Revolta de mercenário deixa ‘rachaduras’ na Rússia, diz secretário dos EUA
Os Estados Unidos avaliaram que o levante e a “Marcha pela Justiça” – o avanço dos combatentes de Prigozhin rumo a Moscou – expuseram “rachaduras” na “fachada russa”. “Foi um desafio direto à autoridade de Putin. Isso levanta profundas questões, mostra rachaduras reais. Não podemos especular ou saber exatamente o para onde elas irão”, disse à rede de tevê CBS o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken.
A Comissão Europeia considerou “uma notícia muito preocupante para o Kremlin” o fato de ter perdido controle da situação e admitiu esperar consequências “a médio e longo prazos”.
Pelo pacto firmado no sábado, Prigozhin devolveria seus homens aos acampamentos do Grupo Wagner e abandonaria a Rússia, exilando-se em Belarus. As autoridades da região de Voronezh, na fronteira com a Ucrânia, confirmaram que os paramilitares partiram. Na madrugada de sábado (24/6), o próprio Prigozhin foi filmado saindo de Rostov-On-Don, a quase 1 mil quilômetros de Moscou.
Anistia para os mercenários
No início deste mês, os serviços de inteligência dos Estados Unidos haviam detectado sinais do motim planejado por Priozhin. Blinken prevê “divisões internas entre Putin e outros russos para determinar o quanto ele mantém de controle interno e sobre a guerra na Ucrânia.”
Professor de ciência política da Syracuse University (no estado de Nova York) e especialista em segurança e elites russas, Brian D. Taylor analisa que a reputação de Putin como um líder forte, e firmemente no controle da política interna, ficará danificada, tanto doméstica quanto externamente.
Ele cita o fato de um exército privado de mercenários ter sido capaz de assumir o controle de um quartel-general dos militares russos em uma cidade de mais de 1 milhão de habitantes (Rostov-On-Don) e, depois, se dirigir quase o dia todo rumo a Moscou e encontrar “pouquíssima resistência”. “Foi um fracasso do Estado russo, dos serviços de segurança, mas, acima de tudo, de seu presidente”, assegurou.
O norte-americano acrescentou que o Exército russo parece não ter recebido ordens claras sobre como reagir. “Agora, sabemos que oficiais negociavam com Prigozhin nos bastidores, e o fizeram para deter o motim. O Estado pareceu fraco, mas teria sido ainda pior para Putin se uma batalha sangrenta ocorresse nos arredores de Moscou”, ponderou Taylor.
Um sinal paras as elites
Ele explicou que o poder de Putin reside na sua capacidade de equilibrar várias partes das elites. “A traição pessoal de Prigozhin contra Putin, causada pelo conflito com a liderança militar, envia um claro sinal às elites de que Putin não consegue manter mais esse balanço. As elites, agora, estão motivadas a criar novas alianças entre si, para protegerem seu futuro depois de Putin.”
Apesar de não concordar que o establishment russo apresentaria fraturas neste momento, o russo Alexander Gabuev, diretor do Centro Carnegie Rússia-Eurásia em Berlim, explicou que Putin usou Prigozhin como uma ferramenta viável para o Estado, injetando recursos no Grupo Wagner. “Ele criou um monstro que acabou por se rebelar.
Prigozhin tornou-se indispensável porque o Exército russo era ineficiente na Ucrânia. Há muitos elementos embaraçosos aqui, como o fato de o Wagner ter se apossado do quartel-general em Rostov-On-Don e conseguido derrubar helicópteros e caças militares”, comentou.
No entanto, ele não vê uma ameaça à sobrevivência de Putin, apesar de reconhecer que a crise desmistifica a alcunha de invencível do chefe do Kremlin. “Mas a comunidade internacional o verá como um fraco, o que dará influência a parceiros de Moscou, como os presidentes Xi Jinping (China) e Aleksandr Lukashenko (Belarus).” O fato é que, em 23 anos no comando da Rússia, Putin enfrenta seu mais difícil momento.
Putin fica mais enfraquecido após o motim do Grupo Wagner?
NÃO
SIM
As 36 horas que abalaram o Kremlin
FONTE: Estado de Minas