Ucrânia reconhece que superioridade russa trava sua contraofensiva
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, reconheceu, nesta sexta-feira (8), que a contraofensiva de Kiev se vê travada pela superioridade aérea do Exército russo e também criticou a desaceleração na entrega de ajuda militar dos países ocidentais.
"Se nós não estamos no céu e a Rússia está, nos param do céu. Estão freando nossa contraofensiva", disse o presidente ucraniano em uma coletiva em Kiev.
Zelensky também criticou que há "processos que são cada vez mais complicados e lentos" para a imposição de sanções, ou para a entrega de armas do Ocidente.
"A guerra abrandou, reconhecemos", acrescentou ele em declarações pouco usuais do governante ucraniano sobre os poucos avanços de seu Exército no leste e no sul do país.
A contraofensiva ucraniana, iniciada em junho, avança com grande lentidão, devido à complexa linha de defesa estabelecida pelo Exército russo nos territórios ocupados, com trincheiras, campos minados e armadilhas antitanques.
"Quando nossos parceiros nos perguntam 'quais serão as próximas etapas da contraofensiva?', minha resposta é que nossas etapas são mais rápidas que os novos pacotes de sanções" contra a Rússia, explicou Zelensky.
A Ucrânia se queixa regularmente da lentidão nas medidas de retaliação contra Moscou e nas negociações sobre a entrega de caças F-16, de fabricação americana.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, anunciou nesta semana, em uma visita à capital ucraniana, uma nova ajuda de 1 bilhão de dólares (quase R$ 5 bilhões).
O novo pacote americano inclui 665 milhões de dólares (3,3 bilhões de reais) em assistência militar e civil e servirá para que a Ucrânia coloque "impulso" em sua contraofensiva, explicou Blinken em entrevista coletiva.
No total, Washington já concedeu à Ucrânia mais de 40 bilhões de dólares (quase 200 bilhões de reais) desde que começou a invasão russa.
Zelensky disse que a Rússia espera que o apoio militar dos Estados Unidos diminua com as eleições presidenciais americanas de 2024, tendo em conta que "há vozes no Partido Republicano que são partidárias de que se reduza o apoio à Ucrânia".
O presidente ucraniano também acusou seu par russo, Vladimir Putin, de ter "matado" Yevgeny Prigozhin, o chefe do grupo paramilitar russo Wagner, que perdeu a vida no final de agosto depois que seu avião caiu perto de Moscou.
- 'Pseudoeleições' -
A Rússia continua bombardeando as cidades ucranianas com frequência à noite e de madrugada.
Nesta sexta, três civis morreram, e quatro ficaram feridos em um ataque em Odradokamianka, na região de Kherson (sul), informou o ministro do Interior, Ihor Klimenko, no Telegram.
Em Kryvy Rih, cidade natal de Zelensky, também no sul da Ucrânia, um bombardeio atingiu um edifício administrativo e matou um policial. Cerca de 60 pessoas ficaram feridas, segundo os serviços de emergência.
Nos territórios ucranianos anexados pela Rússia em setembro do ano passado foram abertos, nesta sexta, os colégios eleitorais para celebrar eleições locais, tachadas de "falsas" por Kiev.
A Rússia organiza eleições regionais e municipais até domingo em todo o país, incluindo as quatro províncias ucranianas ocupadas parcialmente (Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson), assim como na Crimeia, península anexada em 2014.
"As pseudoeleições da Rússia nos territórios temporariamente ocupados não têm nenhum valor", afirmou o Ministério das Relações Exteriores ucraniano em um comunicado, no qual pediu aos aliados para "condenarem as ações arbitrárias e inúteis" de Moscou.
Na província de Kherson, a votação foi perturbada pelos mísseis, e "a comissão eleitoral [...] foi esvaziada", afirmou a diretora da Comissão Eleitoral da Rússia, Ella Pamfilova, citada pela agência Ria Novosti.
A maioria da comunidade internacional, incluindo muitos aliados da Rússia, não reconhece as anexações dos territórios ucranianos.
- Musk desmantela operação ucraniana -
A Rússia anunciou a detenção de um homem acusado de preparar um ato de sabotagem, a pedido da Ucrânia, contra uma área de transporte ferroviário na península da Crimeia.
Também afirmou que um drone ucraniano foi derrubado no norte da península, sem revelar mais detalhes.
Na rede social X (antigo Twitter), o bilionário americano Elon Musk disse, por sua vez, ter feito fracassar um ataque ucraniano contra a Crimeia.
"Recebemos um pedido urgente das autoridades" ucranianas para ativar o acesso à Internet no Mar Negro do "nosso satélite Starlink", propriedade de Musk e implantado na Ucrânia pouco depois da invasão russa.
Segundo uma passagem da biografia de Musk escrita por Walter Isaacson, cujos trechos mais relevantes já foram publicados na imprensa americana, o objetivo do Exército ucraniano era guiar drones submarinos com explosivos contra a frota russa em Sebastopol.
Depois de falar com um diplomata russo, Musk desativou o satélite e fez a operação ucraniana fracassar.
"Não permitir que os drones ucranianos destruam uma parte da frota militar russa" representa "mais do que um simples erro", criticou o conselheiro presidencial ucraniano Mikhail Podoliak.
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FONTE: Estado de Minas