Pela neutralidade do Líbano

31 jul 2023
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Campo de batalha de interesses regionais e internacionais – Israel, Irã, Síria, Arábia Saudita e demais estados do Golfo, além de potências ocidentais como a França e Estados Unidos –, a neutralidade ativa do Líbano, com uma política externa baseada no princípio do não alinhamento automático aos interesses internacionais, é a reivindicação do manifesto que será lançado nesta quinta-feira, 3 de agosto, na Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, às 18h30. A iniciativa é da diáspora libanesa, principalmente no Brasil – que lançará o livro “Coexistência como identidade: a neutralidade do Líbano”, organizado pelos professores da UFMG Miguel Mahfoud e André Miatello. 

Na ocasião, será inaugurada a exposição “Beirute, o caminho dos olhares”, do fotógrafo libanês Dia Mrad, que retrata a explosão do Porto de Beirute, em 4 de agosto de 2020, considerada a segunda maior não nuclear do mundo, que matou 200 pessoas, feriu outras milhares e destruiu metade da capital do país. Participam do evento o embaixador Carlos Duarte, secretário de África e Oriente Médio do Ministério das Relações Exteriores e a embaixadora do Líbano, Carla Jazzar.
Em defesa dessa tese da neutralidade – a exemplo da Bélgica e da Suíça –, o livro apresenta 16 artigos de 17 acadêmicos e personalidades públicas do Brasil, Líbano, Estados Unidos, Egito, Itália e Argentina, vinculados a diferentes posições confessionais, como muçulmanos xiitas, sunitas, cristãos maronitas, ortodoxos, protestantes e drusos. “É propósito do manifesto respaldar o movimento civil de igual teor no Líbano, que busca na neutralidade a convivência pacífica entre os 18 grupos confessionais, ao mesmo tempo em que permitirá a esta nação plural e diversa preservar a sua independência e unidade territorial”, considera Miguel Mahfoud.

DILEMA 

A partir da independência do Líbano, em 1943, o país busca o equilíbrio entre a riqueza de uma sociedade multiconfessional e culturalmente diversa - inclusive abriga a mais expressiva comunidade católica do Oriente Médio - e os interesses regionais e de potências que se vinculam às elites locais, tornando o quadro político interno bastante complexo. Para o professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Danny Zahreddine, um dos autores do livro,  desde o fim da guerra civil libanesa, entre 1975 e 1989, a busca da neutralidade se torna mais difícil, à medida em que as elites que comandam os grupos étnicos religiosos se vinculam a potências regionais e ocidentais. “Os muçulmanos sunitas têm relações fortes com a Arábia Saudita; os muçulmanos xiitas, com o Irã; os cristãos maronitas se dividem, parte deles com olhar para a França, Europa e a outra parte para um Líbano mais próximo do mundo árabe. Os drusos oscilam entre uma relação com o Ocidente e o mundo árabe”, afirma Danny Zahreddine. 
É assim que no Líbano se fazem sentir os sintomas, por exemplo os embates entre Hezbollah e Israel, que são como guerras proxy, manifestações dos problemas entre Irã e Israel; das disputas entre a Arábia Saudita e o Irã; e das disputas entre Irã e Israel. “Uma confrontação direta entre esses países geraria guerras generalizadas e violentas. Essa realidade faz com que se o Líbano se tomar partido de um lado ou outro, sofra as consequências mais nefastas dos desacordos e tensões regionais do que as próprias grandes potências”, afirma Danny Zahreddine, reiterando que a saída mais adequada ao Líbano é que volte a ser o que era antes da guerra civil de 1975, buscando posições neutras, mesmo mantendo a solidariedade altiva na questão palestina, assim como para as questões regionais. 
Para Zahreddine, com o histórico de paz e uma sociedade igualmente multiétnica, o Brasil pode participar ativamente nesse processo de construção de uma perspectiva neutra para a política externa libanesa. “No Brasil está a maior comunidade libanesa fora do Líbano e aqui as relações entre os grupos religiosos é positiva: cristãos, drusos e muçulmanos libaneses têm um relacionamento construtivo. Por que não pensar esse modelo brasileiro para a realidade libanesa?”, diz o professor.  “Transpor esses limites confessionais, étnicos, que são impostos na região, e criar no Líbano um modelo de coexistência pacífica como ocorre no Brasil, este é o esforço que a diáspora libanesa no mundo todo, e principalmente no Brasil, deve empreender”, afirma Zahreddine. O manifesto “Apoio à neutralidade libanesa” está disponível na plataforma Avaaz.

FONTE: Estado de Minas


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