Professores semeiam conhecimento e colhem bons resultados
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As históricas dificuldades enfrentadas pelas escolas públicas no país, ao longo dos anos, são compensadas, inúmeras vezes, pelo empenho dos professores e bons resultados dos estudantes. Na comunhão de ensino e aprendizagem, docentes e alunos seguem o caminho buscando terreno fértil para seus objetivos.
“Vamos plantando, semeando e colhendo os frutos do conhecimento”, destaca Fábio Andrade Machado, professor das escolas municipais Cora Coralina, na Região de Venda Nova, e Professor Cláudio Brandão, na Região Noroeste, em Belo Horizonte. Na colheita, está também a professora Laureci Gonçalves Martins, para quem os docentes merecem, sempre, o reconhecimento por parte da sociedade.
Para os que atuam na formação de novos profissionais, a estrada da educação passa pelo conhecimento, pela interação entre docentes e alunos e pela prática da liberdade. “Trabalhamos para a formação de seres autônomos, que pensem com liberdade”, ressalta a professora de filosofia da Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), Magda Guadalupe dos Santos.
Soma de conquistas
Nascido na capital, formado em pedagogia e na profissão há 14 anos, o professor Fábio Andrade Machado leciona matemática e ciências para crianças de 9 a 11 anos do ensino fundamental 1. “Sempre me identifiquei com o estudo da matemática, e procuro despertar o interesse dos jovens com o trabalho lúdico, por meio de jogos e participação em olimpíadas científicas.” Nesse campo, o professor e seus alunos somam conquistas.
Em julho, a aluna da rede municipal de BH Anna Beatriz Mineiro Marques ganhou a medalha de bronze na 4ª Olimpíada Copernicus de Matemática, realizada na Columbia University, em Nova York, nos Estados Unidos (EUA). Ela e o colega Daniel Santos da Costa, também participante da olimpíada, estudam na Professor Cláudio Brandão, no Bairro Aparecida, e competiram com 500 estudantes de 30 países. “É um motivo de muito orgulho para nós”, afirma Fábio, que, além de acompanhá-los aos EUA, supervisionou a preparação de Anna Beatriz e Daniel em atividades em casa e na escola.
No ano passado, alunos da Professor Cláudio Brandão conquistaram medalhas na Olimpíada Canguru de Matemática, na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, na Mostra Brasileira de Foguetes, na Olimpíada Brasileira de Robótica, na Olimpíada Mandacaru de Matemática, e destaque na Olimpíada Mirim da Obmep. Além do prêmio de 1° lugar na Olimpíada Nacional de Matemática On-line Matific.
“Sempre trabalhei em escola pública, e posso dizer que as duas em que sou professor, em BH, encontram-se bem equipadas, com boa estrutura para receber os alunos”, diz Fábio, que muitos chamam de Tio Fábio. Ele está certo de que o compromisso com a realidade, a educação para o futuro e a parceria com as famílias são fundamentais para o rendimento.
“A educação é a chave e o caminho para o sucesso de cada estudante”, afirma o professor, destacando que, nos novos tempos, a tecnologia e todas suas ferramentas vieram para ajudar, embora nada substitua o interesse dos estudantes pelos estudos.
RESPEITO
A mineira Laureci Gonçalves Martins, de 45, seguiu um longo caminho antes de chegar à sala de aula, espaço que considera quase sagrado, pois nele pode educar e ganhar o sustento, além de contribuir para o crescimento da cidade. Professora de educação infantil numa escola do Bairro Novo Aarão Reis, na Região Norte de BH, ela defende com unhas e dentes a profissão escolhida. E pede mais respeito.
“Nos meus tempos de menina, as pessoas consideravam o professor um ‘doutor’, era muito valorizado como ser humano e profissional. Hoje, infelizmente, não há o mesmo reconhecimento”, lamenta Laureci, mãe de Luana, de 13, e Luiz Felipe, de 3. "O professor tem, na maioria das vezes, que enfrentar vários desafios, como, por exemplo, atos de desrespeito contra nossa profissão. Isso ainda é comum na sociedade."
Nascida em Ataleia, no Vale do Jequitinhonha, Laureci veio para a capital aos 22 anos, já formada no curso de magistério, em busca de trabalho e melhores condições de vida. Mas o início foi pura decepção. “Não consegui lugar para lecionar, então me empreguei em padaria, loja, frigorífico.” Mais tarde, conseguiu serviço em creches conveniadas. Sempre de olho no seu objetivo, e sem desanimar, fez concurso, há nove anos, para a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), passou e se sentiu mais tranquila.
Ativa nas ações comunitárias, Laureci também colhe os frutos do que plantou em quase 20 anos de vida ligada à educação. “Amo minha profissão, que é digna e de grande importância na sociedade. Formamos futuros profissionais. Quando trabalhamos em escola pública, precisamos lutar ainda mais, mas estou certa de que educar é a grande vitória. Encontro jovens que vi, pequenininhos, na creche, e fico feliz quando os vejo bem.”
UNIVERSO FECUNDO
Minas Gerais é um vasto universo de professores e alunos. De acordo com o Censo Escolar 2022, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o estado tem cerca de 4,3 milhões de estudantes e 234 mil docentes, considerando todas as redes de ensino (federal, estadual, municipal e privada) das etapas de ensino da educação básica (educação infantil ao ensino médio).
Na rede de ensino estadual, segundo a Secretaria de Estado de Educação, há cerca de 1,6 milhão de estudantes matriculados e 132 mil professores. Na Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), são cerca de 21 mil estudantes matriculados e 1,6 mil professores ativos. Já a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) tem cerca de 12 mil estudantes matriculados e 1.036 professores ativos.
No amplo e fecundo universo da educação, o verbo lecionar só tem – e faz – sentido com a interação de professores e alunos. É, por excelência, um verbo de ação, não existe sozinho. “O ato de ensinar só se compreende e se completa na atividade sincrônica de aprender. Professores e estudantes ensinam e aprendem simultaneamente uns com os outros. Essa é a beleza da educação”, diz a professora de filosofia da Faculdade de Educação da Uemg, Magda Guadalupe dos Santos, com graduação, mestrado e doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e formação em direito na Faculdade Milton Campos.
Ouvir a profissional que prepara futuros professores permite compreender mais sobre o ofício escolhido por ela, há décadas, e conduzido como missão: “Lecionar é a razão da minha vida, uma forma de contribuir para a sociedade”. Para Magda Guadalupe, sua trajetória vai além da sala de aula, pois está certa de que os docentes são agentes de transformação social.
“Trabalhamos para a formação de seres autônomos, que pensem com liberdade. Uma das nossas grandes preocupações, na formação de professores no curso de pedagogia, é atuar para aniquilar o autoritarismo sobre a educação, deixar que os alunos pensem livremente.” Vale destacar que Magda Guadalupe estudou na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich/UFMG), no histórico prédio da Rua Carangola, no Bairro Santo Antônio, em BH, símbolo de resistência ao regime militar (1964-1975) e local escolhido para o Memorial da Anistia, ainda no papel.
Natural de Lagoa da Prata, na Região Centro-Oeste de Minas, a professora, a exemplo de milhares de docentes brasileiros, conjuga as atividades escolares (também leciona na PUC Minas, em BH) com reuniões de trabalho, atividades extracurriculares e a vida familiar. Casada com o professor de língua e literatura grega da UFMG Jacyntho Lins Brandão, tem três filhos e quatro netos. Na terça-feira, após uma manhã de trabalho, e aproveitando uma folga para curtir os netos, no recesso escolar, ela se declarou plena de esperança no futuro. “Passamos pelo período de ditadura no Brasil, enfrentamos a pandemia e vivemos recentes anos conturbados. Diante de tudo isso, a educação e o conhecimento nos revigoram”, acredita.
FONTE: Estado de Minas