Presidente da Câmara baixa dos EUA se reúne com líder de Taiwan, apesar de ameaças da China
O republicano Kevin McCarthy, presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, recebeu, nesta quarta-feira (5), na Califórnia, a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, e deu início a um encontro simbólico que causa mal-estar junto à China.
Tsai chegou a Los Angeles na terça-feira, depois de uma viagem diplomática a Belize e Guatemala.
Com bandeiras e palavras de ordem, manifestantes pró-Pequim ou em defesa da posição de Taipé se aglomeraram em torno da Biblioteca Presidencial Ronald Reagan, em Simi Valley, onde os dois políticos apertaram as mãos.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, disse esta semana que Pequim "se opõe firmemente" à reunião com McCarthy e alertou que seu país "defenderá firmemente sua soberania nacional e integridade territorial".
A China considera a ilha de governo democrático e autônomo como uma província rebelde que faz parte de seu território e diz que está disposta a retomá-la até mesmo pela força, se necessário.
Sob o princípio de "uma só China", Pequim não permite que nenhum país tenha relações diplomáticas consigo e com Taiwan ao mesmo tempo. Apenas 13 países no mundo reconhecem Taiwan.
Os Estados Unidos reconheceram Pequim em 1979, mas é um importante aliado de Taiwan e seu maior fornecedor de armas.
O apoio à ilha é um dos poucos consensos bipartidários no Congresso americano e, durante o mandato de Tsai, essa relação se fortaleceu.
Washington há muito tempo mantém uma "ambiguidade estratégica" sobre o assunto, uma doutrina que visa dissuadir a China de invadir Taiwan e impedir que os líderes da ilha provoquem Pequim com uma declaração de independência.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, minimizou a escala de Tsai na Califórnia e instou Pequim a não usar isso como "uma desculpa para avivar as tensões".
"Este trânsito de autoridades taiwanesas de alto nível não é uma novidade", afirmou ele a jornalistas em Bruxelas, onde se reuniu com líderes da Otan. "É algo privado e não oficial".
McCarthy planejou inicialmente seguir o exemplo de sua antecessora no cargo, a democrata Nancy Pelosi, que visitou Taiwan em agosto do ano passado.
A viagem provocou a indignação da China, que respondeu com as maiores manobras militares de sua história ao redor da ilha.
McCarthy, então, acabou optando por se encontrar com Tsai Ing-wen e vários representantes do Congresso na biblioteca, em um subúrbio de Los Angeles.
No entanto, Xu Xueyuan, encarregada de negócios da embaixada chinesa nos Estados Unidos, disse à imprensa na semana passada que Washington corria o risco de um "confronto grave" se os líderes americanos visitassem Taiwan ou vice-versa.
Esta semana, o consulado chinês em Los Angeles afirmou em um comunicado que o encontro entre McCarthy e Tsai prejudicaria "os fundamentos políticos das relações entre China e Estados Unidos".
- "Relação de confiança" -
Para Bonnie Glaser, diretora do programa Ásia do grupo de especialistas German Marshall Fund, é provável que a China sinta que deve continuar com a retórica anterior à visita.
"China já fez algumas declarações bastante ameaçadoras, o que sugere que terão que responder de alguma forma. Caso contrário, Xi Jinping poderia parecer fraco", disse Glaser à AFP, do think tank sediado em Washington.
A escala de Tsai ocorre em um momento em que a China intensificou a pressão militar, econômica e diplomática sobre a democracia autônoma.
A presidente, que lidera a ilha desde 2016 e concluirá seu mandato no próximo ano, quer transmitir a mensagem de que Taiwan não está isolada diplomaticamente.
"Ela quer mostrar aos seus concidadãos (...) que criou uma relação de confiança sólida, forte e sem precedentes com os Estados Unidos, o que é muito importante para a segurança de Taiwan", explicou Glaser.
"Temos demonstrado uma firme vontade e decisão de nos defendermos, que somos capazes de administrar riscos com calma e compostura, e que temos a habilidade de manter a paz regional e a estabilidade", declarou Tsai em Nova York, antes de seguir para Los Angeles.
A América Latina tem sido um terreno disputado desde que Taiwan e China se separaram de fato em 1949, ao final da guerra civil. Os comunistas tomaram o poder na China continental, enquanto os nacionalistas recuaram para Taiwan.
Apenas Belize e Guatemala permanecem aliados de Taiwan na América Central, depois que Honduras mudou sua lealdade para Pequim no mês passado.
FONTE: Estado de Minas