Rodrigo Campos e Romulo Fróes cruzam estéticas marginais da Pauliceia no desvario dos sambas do álbum ‘Elefante’
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Rodrigo Campos (à esquerda) e Romulo Fróes lançam o álbum 'Elefante' com nove sambas compostos pelos bambas de São Paulo
Bruno Alves / Divulgação Capa do álbum 'Elefante', de Rodrigo Campos e Romulo Fróes Bruno Alves Resenha de álbum Título: Elefante Artistas: Rodrigo Campos e Romulo Fróes Edição: YB Music Cotação: ★ ★ ★ ★ ♪ Boa parte da melhor música feita em São Paulo (SP) às margens do mercado, nos últimos 20 anos, veio das lavras de Rodrigo Campos e de Romulo Fróes. Álbum conjunto posto em rotação em 10 de novembro, Elefante junta os artistas ao cruzar as estéticas marginais desses dois bambas de Sampa, alinhando nove parcerias dos compositores que evocam o desvario da Pauliceia. Juntos no quarteto Passo Torto ao lado do sambista punk Kiko Dinucci e de Marcelo Cabral, Rodrigo e Romulo se afinam em dupla, dando forma e vozes ao repertório autoral de Elefante, disco pautado pelo samba. Só que, em vez da cadência tradicionalmente bonita do gênero, a dupla cai em suingue enviesado, se equilibrando no contorno sinuoso de Ladeira (2021) – obra-prima apresentada há dois anos pelo trio Samba do Absurdo (formado por Rodrigo com Juçara Marçal e Gui Amabis) – e seguindo o passo torto de Carcaça como se desenvolvesse trilha modernista sinalizada há décadas pelo bamba carioca Paulinho da Viola. Carcaça une as vozes afáveis de Rodrigo e Romulo ao canto igualmente brando de Anna Vis, cantora também presente nos sambas Um amor cantando – composto com inspiração no fogo que tanto iluminou como consumiu a vida ardente do dionisíaco diretor de teatro José Celso Martinez Correa (1937 – 2023), morto em julho em decorrência de incêndio no apartamento do artista – e Já morri nos meus pais. “A voz que me arde quer gritar / A voz da ferida / A voz dividida / A voz avenida, a música”, proclamam Rodrigo e Romulo em versos de outro samba, Quando eu canto. Sim, a dupla remexe em feridas ao longo da avenida. Com as vozes e os violões dos dois artistas, além das percussões de Rodrigo Campos, o álbum Elefante caminha nessa avenida no clima existencialmente cinzento de São Paulo (SP), apresentando personagens como a porta-bandeira de voz-navalha – “Primeira a dizer na cara / A vida não vale nada / Na vida de uma mulher” – perfilada em Ela, a primeira. Quando vislumbra alguma luz em futuro distante, os compositores recorrem ao sol da Bahia, imagem usada em versos de Mil anos depois, samba entrecortado pelos ruídos ásperos do baixo acústico de Marcelo Cabral. Em que pese o flash futurista baiano, o disco Elefante orbita mesmo em torno de São Paulo, cidade-país. “A cidade sem chão vai desabar / Desaguar no seu rio cicatriz / Espalhar a fuligem / Sobre a nossa cabeça / Pra que o sol nunca esqueça / Era tudo vertigem”, poetizam Rodrigo e Romulo no balanço do samba Cidade-trovão. No fim da avenida, o samba-título Elefante reitera o passo torto da dupla bamba na cadência marginal de álbum que perfila solidões no clima permanentemente apocalíptico da cidade-país. Romulo Fróes (à esquerda) e Rodrigo Campos perfilam solidões e personagens paulistanos nos sambas do álbum 'Elefante' Bruno Alves / DivulgaçãoFONTE: G1 Globo