UE e Celac buscam acordo com debates ofuscados por divergências sobre a Rússia
As negociações entre a União Europeia (UE) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) para concretizar uma declaração final da reunião de cúpula em Bruxelas estavam estagnadas nesta terça-feira (18) por falta de consenso sobre a responsabilidade da Rússia na guerra na Ucrânia.
No segundo dia do encontro entre os blocos, os diplomatas tentam alcançar um acordo difícil, pois alguns países latino-americanos se negam a condenar a Rússia.
De acordo com fontes diplomáticas, o país que expressa mais oposição ao texto final, que já foi alterado para tentar alcançar um acordo, é a Nicarágua.
O ministro chileno das Relações Exteriores, Alberto van Klaveren, se mostrou pessimista sobre um possível acordo.
"Isto parece difícil", disse. "Estamos muito surpresos com membros do nosso grupo que se opõem a uma resolução sobre a guerra na Ucrânia. É uma guerra de agressão".
O desafio de encontrar uma área comum para um acordo entre o bloco europeu de 27 nações e um fórum heterogêneo de 33 países como a Celac é gigantesco, o que ficou evidente durante as negociações prévias ao encontro.
As divergências a respeito da questão da Ucrânia foram demonstradas nos discursos do primeiro dia, que ofuscaram outros temas como os acordos comerciais, incluindo a longa negociação com o Mercosul, a reforma na composição do sistema financeiro internacional, a mudanças climática e a transição energética.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou na segunda-feira que o país "apoia as iniciativas promovidas por diferentes países e regiões em favor da cessação imediata de hostilidades e de uma paz negociada".
"Recorrer a sanções e bloqueios sem o amparo do direito internacional serve apenas para penalizar as populações mais vulneráveis", ressaltou Lula, referindo-se a medidas adotadas por várias potências, incluindo a UE contra a Rússia após a invasão da Ucrânia.
Sem fazer uma menção direta, o chefe de Governo espanhol, Pedro Sánchez, defendeu a 'resolução pacífica dos conflitos nos princípios das Nações Unidas, na proteção dos direitos humanos e no respeito à integridade territorial dos Estados".
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, apontou que "não se deve permitir que a Rússia vença". "Será uma receita para o desastre para o multilateralismo e nosso sistema baseado em regras", declarou.
- Reunião sobre as eleições na Venezuela -
À margem do encontro de cúpula, a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, e o líder opositor Gerardo Blyde se reuniram na segunda-feira com os presidentes da França, Argentina, Brasil e Colômbia, para discutir uma fórmula para que as eleições presidenciais do próximo ano sejam reconhecidas pela comunidade internacional.
A reunião convocada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, teve a participação de Lula, do colombiano Gustavo Petro e do argentino Alberto Fernández, além do chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell.
De acordo com Borrell, a discussão centrou-se em como "promover eleições de forma inclusiva, eleições livres que possam ser reconhecidas pela comunidade internacional".
Na semana passada, o principal negociador do governo e presidente do Parlamento venezuelano, Jorge Rodríguez, descartou o envio de uma delegação eleitoral da UE para as eleições de 2024, depois que o bloco europeu expressou "preocupação" com a inabilitação da pré-candidata opositora María Corina Machado.
O envio dessa missão não ficou decidido, disse Borrell. "Apenas ofereci a possibilidade".
- Associação com o Chile -
Neste cenário, a UE tentou estabelecer uma aproximação com o anúncio na segunda-feira de um plano de investimento de 45 bilhões de euros (50,5 bilhões de dólares, 242,44 bilhões de reais) por meio do programa Global Gateway.
Com o programa de investimentos, a UE se pretende exercer um contrapeso à presença cada vez mais intensa da China na América Latina.
No âmbito dos objetivos de aproximação estratégica, UE e Chile assinaram um memorando de entendimento para uma associação estratégica na cadeia de valor das matérias-primas, com as atenções voltadas para o desenvolvimento da exploração do lítio, vital para a transição energética.
A expectativa inicial do bloco europeu era de que a cúpula fosse um momento para a assinatura do acordo com o Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai), travado após uma série de negociações iniciadas há mais de duas décadas.
O desmatamento e as questões ambientais são obstáculos para um acordo, mas a presidente da Comissão Europeia e Sánchez destacaram que esperam o fim das negociações no segundo semestre do ano.
FONTE: Estado de Minas