-alunos integrantes da associação que cuidam do acervo com zelo e parcos recursos oficiais, muitas vezes custeando do próprio bolso a manutenção do belo prédio onde as peças estão guardadas.

Peças raras no acervo

Tombado pelo patrimônio histórico, a edificação em estilo eclético, com belas colunas, piso de peroba, janelas e escadas de madeira nobre e cerâmica belga e móveis antigos, já abrigou o antigo Instituto de Química e a Escola de Engenharia da UFMG, transferidos para o campus da Pampulha em 1993. Desde então segue fechado e guardando raridades.

Entre as peças mais antigas está um livro 1598 que tem a cartografia de toda a América, até chegar ao sul do Brasil. Apesar da idade, o papel é bem conservado e os mapas perfeitos, conta Consuelo, que admite que seu xodó é a biblioteca. Esse livro ninguém sabe a origem, somente que ele fazia parte do acervo da universidade. Segundo ela, entre os aproximadamente 600 títulos da biblioteca, cerca de 200 foram publicados entre 1600 e 1900.

Além dos ex-alunos, a associação também conta com a ajuda voluntária de outros apaixonados por antiguidade e história. Eduardo Contin Gomes, colecionador, restaurador e expositor há muitos anos da Feira e Antiguidades de BH, que acontece todo sábado na Avenida Carandaí, no Bairro Funcionários, é um deles.

"Eles contam a história da telefonia"

Segundo ele, o acervo de objetos do Centro de Memória é "riquíssimo". Especializado em identificação e restauro de telefones antigos, ele explica que no acervo há um telefone raro chamado "sistema pé de ferro", dos primórdios da telefonia, datado de 1890.
Naquela época, as ligações não eram feitas diretamente e dependiam de uma telefonista. "É um aparelho bem primitivo, dos primórdios da telefonia", comenta Gomes. Segundo ele, todo o conjunto é muito importante: são mais de 50 modelos de telefones. "Eles contam a história da telefonia desde seu início até o atual".

Outra raridade, é a obra completa de Descartes, falecido em 1794, considerado o pai da filosofia moderna. Essa coleção é datada de 1794 e, de acordo com Consuelo, no mundo, só tem conhecimento de seis coleções dessa, uma delas no Louvre. Sua origem também é desconhecida, mas ele fazia parte da biblioteca da mais que centenária Escola de Engenharia da UFMG.

O secretário-adjunto de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Igor Gomes, esteve recentemente visitando o Centro de Memória para conhecer o acervo, que ele desconhecia existir. Gomes foi convidado pela Associação que busca apoio financeiro para inaugurar pelo menos uma mostra permanente com uma seleção das peças mais representativas de todo o acervo.

"O Centro de Memória da Engenharia é importante não só para a capital, mas para todo o estado, pois aqui conserva a história não só da engenharia, mas também do patrimônio arquitetônico com belo esse prédio. Por isso, é preciso tornar isso público, tradicionalizar esse material e cuidar. O primeiro passo é conhecer para ver como podemos ajudar na manutenção do equipamento, na catalogação do acervo, na prevenção de incêndio. Vamos estudar para saber o que podemos fazer para democratizar o acesso da população a essas preciosidades".

Sabia Não, Uai!

O Sabia Não, Uai! mostra de um jeito descontraído histórias e curiosidades relacionadas à cultura mineira. A produção conta com o apoio do vasto material disponível no arquivo de imagens do Estado de Minas, formado também por edições antigas do Diário da Tarde e da revista O Cruzeiro.

Sabia Não, Uai! foi um dos projetos brasileiros selecionados para a segunda fase do programa Acelerando Negócios Digitais, do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ), programa apoiado pela Meta e desenvolvido em parceria com diversas associações de mídia (Abert, Aner, ANJ, Ajor, Abraji e ABMD) com o objetivo de atender às necessidades e desafios específicos de seus diferentes modelos de negócios.

FONTE: Estado de Minas

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