“Não é só controlar o efeito. Tem que combater a causa”, afirma diretor da companhia de saneamento do DF sobre poluição na Lagoa da Pampulha
A 25ª reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Lagoa da Pampulha, realizada nesta terça-feira, 13 de julho, ouviu ideias, propostas e possíveis soluções para a recuperação da Lagoa da Pampulha com vistas ao bloqueio de entrada de aportes poluidores. Três representantes de empresas falaram na audiência pública e a participação do diretor da companhia de saneamento do Distrito Federal chamou a atenção dos parlamentares. Ele afirmou o que a comissão vem destacando desde o início das reuniões: “não é só controlar o efeito, mas principalmente tem que combater as causas da poluição na Lagoa da Pampulha”.
A frase é de Carlos Eduardo Borges Pereira, diretor de operações da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb). Ele está na empresa há 32 anos e trabalhou no projeto de despoluição do Lago Paranoá, em Brasília. Explicou que no decorrer das últimas décadas, o Lago Paranoá passou por um cenário significativo de poluição, atingindo quase 100% de contaminação na década de 1970. No entanto, esforços de recuperação e a implementação de medidas de saneamento básico resultaram em progressos consideráveis. Vinte anos depois, a poluição praticamente desapareceu, demonstrando a importância de ações efetivas para a preservação e recuperação do lago.
“Contratamos auditoria internacional para entender o que estava acontecendo e assim saber o que fazer. E o relatório final foi o mais óbvio possível apontando que a poluição no Lago Paranoá era causada principalmente pelas altas cargas de sedimentos e esgotos que chegam nele”, afirmou Carlos Eduardo.
Com essa informação nas mãos a Caesb começou a fazer a coleta dos esgotos que não eram ligados à rede. Também foram usados dois processos: a ecohidrologia e a biomanipulação que ajudaram controlar a movimentação de sedimentos passivos no fundo da lagoa. “A auditoria reforçou a necessidade de abordar a bacia hidrográfica como um todo para combater o problema e assim fizemos. Hoje temos esporte e lazer no Lago Paranoá”, disse.
A bacia hidrográfica do Lago Paranoá é alimentada por 10 afluentes de grande importância. Dentro dessa área de drenagem, existem três estações de tratamento de esgoto responsáveis pela coleta dos resíduos de aproximadamente 1 milhão de pessoas. A identificação do impacto desses esgotos e a necessidade de um gerenciamento integrado da bacia ressaltam a importância de abordar a questão da poluição de forma abrangente e cooperativa.
Para o vereador Braulio Lara, relator da CPI, a informação trazida pelo diretor da companhia de saneamento só reafirma o que a comissão vem alertando ao longo das reuniões. “Temos falado aqui que o grande problema da Lagoa da Pampulha é a entrada de sedimentos. Temos que barrar esse aporte que assoreia a lagoa, pois esse é o grande problema. Isso sim é tratar a causa. Não podemos deixar entrar esgotos e sedimentos no seu interior”.
Carlos Eduardo finaliza. “Para começar uma despoluição da Lagoa da Pampulha o caminho é coletar 100% do esgoto e tratar 100% do esgoto. A fiscalização tem que ser forte e todas as galerias pluviais devem ser inspecionadas para verificar ligações ilegais de esgotos. Não podemos esquecer que a empresa concessionaria também deve estar amparada legalmente para obrigar as pessoas a ligarem seu esgoto na rede coletora”.
MAIS SOLUÇÕES
Também falaram à CPI da Lagoa da Pampulha Renato Abucham, da Verus Ambiental, e Décio Chami, da Protenco Engenharia. O primeiro apresentou um produto que reduz mau odores e lodo do fundo de rio e lagoa. O segundo apresentou o Projeto Pampulha, idealizado em 1997 e que ainda se mantém atual.
Renato Abucham, diretor da Verus Ambiental, apresentou aos vereadores da CPI o Accell3, um remediador ambiental químico altamente biodegradável que altera e reforça o metabolismo das bactérias nativas da natureza, aumentando significativamente a velocidade com que consomem contaminantes, convertendo grande parte da energia gerada por elas na degradação de matéria orgânica em CO2, em vez de mais biomassa. “Isso aumenta a eficiência das estações de tratamento de efluentes sem incorrer em despesas com equipamentos e ampliações”.
O empresário contou a trajetória do produto e apresentou sua eficácia no Rio Pinheiros, em São Paulo, que recebe elevada quantidade de esgotos através de seus córregos contribuintes e apresenta alta taxa de toxicidade e de emissão de gás sulfídrico causador do mau odor. “Aplicado-se continuamente o nosso produto numa concentração de 1 ou 2mg/L, de acordo com a vazão e por um período contínuo de alguns meses, a água já deixa de exalar mau odor. O tratamento, ao longo do tempo, leva à biodegradação também do lodo de fundo. E a redução da tensão superficial impede que mosquitos depositem suas larvas na superfície da água. Testes realizados com as águas do Rio Pinheiros passando por um canal que simulava em escala reduzida um longo trecho do rio as melhorias foram imediatas”, afirmou.
Décio Chami, da Protenco Engenharia, resgatou o Projeto Pampulha do qual participou em 1997. Ele trazia, à época, um novo conceito de desenvolvimento para Belo Horizonte e consequentemente para a Região da Pampulha. “26 anos depois o projeto precisa de adaptações, mas vários conceitos continuam atuais. O projeto vislumbra o lado da sustentabilidade e a recuperação de toda Pampulha. Este trabalho completo envolveu mais de 100 profissionais de diversas áreas que conceituaram e deram soluções par acada um dos problemas da lagoa”, disse.