Saiba como é por dentro do casarão em Lourdes que viralizou
Fique por dentro de todas as notícias pelo nosso grupo do WhatsApp!
Aos 44 anos, Sílvia Rocha carrega a tarefa de administrar um casarão tombado no Bairro de Lourdes, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Ela conta que achou graça dos memes feitos nas redes sociais com o local, na Rua da Bahia, depois que um anúncio de aluguel que mostrava um dos apartamentos no valor R$ 800 mensais se espalhou pelas redes sociais. No site, as fotos mostravam um local escuro, sujo e descuidado, como um cenário de um filme de terror.
Mas o resto da família se preocupou com a repercussão do meme e os outros herdeiros tiveram medo de não conseguirem locar o apartamento em Lourdes. A equipe do Estado de Minas esteve no apartamento nesta sexta-feira (7/7) para conhecer o real estado do local.
Ao todo, são seis apartamentos, sendo cinco de quatro andares e um de um quarto, que é o que viralizou. No hall de entrada, as paredes estão pintadas de branco e o piso se divide entre os famosos “caquinhos” e uma cerâmica vermelha com detalhes em branco, com desgastes naturais para uma construção feita em 1945.
Na entrada, há uma escada para os andares superiores. Mas Sílvia nos guia por três degraus abaixo do hall e nos leva para o local que ganhou fama de ‘mal-assombrado’ na internet. Na chegada, já é possível ver que o apartamento não se parece muito com o anúncio. Mesmo sem luzes acesas, o local está claro. O espaço também estava limpinho.
O chão é de cerâmica marrom, que foi colocada há três anos. As paredes são brancas, com algumas infiltrações devido ao tempo (faz mais de dois anos que o local foi pintado). Alguns respingos de tinta marcam o chão.
"Isso é uma lenda da internet"
Na cozinha, a pia está impecável e há um espaço para a geladeira. O banheiro tem vaso e chuveiro e o piso não tem a mancha branca que aparece nas fotos. Ao todo são 60m². “Óbvio que não está impecável, mas está limpo, pintado, com alguns pontos de infiltração que ainda temos que resolver. Nós temos que ser honestos. Não é aquela porqueira que está sendo apresentada na internet de forma desrespeitosa”, descreveu.
Sílvia afirmou que não existe nenhum fantasma no local. “Isso é uma lenda da internet. Ninguém morreu aqui, não tem nenhum espírito do mal. Podem ficar tranquilos que não tem assombração, aqui é só Deus”, brincou.
Interessados em alugar
A família não sabe quem fez o anúncio no site.”Não sei quem tirou aquelas fotos, propositalmente ou não, como foi parar isso na internet”, disse a herdeira, que assumiu a administração do local no começo desse ano. Mas, mesmo com a fama ruim nas redes sociais, a procura pelo apartamento aumentou.
Antes da chegada da reportagem, uma senhora visitou o local na intenção de se mudar, mas, até agora, nenhum morador fechou negócio.
“Aumentou a procura, mas nesse preço que não existe. Não tem como alugar um apartamento no Centro de Belo Horizonte por R$ 800”, contou. Para alugar, o interessado tem que desembolsar R$ 1,5 mil por mês, e não R$ 800 como dizia o anúncio. Também há outras despesas, como IPTU e limpeza.
De pai para filho
Há cinco gerações, o casarão faz parte da história da família de Silvia. O local foi construído como uma residência só, entre os anos de 1930 e 1945, pelo arquiteto Romeo de Paoli. O primeiro morador foi o tataravô de Silvia, que deixou o bem como herança para a bisavó da representante comercial.
A bisa resolveu expandir a construção e dividiu o local em seis apartamentos - um para cada filho. O apartamento do térreo, que viralizou, também tinha quatro quartos e até uma garagem, mas passou por uma redivisão, se transformando em um loft e um cômodo comercial, também disponível para locação.
A avó de Sílvia se mudou para o local após se casar com um dos herdeiros de um dos apartamentos e viveu por lá até seus 93 anos. Nesse tempo, ela era responsável pela manutenção do apartamento e das áreas comuns do edifício. “Ela cuidava com muito zelo e carinho, sempre teve manutenção e pintura”, lembra Sílvia.
"Muitas lembranças, muita afeição"
A neta ainda recorda que passou momentos felizes durante a infância e adolescência na casa da avó e que dona Noeme era quase um patrimônio da Rua da Bahia. “Minha avó ficava muito na varandinha do apartamento dela então muita gente me falava que tinha visto ela quando passava por aqui. Eu tenho muitas lembranças, muita afeição pelo lugar por conta dessa ligação”, lembra.
Há 10 anos, dona Noeme faleceu, deixando o local para três herdeiras: a mãe de Sílvia, uma tia e uma prima. A tia era responsável pelo edifício, mas a administração foi alvo de uma disputa judicial que só se resolveu em 2023.
Agora, sob a gestão de Silvia, ela espera colocar o local de acordo com as normas do Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e da Prefeitura de Belo Horizonte, já que o prédio é tombado. “Tem que preservar o patrimônio histórico”, defendeu.
FONTE: Estado de Minas