Vilarinho: obras avançam, mas comerciantes seguem desconfiados
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O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), visitou, na manhã desta terça-feira (22/8), as obras do reservatório Vilarinho 2. Elas fazem parte da terceira etapa das intervenções para contenção de enchentes na Avenida Vilarinho, Região de Venda Nova. Os trabalhos nos reservatórios Nado 1 e Vilarinho 2 começaram no primeiro semestre de 2021 e têm previsão de serem concluídos no segundo semestre de 2024.
As intervenções acontecem no trecho da Avenida Vilarinho e Rua Dr. Álvaro Camargos, com a função de conter as inundações recorrentes na região. Essa é a terceira etapa das obras no sistema de macrodrenagem dos córregos Vilarinho, Nado e Ribeirão Isidoro.
O prefeito destacou a importância da obra para a capital. “É um complexo de obras que estamos fazendo para eliminar os riscos de morte e inundação da área do Vilarinho, que tem sido uma praga há muitos anos”, afirma.
Noman lembra das etapas já concluídas. “A Lareira Marimbondo já está pronta, uma obra que deve acumular 70 milhões de litros de água. Essa daqui está bem avançada. A expectativa é que, até o segundo semestre do ano que vem, esta obra já esteja totalmente pronta e operacional.”
Apesar de não ficar pronta até o início do período chuvoso, o prefeito ressalta que as etapas já concluídas darão alívio para a região da Vilarinho. “Essa é a terceira. Temos duas etapas prontas. Não resolve o problema, mas já minimiza muito. E no ano que vem, se Deus quiser, o risco, a menos que venha uma catástrofe novamente, será eliminado.”
Segundo o prefeito, o investimento no complexo é de R$ 300 milhões. Ele destaca que há obras em outros pontos da capital, com o mesmo objetivo. “O reservatório do Nado, na área da Tereza Cristina, uma bacia no Olaria pronta e operacional no Córrego do Ferrugem. A nossa expectativa é que para que na Tereza Cristina, esse ano, não tenhamos tantos problemas quanto nos últimos anos.”
Há ainda previsão de obras na Avenida Cristiano Machado, no Bairro Primeiro de Maio. “Ali tem um problema de inundação permanente. A obra já está contratada, a Praça das Águas fica pronta no ano que vem. Nos Córrego Pampulha e Cachoeirinha estamos abrindo um novo canal, que deve ficar pronto em 2025. Estamos atacando três grandes áreas de inundação em Belo Horizonte.”
Perguntado sobre a Avenida Prudente de Moraes, o prefeito diz que a situação é um pouco mais complexa. “Estamos fazendo um projeto e quando estiver pronto, vamos buscar recursos.”
Resolver o problema
O superintendente da Sudecap, Henrique Castilho, detalha o trabalho feito até então para resolver os problemas de enchentes na região. “A água do Nado quando desce... a velocidade é tão grande que primeiro é barrada na primeira etapa, do Lareira Marimbondo. Lá ficam retidos 70 milhões de litros de água. Ela está pronta e funcionando. A água continua descendo na canalização com grande velocidade”, explica.
Segundo Castilho, no local foi feita uma caixa de captação que retém 10 milhões de litros de água. “Agora estamos na terceira etapa, com dois reservatórios: Vilarinho 2 e Nado 1, cada um vai armazenar 115 milhões de litros de água. Quando a água chegar acima de 55 metros cúbicos, ela vai cair no reservatório. Quando a chuva para, começamos a bombear a água.”
O reservatório terá cinco bombas, quatro em funcionamento e uma reserva. “As bombas irão levar a água para o canal, que está limpo e liberado, funcionando perfeitamente.”
Desconfiança e esperança
Os comerciantes e moradores da Avenida Vilarinho ainda estão receosos com a efetividade das obras para conter as enchentes.
Alisson Gonçalves, de 41 anos, é dono de uma loja de tecidos localizada a poucos metros das obras do reservatório Vilarinho 2. Ele lamenta que as autoridades nunca apareceram na região após as inundações, nos últimos anos.
“Que pena que o prefeito não veio visitar a gente quando inundava aqui. Visitar agora que a bacia está ficando pronta é muito fácil”, reclama. O comerciante conta que sempre amarga prejuízos no período chuvoso. “Barro aqui dentro da loja, prejuízo atrás de prejuízo. Em 2021, tivemos três inundações seguidas em janeiro. Nunca tivemos uma visita ou abatimento de IPTU.”
Ele calcula cerca de R$ 6 mil em prejuízos por causa das chuvas. Apesar disso, espera que as obras resolvam o problema definitivamente. “Desde que as obras começaram, tivemos uma enchente esse ano. Entrou uns três metros de água dentro da loja, mas sem prejuízo. Espero que resolva de vez esse problema, mas estou descrente porque toda vida a Vilarinho foi isso”, diz se referindo às inundações constantes.
Por causa delas, o comerciante teve que adotar estratégias para evitar a perda de produtos. “A loja é mais alta, o material sempre exposto de 50 a 60 cm acima do chão e torcer para a chuva vir até esse nível.” Ele lembra que já perdeu muito tecido por causa da lama e da sujeira trazidas pela enchente. “Se contar ninguém acredita. Só quem é comerciante aqui tem a noção do que é uma enchente nessa avenida. É uma coisa alarmante”, afirma.
Gonçalves tem a loja na avenida há 18 anos e perdeu a conta de quantas enchentes presenciou. “Inúmeras. Período de chuva aqui é um ‘Deus nos acuda’. Você já sabe que vai chegar de manhã aqui e terá que limpar a loja”, desabafa.
Leandro Silva, de 38 anos, é gerente de uma auto peças na avenida e também está desconfiado da efetividade das obras. Ele ainda reclama da demora.
“Está tendo uma morosidade na entrega da obra. Possivelmente vai ser um novo paliativo. Não acreditamos que vai resolver o problema, não. O volume de água é muito intenso aqui em dias de chuva.”
O gerente reclama ainda da falta de manutenção e limpeza das bocas de lobo antes do período chuvoso. “A manutenção deve ser preventiva e não corretiva. A Prefeitura e a limpeza urbana, infelizmente, só vêm depois que acontece o caos e o problema.”
Ele conta que a primeira bacia de contenção feita na região conseguiu conter as enchentes. “Porém, no ano passado, ela não foi suficiente. Em poucos minutos de chuva tivemos uma inundação que arrastou carros e motos. Um prejuízo enorme.”
A loja tem uma contenção na porta para tentar barrar a chuva. Silva destaca que todos os estabelecimentos ao longo da avenida têm estratégias parecidas. “Quem não colocou a contenção fez a elevação do passeio ou das entradas. Mas dependendo do volume de água é só barro que sobe e limpeza para os comerciantes.”
Ele ressalta que os prejuízos não são apenas materiais. “Temos prejuízo psicológico, social. Ameaçou chover, os clientes não passam pela avenida. Isso faz com que o faturamento caía.”
FONTE: Estado de Minas