‘Festa da Rua de Baixo’: conheça tradição que começou como celebração junina e se tornou símbolo de resistência dos negros em MG
19 nov 2023
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Festa acontece há décadas em São Tomé das Letras (MG). Evento resgata memórias afetivas que ecoam a tradição e a história dos negros na cidade. Festa da Rua de Baixo: Conheça tradição que começou como festa junina e se tornou símbolo
A Festa da Rua de Baixo é uma comemoração que virou tradição em São Tomé das Letras (MG). O encontro começou como celebração junina unindo a população local. Desde 2018, a festa é símbolo de resistência cultural do povo preto na cidade. A programação deste ano acontece entre os dias 18 e 19 de novembro.
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“Se São Tomé foi fundada pelos pretos, então, cadê nossa história? [...] A gente não tem nossa história contada. [...] Vamos juntar uma coisa na outra para mostrar que a gente existe”, relembra Tiana, uma das atuais organizadoras do evento, sobre o momento em que decidiram ressaltar a tradição familiar.
Festa da Rua de Baixo: Conheça tradição que começou como festa junina e se tornou símbolo de resistência do povo preto em São Tomé das Letras, MG
Maíra Aragão
Apesar de conhecida pela atmosfera mística e mágica, São Tomé das Letras abriga não apenas lendas, mas um patrimônio de belezas naturais e tradições ricas, como a Festa da Rua de Baixo.
A festa é organizada pela sociedade civil e faz parte do calendário municipal de eventos. A "Rua de Baixo" trata-se da Rua Camilo Rios, onde viviam os escravizados e seus descendentes.
"Sempre teve uma separação. Os patrões e empregados. Senhores e escravos, ou então descendente de escravos", conta Tomé Laudelino Rosa, aposentado e parte da família de organizadores.
Existem relatos de que a comemoração tenha tido início há quase seis décadas. Porém, mais duas datas marcam a memória do evento: a primeira se trata dos anos 1996 – quando a celebração ganhou impulso ainda maior – e a segunda, é o ano 2018 – quando recebeu novos significados.
“Era a mesma história: juntava o povo da rua e pedia, cada um, na cidade inteira. Pequenos comerciantes que tinham na época dava uma garrafa de pinga, cravo, canela, aí era quentão e o licor que iam ser feitos. Meio quilo de fubá, um quilo de açúcar, manteiga, queijo… E juntava tudo isso na casa de uma tia minha, em duas ou três casas ali na rua. ‘Olha, a gente tem isso pra fazer’, e fazia. Mas fazia uma festa que era um dia, uma noite”, conta Tiana.
Festa da Rua de Baixo: Conheça tradição que começou como festa junina e se tornou símbolo de resistência do povo preto em São Tomé das Letras, MG
Maíra Aragão
Após tantos anos, o encontro se tornou não apenas um evento, mas uma expressão da resistência e da rica herança afro-brasileira em São Tomé das Letras.
“Ela [festa] mudou para cultura afro em 2018, foi quando eu falei para meu primo Gerson. Ele me chamou para fazer a festa de novo. Eu falei: ‘não, vamos fazer, mas vamos colocar nossa cultura aí, porque não falam da gente”, afirma a organizadora.
Festa da Rua de Baixo: Conheça tradição que começou como festa junina e se tornou símbolo de resistência do povo preto em São Tomé das Letras, MG
Maíra Aragão
Atualmente, a programação resgata memórias afetivas e familiares que ecoam a tradição e a história dos negros. Seja nas oficinas de brincadeiras antigas, no samba de roda, na capoeira, na dança africana, com folia de reis ou até nas congadas. Com toda essa festança, o importante é celebrar.
De uma família, para uma cidade
Família mantém viva tradição e realiza mostra cultural como resistência do povo preto em São Tomé das Letras, MG
Divulgação / Festa da Rua de Baixo
Durante muitos anos os moradores promoveram festas que tinham como principal objetivo divertir e promover a convivência entre todos: aqueles que lá moravam e, também, os visitantes da cidade.
"Os negros oferecem para o povo de São Tomé das Letras e também para quem vem de fora. Porque é uma tradição nossa, nós não 'pode' esquecer", diz dona Ana Zélia Teodoro Rafael da Silva, uma das mais antigas fundadoras da celebração.
Dona Ana é uma das mais antigas referências da Festa da Rua de Baixo em São Tomé das Letras, MG
Divulgação / Festa da Rua de Baixo
Com o passar do tempo esse costume foi sendo esquecido e as festas da Rua de Baixo aos poucos cessaram. Durante a pandemia, a celebração foi paralisada e só retornou em 2022. Atualmente, moradores e familiares retomaram a luta pela preservação das tradições; agora, em um evento ainda mais significativo.
"A festa foi só crescendo. [...] Sempre juntos, sempre dando força porque que ainda contém quem mantém essa tradição aqui nas ruas da nossa cidade", completa Tomé.
Enquanto a cidade muitas vezes é associada apenas à cultura hippie, a Festa da Rua de Baixo busca desmistificar essa ideia, destacando as contribuições significativas da população preta na construção da cidade.
“Quero batalhar pelo nosso espaço na sociedade, para que a cidade comece a enxergar e valorizar o nosso povo", afirma Tiana.
Festa da Rua de Baixo é tradição em São Tomé das Letras, MG
Maíra Aragão
Apesar do sucesso, a realização da festa depende de doações e apoio financeiro. Atualmente nenhum dos envolvidos é remunerado, mas há esperança que as atividades continuem crescendo e ganhando forma a cada edição.
Para eles, mesmo com os obstáculos, a Festa da Rua de Baixo continua sendo mais do que um evento anual; é um testemunho vivo da resistência, cultura e história da população preta em São Tomé das Letras.
“Essa é a nossa ancestralidade, esse é o nosso povo. Era uma festa junina simples e transformamos nessa mostra da nossa históriaque tem que ser contada”, ressalta Tiana ao g1.
Confira a programação:
18/11 - Sábado
10h: Oficina Recreart com Nila
12h: Missa Campal com Padre Robson
13h: Congada
15h: Palco livre
16h: Capoeira
17h: Cortejo dos Orixás
18h30: Café, causos e broas
19h30: Movimento Africanizar
20h30: Afoche Vozes de Orum
21h30: Bloco das Marmotas
22h30: Quadrilha
23h30: Banda Forró Pé de Serra
0h30: Banda Lucas Lavegana
19/11 - Domingo
11h: Companhia de Reis da Serraria
11h30: Companhia de Reis União de São Tomé
12h: Companhia de Reis Barra Mansa
12h30: Companhia de Reis Estrela do Oriente
14h: Terço de São Gonçalo
15h: Dança Circulares
16h: Bingo da Apae
18h: Pagode do Tião Agenor e Banda
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FONTE: G1 Globo