Alaíde Costa inverte papéis conjugais ao cantar música razoável de Marisa Monte e Carlinhos Brown

27 maio 2023
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O arranjo do trombonista Antonio Neves é o 'salvador da pátria' no single 'Moço', primeira amostra do segundo álbum da trilogia feita pela artista com Pupillo, Emicida e Marcus Preto. Capa do single 'Moço', de Alaíde Costa

Enio César

Resenha de single

Título: Moço

Artista: Alaíde Costa

Composição: Marisa Monte e Carlinhos Brown

Edição: Samba Rock Discos

Cotação: ★ ★ ★

♪ Primeiro single do segundo álbum da trilogia prevista para ser gravada por Alaíde Costa sob direção musical de Pupillo, com produção orquestrada por Marcus Preto e Emicida, Moço tem importância histórica por conectar a cantora carioca de 87 anos com a conterrânea Marisa Monte, voz referencial de geração posterior. Marisa é a compositora de Moço, música feita em parceria com Carlinhos Brown.

O fato de Alaíde dar a voz maturada a uma letra que inverte os papéis tradicionais da relação amorosa da sociedade patriarcal potencializa esse valor histórico. Nos versos de Moço, é a mulher quem dá o tom e as instruções para o companheiro que fica em casa, com a responsabilidade dos afazeres domésticos, enquanto a parceira avisa que “foi brincar até mais tarde”.

Intérprete sagaz, Alaíde entende o espírito terno da canção e o traduz no canto conduzido com a devida leveza. A questão é que Moço é música aquém da grandeza da intérprete e do próprio histórico da parceria de Marisa com Brown. A melodia até envolve quando chega no refrão – especialmente nos versos “Moço / A vida é mesmo sempre tão incerta / Dê comida pro gato / Deixe a porta aberta” – sem atenuar a impressão de que faltou um pouco mais de inspiração no conjunto da obra.

Além do canto de Alaíde, o salvador da pátria no single Moço é o trombonista Antonio Neves, autor do arranjo – este, sim, grandioso – que transpõe cordas e metais para um salão imaginário dos anos 1950, em sintonia com a atmosfera musical do primeiro álbum da trilogia, O que meus calos dizem sobre mim (2022), disco calcado no samba-canção e lançado em maio do ano passado.

É preciso conhecer as outras músicas do segundo título da trilogia – entre outras, estão previstas Ata-me (Junio Barreto), Bilhetinho (Rubel, Luz Ribeiro e Emicida), Meus sapatos (Gilson Peranzzetta e Emicida) e Viva (Arnaldo Antunes e Marcos Valle), esta gravada com a participação de Claudette Soares – para saber se o próximo disco de Alaíde Costa manterá o alto nível do primeiro.

O single Moço deixa boa impressão, mas também a certeza de que essa bem-vinda conexão de Alaíde Costa com Marisa Monte poderia ter resultado mais arrebatadora no todo.


FONTE: G1 Globo


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