Entenda o que são ‘terras raras’ e como será a extração de argila iônica, investimento de R$ 1,1 bi anunciado por Zema em MG
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"Projeto Caldeira" foi adquirido pela australiana Meteoric Resources. Segundo o Ministério de Minas e Energias, o Brasil pode se tornar um dos cinco maiores produtores de terras raras do mundo nos próximos anos. A extração de terras raras no planalto de Poços de Caldas (MG), região da caldeira vulcânica localizada no Sul de Minas, foi recentemente anunciada pelo Governo de Minas Gerais. O investimento será de cerca de R$ 1,1 bilhão em um projeto para extrair argila iônica na região.
O "Projeto Caldeira" foi adquirido pela australiana Meteoric Resources. A área sul-mineira apta para exploração de terras raras foi levantada pela TOGNI Materiais Refratários – empresa de Poços de Caldas. O protocolo de intenções foi assinado nesta quarta-feira (9). Área de extração de terras raras na região da caldeira vulcânica de Poços de Caldas Divulgação / Meteoric Resources "O Brasil pode se tornar um dos cinco maiores produtores de terras raras do mundo nos próximos anos", estima o Ministério de Minas e Energias (MME). Ainda conforme o MME, o Brasil tem a terceira maior reserva de terras raras de todo o mundo, com 21 milhões de toneladas, ao lado da Rússia. Os maiores depósitos se concentram na China (44 milhões de toneladas) e no Vietnã (22 milhões de toneladas). Apesar do tamanho das reservas, a extração realizada no território brasileiro ainda é pequena, conforme o MME. Mas afinal de contas, o que esse investimento pode impactar na região do Sul de Minas? Nesta reportagem, você vai entender: O que são terras raras? Como foram encontradas terras raras na região vulcânica? Como será a extração de terras raras em argila iônica? Quais são os impactos e os próximos passos? O que são terras raras? Terras raras são um grupo de 17 elementos químicos normalmente encontrados na natureza misturados a minérios de difícil extração. Eles são compostos minerais obtidos em lugares específicos do planeta e são utilizados em vários setores para fabricação de diversos produtos. Segundo Marcelo Juliano de Carvalho, diretor-executivo da Meteoric Resources no Brasil, apesar de serem elementos que, de fato, não são tão raros, eles são difíceis de extrair da natureza e por isso recebem o nome. “Eles têm características de luminosidade, de transmissão de energia que fazem com que sejam tão importantes hoje na vida moderna. Depende de uma série específica de evoluções naturais para que eles sejam facilmente extraídos da natureza. Então, por isso, são chamados de terras raras”, explica. Terras raras podem ser transformadas e, assim, se tornarem parte da fabricação de diversos itens que fazem parte da vida moderna. "Os elementos fazem parte dos ímãs, que são muito importantes para eletrificação do mundo hoje”. Entre os principais destinos hoje estão a produção de equipamentos de geração de energia renovável (turbinas eólicas e células fotovoltaicas), cabos, ímãs, baterias de longa geração, foguetes espaciais, e outros recursos de alta tecnologia. Entenda o que são 'terras raras' e como será a extração de argila iônica, investimento de R$ 1,1 bi anunciado por Zema em MG Divulgação / Meteoric Resource Como foram encontradas terras raras na região vulcânica? Os estudos sobre a qualidade e a quantidade dessas reservas na região vulcânica, em Poços de Caldas, são feitos há pelo menos 12 anos. As pesquisas apontaram que o material da região possui um alto potencial mercadológico. No Brasil, segundo pesquisadores, os elementos podem ser encontrados em jazidas próximas a vulcões extintos. Conforme a Meteoric, a área de Poços de Caldas tem história de mineração de argila para tijolos e argilas refratárias. Segundo Lívio Valério Togni, presidente da TOGNI, o planalto de Poços de Caldas (MG) é inteiro mineralizado, com algumas áreas mais ricas e outras menos. A novidade que é por lá nunca foram mineradas terras raras. Entenda o que são 'terras raras' e como será a extração de argila iônica, investimento de R$ 1,1 bi anunciado por Zema em MG Divulgação / Meteoric Resource Conforme o empresário, há registros na literatura da existência de terras raras em Poços de Caldas pelo menos desde a década de 1930. Mas foi somente há cerca de 12 anos que um geólogo que trabalhava na empresa coletou relatos sobre a lavagem dos minerais, processo em que a maior concorrente chinesa se destaca. O objetivo era entender porque a China tinha domínio das terras raras, “quebrando” outros fabricantes no mundo – como Austrália e Estados Unidos. "Até o momento, essa reserva de Poços de Caldas é a mais rica do mundo em termos de percentual de terras raras contidas. Isso significa o melhor projeto desse tipo disponível no mundo hoje em dia", afirmou Lívio Togni ao g1. Além de Poços de Caldas, o MME afirma que atualmente existem estudos de viabilidade de mineração em execução em Araxá (MG), Morro do Ferro (MG), Serra Verde (GO), Pitinga (AM), Foxfire (BA) e Energy Fuels (BA). Como será a extração de terras raras em argila iônica? Os trabalhos serão feitos pela Meteoric Resources, uma empresa australiana que está no Brasil desde 2017. O projeto compreende 51 processos minerários. A exploração será feita em torno da caldeira vulcânica e vão abranger três cidades mineiras: Poços de Caldas, Andradas e Caldas. Segundo a Meteoric, haverá instalações e plantas distribuídas entre os municípios. “O depósito é tão importante e tão grande que, hoje, a gente já tem minério o bastante para minerar por 50 anos. Então não é um investimento de curto prazo”, afirma o diretor-executivo, Marcelo de Carvalho. Quanto a extração, o diretor explica que quando em rocha dura, é necessário moer a rocha para retirar o mineral, o que age como um "ataque". Em Poços de Caldas, o trabalho feito será mais "verde" – focado em questões ambientais – e haverá a participação das argilas iônicas no processo de produção. Segundo Marcelo de Carvalho, no processo com as argilas iônicas, "a natureza já fez o serviço". Ele explica que durante milhões de anos, a água acabou alterando a naturalidade da rocha e, assim, elas não se transformam em areia, mas sim em argila. Entenda o que são 'terras raras' e como será a extração de argila iônica, investimento de R$ 1,1 bi anunciado por Zema em MG Divulgação / Meteoric Resource "Quando o intemperismo quebra o mineral, esses terras raras saem do mineral e são absorvidos por placas de argila, dos argilominerais. Isso faz com que a extração dessas terras raras das argilas seja muito mais simples, mais barata e ambientalmente super amigável, se comparado a depósitos primários de terras raras", explica. Por fim, ele completa que a argila iônica é uma argila normal, porém que contém íons de terras raras. "A TOGNI minerava essa argila para tijolo, e depois para tijolo-refratário, e descobriu que tinha também terras raras na argila. É uma argila normal, só que a composição dela reflete a composição da rocha original". Quais são os impactos e os próximos passos? Os trabalhos da empresa começaram há cerca de cinco meses, em março, quando o contrato foi assinado entre as duas empresas. O protocolo de intenções que firma o investimento foi assinado nesta quarta-feira (9) em um evento em Poços de Caldas. Segundo o diretor-executivo, a empresa já soma em torno de 60 funcionários. A expectativa é que possa gerar até 700 empregos na região. Atualmente, o projeto está na fase de concretização do recurso mineral. Algumas pesquisas minerais vão continuar em progresso para quantificar e qualificar o jazimento mineral da região. Entenda o que são 'terras raras' e como será a extração de argila iônica, investimento de R$ 1,1 bi anunciado por Zema em MG Divulgação / Meteoric Resource A Meteoric também explica se tratar de uma mineração sem rejeitos. “Nós não temos barragem de rejeitos. Não temos estéreis. Basicamente, o que a gente tira, a gente coloca de volta, e coloca fertilizado”. “O mineral bastnasita, que é um mineral que carrega as terras raras aqui, ele não tem tório e urânio, que são minerais radioativos. Então, um dos primeiros testes que a gente fez foi esse. Não existe. Os limites são menores que o limite de detecção geoquímico. Ou seja, não é radioativo. Não é perigoso. O que faz também com que o depósito seja tão interessante na parte ambiental”, explica. A empresa também fará estudos de impacto ambiental na região para a obter as licenças necessárias. Conforme o diretor-executivo, em até 2 anos, a empresa pretende ainda fazer engenharia do projeto e cumprir a parte de licenciamento ambiental. A projeção para início da atividade produtiva é entre 24 e 36 meses. A meta da Meteoric é começar a produzir em 3 anos, ou seja, em 2026. Veja mais notícias da região no g1 Sul de MinasFONTE: G1 Globo