Separatistas de Nagorno-Karabakh negociam com Azerbaijão retirada de tropas
Os separatistas armênios de Nagorno-Karabakh afirmaram nesta sexta-feira (22) que estão negociando a retirada de suas tropas do enclave, depois que o Azerbaijão reivindicou o controle da região após uma ofensiva militar relâmpago.
"Negociações estão em curso com a parte azerbaijana, com a mediação dos soldados russos de manutenção da paz, para organizar o processo de retirada das tropas e garantir o retorno para casa dos cidadãos deslocados pela agressão militar", afirma um comunicado divulgado pelas autoridades do enclave separatista.
As partes também estão discutindo "o procedimento de entrada e saída dos cidadãos" de Nagorno-Karabakh, que tem ligação com a Armênia por uma única rodovia, o corredor de Lachin, acrescenta a nota.
O governo do Azerbaijão e os separatistas armênios realizaram na quinta-feira a primeira rodada de negociações para a "reintegração" do enclave, que terminou com o anúncio de que outra reunião acontecerá em breve.
Os separatistas se comprometeram a entregar as armas como parte de um acordo de cessar-fogo que acabou com a ofensiva de um dia do Azerbaijão na região de maioria armênia.
- Capital sitiada -
As tropas do Azerbaijão cercaram Stepanakert, capital da região separatista de Nagorno-Karabakh, enclave do qual reivindicaram o controle após uma operação relâmpago, disse uma porta-voz dos separatistas armênios à AFP nesta sexta-feira.
"A situação em Stepanakert é horrível, as tropas azerbaijanas cercaram a cidade, estão na periferia", disse Armine Hayrapetyan, porta-voz do "governo" deste território separatista habitado maioritariamente por armênios.
"As pessoas temem que os soldados azerbaijanos possam entrar na cidade a qualquer momento e começar a matança", acrescentou.
Os civis da região (120.000 pessoas) relatam a escassez de serviços básicos.
"Não há eletricidade, gás, alimentos, gasolina, conexão de Internet, ou telefônica", disse Hayrapetyan.
"As pessoas estão se escondendo nos porões".
Segundo os separatistas armênios, a operação militar do Azerbaijão deixou pelo menos 200 mortos e 400 feridos.
- Longa espera -
No corredor de Lachin, várias pessoas esperavam nesta sexta-feira, perto de um posto de controle, o retorno de familiares bloqueados no enclave.
"Estou esperando há três dias e três noites. Estou dormindo no meu carro", contou à AFP Garik Zakarian, de 28 anos, que aguarda o retorno da sogra e do cunhado.
Criticado por não ter enviado ajuda a Nagorno-Karabakh, o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, admitiu, no Conselho de Ministros, que "a situação" continua "tensa".
Mas "há esperança de uma dinâmica positiva", acrescentou o chefe do governo armênio, segundo o qual o cessar-fogo que entrou em vigor na quarta-feira entre os separatistas armênios e o Azerbaijão está sendo "globalmente" respeitado.
- Protestos -
Nesta sexta, voltaram a explodir as manifestações contra Pashinyan nas ruas da capital armênia, Yerevan, que terminaram em 84 novas detenções.
"As pessoas devem sair às ruas, Karabakh precisa de nós!", disse Lida Mkrtchyan, de 43 anos, natural desta região.
"Estamos vivendo um pesadelo, do qual não conseguimos acordar. Por que não abrem um corredor para que as pessoas possam sair?", questionou.
Ontem, Pashinyan pediu aos armênios que tomem "o caminho" da paz, mesmo que não seja "fácil".
O primeiro-ministro acusou a Rússia, que tem um contingente destacado em Nagorno-Karabakh desde a última guerra, em 2020, de ter falhado em sua missão de manutenção da paz.
Segundo o Azerbaijão, seis soldados russos desta unidade morreram durante a ofensiva. O presidente Ilham Aliyev pediu desculpas a seu homólogo russo, Vladimir Putin, por estas mortes.
A vitória do Azerbaijão alimenta os temores de saídas em massa entre os 12 mil habitantes de Nagorno-Karabakh, embora a Armênia tenha garantido que não prevê qualquer evacuação em massa. Disse, no entanto, estar pronta para receber "40 mil famílias" de refugiados.
De acordo com a agência estatal de notícias do Azerbaijão, a Azertag, Baku enviou 40 toneladas de ajuda humanitária para a região nesta sexta-feira. Mais de 10 mil pessoas, incluindo mulheres, crianças e idosos, já foram retiradas, disse um fonte ligada aos separatistas.
Nagorno-Karabakh já foi atingida por duas guerras entre essas antigas repúblicas soviéticas do Cáucaso, Azerbaijão e Armênia: uma, de 1988 a 1994, com 30.000 mortos; outra, no outono de 2020, com 6.500 mortos.
FONTE: Estado de Minas