Vizinhos de vulcão no México estão entre ‘não me dá medo’ e ‘vamos embora’
"Não nos dá medo", garante Eufemia entre mugidos, cacarejos e gritos de vendedores durante uma feira de animais perto do vulcão Popocatépetl, que transcorre praticamente indiferente às atividades intensas deste colosso no centro do México.
Sua tranquilidade não é fruto da imprudência. Desde 1994, quando "Don Goyo" voltou à atividade depois de quase sete décadas dormente, ela aprendeu a conviver com explosões, fumarolas, pequenos tremores e precipitação de cinzas em períodos distintos.
"Já estamos acostumados desde 1994, já não nos dá medo", disse, nesta quinta-feira (25), esta mulher sorridente de 65 anos no município de San Andrés Calpan, a cerca de 25 km da "montanha que lança fumaça" (Popocatépetl em idioma náuatle).
Eufemia tenta vender uma dúzia de aves de todos os tamanhos, inclusive pavões, durante um "tianguis", o mercado itinerante que é montado todas as quintas-feiras nesta localidade do estado de Puebla (centro).
Junto com suas aves, outros comerciantes oferecem cavalos, ovelhas e vacas, além de alimentos, comida preparada, roupa, forragem e suprimentos para o campo nesta feira que reproduz um modelo de comércio pré-hispânico.
Ao fundo, e por alguns instantes, as nuvens permitem observar o imponente "Don Goyo" com sua fumarola, que o vento bondoso desvia para o outro extremo do enorme terreno onde está o "tianguis".
Nas últimas horas, o vulcão registrou 19 exalações e também tremores, sinal sísmico associado ao movimento de fluídos no interior da câmara magmática. Em alguns povoados, a precipitação de cinzas diminuiu.
Por causa dele, mantém-se o alerta "amarelo fase 3", que passou a vigorar no domingo passado após uma intensa chuva de cinzas que obrigou a suspender, durante algumas horas, as operações nos dois aeroportos que servem à Cidade do México.
Trata-se do nível imediatamente anterior ao vermelho, de alta periculosidade, que obrigaria a realizar evacuações. Mas para Eufemia, não passa por sua cabeça deixar sua casa.
"Temos nossos animais, e se saímos, os ladrões se aproveitam", justifica ela em conversa com a AFP.
De fato, nem ela nem sua família evacuaram no ano 2000, quando se ordenou que cerca de 50.000 pessoas deixassem suas casas nas comunidades próximas do vulcão.
- Assustados -
A multidão que comparece ao mercado permanece indiferente à atividade do colosso, mais preocupada em acomodar os animais ou em fechar uma venda.
No entanto, a poucos metros do posto de Eufemia, Domingo de los Santos, de 45 anos, se manifesta com prudência enquanto luta para convencer um casal interessado em alguns porcos que ele transporta em dois caminhões.
"Ok, me dê 5.000 [pesos, cerca de R$ 1.400] de boa vontade para que eu possa comer taco", diz aos clientes, que respondem que vão pensar e talvez voltem mais tarde.
"Sim, o vulcão preocupa, as pessoas não querem sair, estão assustadas, temerosas, e as vendas caíram. Hoje vendi apenas três porcos. Imagina você! Não tem muita gente", afirma De los Santos resignado.
Ao contrário de muitos vizinhos da montanha que não querem nem pensar em uma evacuação, este homem já tem um plano em caso de alerta vermelho.
"Infelizmente, os animais ficariam. Agora o importante são os humanos, os familiares. Se há alguma contingência, nada além de pegar uma sacola e vamos embora", afirma, ao explicar que já separou os documentos mais importantes.
Enquanto isso, em Santiago Xalitzintla, a comunidade de aproximadamente 2.000 habitantes mais próxima do vulcão, havia pouca gente nas ruas e a cinza dava trégua. Apesar disso, as autoridades seguiam do lado de fora do palácio municipal, distribuindo máscaras e monitorando os sinais vitais das pessoas.
FONTE: Estado de Minas