Pior que Lampião? Saiba quem foi ‘Sete Orelhas’, o justiceiro que teria vingado a morte do irmão esfolado vivo no interior de MG
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Novo livro lançado por escritor de Luminárias resgata história de personagem do Sul de MG, que teria caçado e cortado orelhas de assassinos. Januário Garcial Leal, o Sete Orelhas, conforme registros históricos, teria sido um dos mais terríveis facínoras do interior brasileiro, considerado pior até que Lampião, o Rei do Cangaço. Um novo livro lançado por um escritor de Luminárias (MG) resgata a história de uma das lendas urbanas mais marcantes do interior de Minas Gerais e que se perpetua com o passar do tempo.
📲 Participe da comunidade e receba no WhatsApp as notícias do Sul de MG Sete Orelhas foi um fazendeiro que vivia em uma propriedade denominada "Ventania", hoje no município de Alpinópolis (MG), juntamento com sua família e escravos. Sua vida foi pacata até que um acontecimento trágico a mudou definitivamente: a morte covarde de seu irmão João Garcia Leal, que foi surpreendido na localidade de São Bento Abade por sete homens e atado nu em uma árvore, onde foi assassinado a sangue frio, tendo os homicidas retirado lentamente toda a pele de seu corpo. A árvore onde o crime teria acontecido foi apelidada de "Tira Couro". A motivação do crime, conforme a versão mais conhecida, seria uma disputa de terras. Escritor de Luminárias lança romance que resgata a lenda de 'Sete Orelhas', justiceiro do Sul de Minas Arquivo Pessoal / Marcos Vinícius Almeida Conforme os registros históricos, a burocrática Justiça colonial mostrou-se absolutamente indiferente ao episódio, deixando impunes os sete irmãos que haviam executado a barbárie. Foi assim que, ante a indiferença dos órgãos de repressão à criminalidade, que Januário associou-se a seu irmão caçula Salvador Garcia Leal e ao tio, Mateus Luís Garcia, e, juntos, os três capitães de milícias assumiram pessoalmente a tarefa de localizar e sentenciar os autores do crime contra João Garcia Leal, dando início a uma perseguição atroz. LEIA TAMBÉM Escritor de Luminárias lança romance que resgata a lenda de 'Sete Orelhas', justiceiro do Sul de Minas A lei escolhida por Januário, chefe do bando de justiceiros privados, foi a de talião, ou seja, a morte aos matadores – com o requinte estarrecedor de se decepar uma orelha de cada criminoso, juntando-as em um macabro cordão que era publicamente exibido como troféu pelos implacáveis vingadores. Somente depois de decepada a última orelha dos criminosos é que Januário deu-se por satisfeito. Escritor de Luminárias lança romance que resgata a lenda de 'Sete Orelhas', justiceiro do Sul de Minas Arquivo Pessoal / Marcos Vinícius Almeida Realidade ou ficção? A história do "Sete Orelhas", um dos personagens mais importantes da história regional, faz parte do imaginário da população de várias cidades do Sul de Minas e já foi tema de documentários, livros, peças de teatro e até inspiração no cinema. Mas segundo o escritor Marcos Vinícius Almeida, que pesquisou a história para lançar um novo livro em que o "Sete Orelhas" aparece como personagem, há duas versões divergentes sobre quem teria sido o justiceiro. "Minha namorada é historiadora e ela costuma dizer que não existe realidade no passado. O que existe são textos. E textos e memórias orais, às vezes documentos. E esses textos eles não falam por si, eles são sempre interpretados. Então, essa história do Sete Orelhas tem duas fontes. Quem pesquisa história dos Sete Orelhas, fala de versão mineira e versão paulista", explica o escritor. Segundo o escritor, na versão mineira, que é a versão mais famosa, do livro "O Sete Orelhas", de José Teixeira de Meirelles, a briga é por uma divisa de terras, em que o irmão de Januário é esfolado vivo. Monumento que relembra história do "Sete Orelhas" também tem apresentação de cada vítima que perdeu a orelha para o justiceiro Arquivo Pessoal / Marcos Vinícius Almeida Já na versão paulista, baseada no conto "Januário Garcia e os Sete Orelhas", de Joaquim Naubert, o caso se passa em Sorocaba (SP) e não faz nenhuma relação com São Bento Abade. No conto, a história também apresenta diferenças, porque nela, a motivação do crime não é por uma disputa de terras e sim por um caso de amor, em que o filho de uma família se interessa por uma moça, cujo pai não aprova o relacionamento. Aí os irmãos se juntam, pegam o filho de Januário e o esfolam vivo. Aí Januário faz a mesma vingança relatada na lenda. O escritor também aponta outros elementos da história do "Sete Orelhas" que teriam vindo do imaginário popular. "Alguns elementos vêm do imaginário, da violência dos bandeirantes, por exemplo. Era comum os bandeirantes arrancarem as orelhas dos indígenas. Então, isso é uma violência que já estava no imaginário. Eu fui pesquisar, na iconografia medieval, na arte medieval, tem um santo católico que é o São Bartolomeu, que até a capa do meu livro é uma imagem de São Bartolomeu, ele foi amarrado numa árvore e é esfolado vivo. Tem vários santinhos do São Bartolomeu sendo esfolado. "Então, eu não sei se essas histórias se misturam, se apropriam de uma coisa ou de outra, porque é muito parecido a cena dele amarrado na árvore, ser esfolado, você vê as pinturas medievais, tem muitas coisas muito antigas". Lenda do "Sete Orelhas" tem monumento dedicado ao justiceiro em São Bento Abade Arquivo Pessoal / Marcos Vinícius Almeida Para o escritor, a história do "Sete Orelhas" é mais ficcional do que propriamente um registro histórico. "Existia um cara chamado Januário que tinha uma gangue dos Garcias. Esse cara existiu, está documentado. Agora, o Sete Orelhas, ele é mais ficcional do que propriamente histórico. Essa mistura, aí é difícil saber como aconteceu, porque esses elementos vieram de outro lugar. Essa coisa do esfolamento é mais antiga ainda. Está nos santos católicos e também na mitologia grega", explica o escritor. Monumentos em São Bento Abade Quem visita São Bento Abade, o município de cerca de 5 mil habitantes que teria sido palco da matança promovida pelo "Sete Orelhas", é apresentado a um verdadeiro itinerário dessa saga de assassinato e vingança ocorrida durante o período colonial. Na Casa da Cultura Sete Orelhas, há livros e reportagens sobre o assunto. No entorno da figueira Tira Couro, placas informativas em forma de orelha. Na praça central, a figura de Januário Garcia Leal, o Sete Orelhas, está eternizada na estátua de um homem montado em seu cavalo. Em 2015, a figueira onde teria ocorrido o crime, apelidada de "Tira Couro", que deu origem à lenda foi revitalizada no Centro de São Bento Abade. Veja mais notícias da região no g1 Sul de MinasFONTE: G1 Globo