Novos protestos e moção de censura na França contra reforma da Previdência
A batalha contra a impopular reforma da Previdência se intensificou nesta sexta-feira (17) na França, após sua polêmica adoção por decreto, com o aumento dos protestos e a apresentação de duas moções de censura contra o governo.
Com as estradas de Paris bloqueadas durante meia hora, escolas fechadas, 10.000 toneladas de lixo acumuladas na capital e as vias férreas em Bordeaux (sudoeste) e Toulon (sudeste) invadidas, o mal-estar dos franceses tomou múltiplas formas.
"Recebemos este anúncio [do governo] como um insulto. Há semanas que não somos escutados. Isso gerou muita raiva", declarou à AFP Philippe Melaine, professor de uma escola de Rennes (oeste), onde mais de 2.000 pessoas foram às ruas nesta sexta-feira.
Na quinta, o presidente liberal Emmanuel Macron decidiu adotar sua reforma sem submetê-la ao voto dos deputados, temendo uma derrota no Parlamento, ao recorrer a um mecanismo legal, mas controverso: o artigo 49.3 da Constituição.
Seu objetivo é aumentar a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos até 2030 e adiantar para 2027 a exigência de contribuição de 43 (e não 42 como agora) para solicitar uma aposentadoria integral. Dois a cada três franceses se opõem à proposta, segundo as pesquisas.
Para impedir a reforma, a oposição apresentou nesta sexta-feira duas moções de censura - uma do grupo independente LIOT e outra da extrema direita - que, em caso de adoção, derrubarão o governo da primeira-ministra Élizabeth Borne e a reforma.
- "Explosão social"
O governo está sob pressão. Para os analistas, o uso do artigo 49.3 é um "fracasso" e simboliza a "fraqueza" de Macron, colocando em risco a capacidade do presidente de governar durante seu segundo mandato.
Macron poderia se salvar "anunciando que a lei será revogada após essa adoção antidemocrática. Mas não é típico dele ouvir os franceses", afirma o editorial do jornal esquerdista Libération.
No momento, a decisão impulsionou uma contestação nas ruas, que havia perdido força nos últimos dias após o maior protesto contra uma reforma social em três décadas, em 7 de março, que contou com entre 1,28 e 3,5 milhões de manifestantes, convocados pelos sindicatos.
No entanto, os sindicatos temem que o movimento social cresça e se radicalize, informou à AFP o presidente da CFTC, Cyril Chabnier, que lembrou que já alertou o governo para "riscos de uma explosão social" em caso de adoção do artigo 49.3.
Centenas de pessoas se reuniram novamente nesta sexta-feira à tarde na Praça da Concórdia de Paris. Na véspera, a polícia dispersou a multidão com o uso de canhões de água e bombas de gás lacrimogêneo. Os protestos, em várias cidades, resultaram em 310 prisões.
À espera da nova rodada de protestos massivos convocados pelos sindicatos para próxima quinta-feira (23), o líder esquerdista Jean-Luc Mélenchon pediu "manifestações espontâneas". O ministro do Interior, Gérald Darmanin, advertiu que não permitirá a "desordem".
O setor da energia, líder das greves prorrogáveis há dez dias, retomou sua intensidade. Os grevistas ameaçaram paralisar duas refinarias na segunda-feira (20).
- Moções de censura -
Após a ativação do artigo 49.3, a primeira-ministra parece muito fragilizada, depois de ter defendido durante meses o diálogo com a oposição para tentar aprovar uma reforma que buscava equilibrar as contas da Previdência. "Nossa vocação é continuar governando", destacou à Rádio France Inter o porta-voz do Executivo, Olivier Véran.
No início da próxima semana, o governo enfrentará duas moções de censura. A proposta apresentada pelo LIOT deve receber o maior apoio, porém, até agora, faltariam 30 votos para os 287 necessários para derrubar o governo e a reforma.
A frente de esquerda Nupes, o grupo de extrema direita de Marine Le Pen e os deputados do LIOT votarão a favor, enquanto o partido opositor de direita Os Republicanos (LR), que negociou a reforma com o governo, apesar da reprovação de vinte deputados dissidentes, não deverá apoiar a moção.
Macron, reeleito para um segundo mandato até 2027 e a quem a moção não afeta, ameaçou dissolver a Assembleia se a reforma for derrubada. Segundo as pesquisas, a extrema direita seria a mais beneficiada com um avanço eleitoral.
FONTE: Estado de Minas