Netanyahu, diante de sua última batalha política?

15 out 2023
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Ele nunca teria imaginado ser encurralado pelo Hamas. Com o pior ataque já cometido em Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu poderá em breve ouvir o "canto do cisne", disseram neste domingo (15) analistas ouvidos pela AFP.

"É o início de sua queda", prevê Daniel Bensimon, especialista em política israelense e antigo deputado do Partido Trabalhista, embora admita que não é a primeira vez que se fala do fim político de Netanyahu, de 73 anos, que serviu como primeiro-ministro por 16 anos.

"Mas, desta vez, falhou no essencial de sua função: garantir a proteção de sua população. Por sua culpa, em 7 de outubro, na margem da Faixa de Gaza, o Estado e o Exército estiveram ausentes", disse à AFP. "Pagará caro por isso", completou.

Liderado por centenas de combatentes palestinos infiltrados, o ataque do movimento islâmico Hamas no sul de Israel deixou mais de 1.400 mortos, a maioria civis, e foi marcado por vários massacres.

Será o fim para o chefe do Likud, partido de direita, que ostenta o recorde de longevidade como primeiro-ministro, se uma comissão governamental de inquérito determinar sua responsabilidade pelos últimos acontecimentos.

Em Israel, é o governo que nomeia este tipo de comissão, como aconteceu depois do fiasco da guerra árabe-israelense de 1973, que pegou o país completamente de surpresa, e depois dos protestos como consequência da invasão do Líbano por Israel em 1982.

- 'Puro escândalo' -

"Legalmente, Bibi [apelido de Netanyahu] não é obrigado a fazer isso. Mas a pressão da opinião pública será tal que ele não terá escolha. Caso contrário, o país inteiro irá para as ruas", afirma o analista político Hanan Crystal.

Uma charge de Netanyahu publicada na sexta-feira pelo jornal Haaretz o mostra vestido como um jardineiro, regando alfaces em seu jardim. Em cada uma deles, estão desenhados os rostos dos líderes do Hamas.

"Falhou em todas as áreas. Ignorou as advertências dos militares. Deu prioridade à colonização da Cisjordânia [ocupada por Israel desde 1967] e negligenciou os kibutzim, geralmente de esquerda. E continuou sendo prisioneiro de uma posição equivocada, ao acreditar que o Hamas nunca se atreveria a nos atacar com tamanha barbárie", afirma o cientista político Akiva Eldar.

"E, para piorar as coisas, ele é incapaz de tomar uma decisão", continua Eldar.

A formação de um governo amplo com grupos de oposição e um gabinete de guerra "deveria ter ocorrido 48 horas após a tragédia", em vez de esperar cinco dias, disse um comentarista de uma rádio militar, classificando a situação como "puro escândalo".

Em um sinal de que Israel não esperava nada, um funcionário de alto escalão do governo disse à AFP que não havia reuniões de emergência na agenda do Executivo quando o Hamas atacou.

- 'Nos enganou' -

Os problemas de Netanyahu com a lei - ele está sendo julgado por três casos de corrupção - não o impediram de vencer as eleições legislativas de novembro de 2022 e de voltar ao poder, graças a uma aliança de partidos de extrema direita e de grupos judeus ultraortodoxos.

Os setores mais populares, a base de seu eleitorado, parecem, no entanto, começar a se afastar de sua figura, que tradicionalmente apoiaram contra os progressistas de esquerda de Tel Aviv. Até 7 de outubro, esses grupos se manifestavam todas as semanas, desde janeiro, contra a reforma da Justiça desejada pelo governo e que divide profundamente a população.

"Ele nos enganou. Tínhamos confiança nele, porque liberou fundos para a educação nas escolas religiosas. Mas para que serve o dinheiro quando as gargantas dos nossos filhos são cortadas e nossas mulheres são estupradas? [Netanyahu] deve renunciar", declarou o rabino Elyezer Moshia, na Cidade Velha de Jerusalém.

Rahamim Atali, motorista de táxi de Jerusalém, é mais categórico: "Para a cadeia. É lá que sua carreira deve terminar. O que ele fez é imperdoável e ele sabe disso".

Seus críticos acreditam que o cisma que ele infundiu na população, devido à sua reforma judicial, será um tiro pela culatra.

"Ele chamou seus oponentes de traidores. Mas foram eles que morreram pelo Hamas e também são eles que vão lutar em Gaza", comenta um analista da rádio pública.


FONTE: Estado de Minas


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