Americanos criam tecnologia para recuperar fotos nunca reveladas antes para reviver memórias familiares

25 ago 2023
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Mitch Goldstone e Carl Bergman administram a empresa Scan My Photos, que transforma negativos em fotos impressas e digitais. Slides digitalizados

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Essa talvez pareça uma história triste, porque começa com um menino com poucas lembranças de seu pai, que morreu quando ele tinha 7 anos. É por isso que Mitch Goldstone valoriza tanto a única foto que tem com o pai — tirada na Disneylândia no final da década de 1960, quando o conceito de pessoas buscarem automaticamente no bolso as câmeras de seus smartphones só poderia existir na área do parque chamada Tomorrowland ("Futurolândia").

Mas esta história, e as histórias pessoais a seguir, não são nada tristes. E mais de cinquenta anos depois, Goldstone fez alguma coisa com essa lembrança.

Ele está seguindo uma carreira voltada para a alegria da redescoberta. Ele e seu parceiro de longa data, Carl Berman, administram a empresa ScanMyPhotos, que faz parte de um nicho especializado em transformar bilhões de slides analógicos, negativos não revelados e fotos impressas, tirados na época anterior aos smartphones, em baús do tesouro digitais repletos de lembranças que haviam sido esquecidas.

"Não há nada igual, há tão poucas empresas produzindo alguma coisa que faz as pessoas chorarem quando recebem o produto de volta", diz Goldstone. "Felizmente, costumam ser lágrimas de alegria."

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Dar uma nova vida digital às fotos analógicas pode trazer à tona lembranças guardadas há muito tempo, e dar a elas uma sensação de atualidade. Pode trazer de volta o estrondo da água em antigas fotos de férias, ressuscitar em sua melhor forma familiares que se foram há muito tempo, e a reavivar a chama do amor incondicional de um animal de estimação da infância. Pode lembrar as pessoas da complexidade das relações familiares, evocar momentos esquecidos, e, talvez a melhor parte, facilitar compartilhá-los.

Aconteceu comigo. Finalmente encerrei os anos de procrastinação e confiei a profissionais a digitalização dos slides Kodachrome que herdei do meu pai de 81 anos quando ele morreu, em 2019.

Eu não havia conseguido olhar para eles, não de uma perspectiva emocional, mas porque não tinha o equipamento adequado para examinar slides analógicos. Convertê-los em mídia digital acessível me levou a uma jornada de volta à minha infância e ao passado dos meus pais, avós e bisavós. Isso, por sua vez, está me permitindo uma melhor compreensão de como me tornei quem sou.

É um fenômeno compartilhado por outras pessoas que também tomaram medidas para preservar fotos analógicas que haviam sido cuidadosamente tiradas décadas antes que os smartphones permitissem às pessoas tirar fotos de tudo regularmente.

Não é barato. Mas se você tiver os 200 a 300 dólares (930 a 1450 reais) que o processo possivelmente custará, e se conseguir encontrar tempo para vasculhar caixas, gavetas e armários mofados, poderá encontrar uma porta de entrada para experiências assim.

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A última cena de um ator

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Durante sua premiada carreira de ator, Ed Asner ficou famoso por interpretar personagens ranzinzas, mas adoráveis, sendo o mais famoso deles Lou Grant — o chefe de redação em duas populares séries de TV, "The Mary Tyler Moore Show", entre 1970 e 1977, e um spinoff de mesmo nome, entre 1977 e 1982. Asner também dublou o rabugento Carl Fredricksen na animação da Pixar de 2009, "Up: Altas Aventuras", que trazia uma cena comovente sobre o poder da fotografia de reavivar memórias.

Após a morte de Asner, em 2021, uma cena semelhante se tornou realidade. Seu filho, Matt, encontrou centenas de negativos não revelados. Ele decidiu digitalizá-los, juntamente com um acervo de fotos impressas.

"Honestamente, eu não sabia o que receberia de volta", diz Matt Asner. "É um pouco espantoso. Você recebe de volta esse tesouro que abre seus olhos para um passado de que você meio que se lembra. Mas tem muita coisa de que você não se lembra."

Olhar as fotos de seu pai reavivou lembranças que Matt não sabia que estavam guardadas em seu inconsciente. Certo dia, ele estava olhando algumas fotos tiradas dele próprio quando tinha 3 ou 4 anos de idade em uma casa de praia no sul da Califórnia, que seu pai alugava para a família no verão. Uma foto em especial abriu as comportas.

"Tem uma foto minha segurando um peixe morto, e eu tive essa lembrança maluca de encontrá-lo na praia e carregá-lo comigo por quatro dias", ele se recorda. "Minha mãe finalmente o jogou fora enquanto eu dormia, porque estava fedendo muito. Era uma lembrança muito forte, que eu tinha esquecido."

A conversão digital das fotos antigas de Ed Asner também produziu uma série de outras imagens interessantes, como uma do ator quando jovem, observando a si mesmo em um espelho pensativamente, talvez enquanto se preparava para um papel. Matt agora compartilha algumas de suas fotos favoritas do pai em seu perfil no Twitter, mas o que ele mais gosta de fazer é enviá-las aos familiares, algo que o formato digital facilitou.

"Algumas dessas fotos não eram vistas há 40, 50, ou até 60 anos", diz Matt Asner, deslumbrado. "É como abrir um mundo estranho para todos, e nos aproxima como família. Meu pai e minha mãe eram como uma cola para a família inteira. Agora, essas fotos substituem um pouco da cola que se foi."

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A jornada de um diplomata

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Após sua aposentadoria em 2021 de uma longa carreira como diplomata pelos EUA, trabalhando no mundo inteiro, Lyne Paquette voltou para sua casa em Chapel Hill, no estado da Carolina do Norte, e resgatou 12.000 fotos que ela havia tirado com sua câmera analógica durante suas muitas viagens. Depois de meses fazendo uma seleção, Paquette enviou cerca de 3.500 para serem digitalizadas.

Quando as recebeu de volta, ela se viu transportada novamente para muitos lugares onde esteve por designação ou a passeio — vários países da América Central e do Sul, Austrália, Alemanha, Bangladesh, Síria e Vietnã. Embora ela adore relembrar todos os bons momentos com os amigos que fez, algumas de suas fotos favoritas são de seus falecidos pais.

"Traz de volta tanta felicidade, mas às vezes também tristeza", diz Paquette, de 67 anos. "Eu vejo agora: tive uma vida muito, muito rica."

Portfólio de um correspondente de guerra

Russell Gordon trabalhou em 20 países como fotógrafo, fazendo coberturas que o enviaram a guerras, como a da Bósnia. Então, sim, em sua carreira ele acumulou muitas fotos analógicas, slides e negativos. Ele entregou para digitalização 200 das suas favoritas, incluindo registros únicos, como a foto de um colega jornalista no Afeganistão, que acabou sendo assassinado pelo homem que estava entrevistando na foto.

"Eu fiquei como uma criança no Natal, aguardando com muita expectativa", diz Gordon, de 58 anos, ao relembrar a espera pela conversão digital.

Ele não se decepcionou. As lembranças embutidas nas fotos são ainda mais valiosas para ele, que sofre de transtorno de estresse pós-traumático depois de anos cobrindo guerras terríveis. "Tenho um pouco de qualidade de vida agora, mas minha vida atualmente é em grande parte estruturada ao redor da nostalgia", diz Gordon. "Então, isso é um grande presente."

A experiência o convenceu ainda mais de que todas as pessoas com fotos analógicas devem digitalizá-las assim que tiverem oportunidade.

"A vida acontece, e as pessoas morrem", diz ele, com um suspiro. "Quando você se vai, a menos que esteja deixando dinheiro, a única coisa que vai deixar para trás serão algumas fotos."

A descoberta de um geólogo

Clifford Cuffey herdou a paixão pela geologia e pela fotografia de seu pai, que morreu no ano passado.

Essas características em comum se fundiram, e Cuffey se viu com mais de 100.000 fotos, incluindo 70.000 slides Kodachrome que ele tirou entre 1985 e 2009 usando câmeras equipadas com lentes manuais Olympus e Nikon. Muitas das fotos foram tiradas durante suas viagens e estão vinculadas ao seu interesse pela geologia, a profissão que escolheu.

E seu pai, professor de geologia na Universidade Estadual da Pensilvânia, havia deixado fotografias semelhantes, tiradas durante as viagens de férias, quando Cuffey e seu irmão o acompanhavam, ainda crianças. Mas também havia outras fotos dedicadas a hobbies, como trens e ferrovias que não existem mais, animais de estimação antigos, e, claro, fotos de família.

Cuffey, de 55 anos, gastou mais de US$20.000 (R$100.000) digitalizando as melhores fotos analógicas de sua coleção para ajudar a realizar seu objetivo de criar um site focado em geologia. Mas o investimento também está rendendo importantes dividendos emocionais.

"Essas foram coisas divertidas que eu fiz durante a infância", diz Cuffey. "Toda vez que olho minhas fotos escaneadas, fico com um grande sorriso no rosto e muito feliz por ter feito isso."

Opções para digitalizar suas fotos antigas

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Com tantas fotos, slides e outras mídias visuais ainda limitadas ao analógico, a digitalização se tornou uma indústria caseira. Como acontece com qualquer serviço ou produto, é recomendável pesquisar para descobrir qual fornecedor atende melhor às suas necessidades. Mas aqui vão algumas dicas.

Caso não se sinta confortável entregando suas fotos antigas a estranhos, ou ache que os serviços de digitalização são muito caros, existem maneiras de fazer isso por conta própria. Mas isso requer algum conhecimento técnico, paciência e equipamento adequado.

Se você gosta de usar a Amazon, o site de comércio eletrônico reúne os produtos que considera os melhores em seu estoque. A revista PC Magazine recomenda alguns desses produtos. Usando o Google e outras ferramentas de pesquisa, é possível encontrar muitas sugestões para digitalizar fotos por conta própria.

Esta matéria foi originalmente publicada em inglês em 18 de agosto de 2023.


FONTE: G1 Globo


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