‘Beatriz’, valsa de Chico Buarque e Edu Lobo, segue há 40 anos a sina de ter se tornado standard da MPB
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Lançada em 1983 na trilha do balé 'O grande circo místico', na voz de Milton Nascimento, canção tem verso alterado pelo autor da letra após quatro décadas. ♪ MEMÓRIA – Em março, Chico Buarque anunciou mudança na letra de Beatriz, escrita pelo artista sobre a melodia de uma valsa criada por Edu Lobo em 1982 quando os compositores davam forma à trilha sonora do balé O grande circo místico sob encomenda do dramaturgo e diretor Naum Alves de Souza (1942 – 2016).
Chico decidiu alterar uma palavra dos versos “Será que é divina / A vida da atriz”. A palavra “vida” foi substituída por “sina” e, já na reta final da turnê do show Que tal um samba?, a cantora Mônica Salmaso passou a dar voz aos versos “Será que é divina / A sina da atriz” sempre que cantava Beatriz. Espirituoso, Edu Lobo aprovou a mudança e brincou que a valsa demorou 40 anos para ficar pronta. Sim, Beatriz faz 40 anos de vida em 2023. Embora composta em 1982 para a trilha sonora de espetáculo do Ballet Teatro Guaíra, a valsa foi lançada em disco em 1983 na voz divina de Milton Nascimento e, desde então, vem cumprindo a sina de se tornar um dos mais belos standards da música brasileira. Mesmo sem nunca ter sido um hit propriamente dito, até porque nunca tocou em rádio, Beatriz é a canção mais popular do fabuloso score de O grande circo místico, balé criado com inspiração no homônimo poema escrito pelo romancista alagoano Jorge de Lima (1893 – 1953) e publicado em 1938. Ainda que a trilha sonora do balé contenha outras obras-primas da parceria dos compositores, como Sobre todas as coisas e A história de Lily Braun, é Beatriz a música que mais vem seduzindo os intérpretes ao longo desses 40 anos. Intérpretes que geralmente ficam embevecidos quando atentam que a sintonia entre música e letra é tão precisa que a nota mais baixa da partitura de Beatriz recai sobre a palavra chão no verso “Me ensina a não andar com os pés no chão” enquanto a nota mais alta se eleva sobre a palavra céu no verso “Se ela um dia despencar do céu”. Para muitos ouvidos, a gravação original de Milton Nascimento – lançada em 1983 no álbum com a trilha sonora original do balé O grande circo místico – ainda paira soberana como o registro mais belo de Beatriz ao longo desses 40 anos. Contudo, ouvintes atentos também valorizam as gravações sublimes de Cida Moreira (apresentada em 1993 no álbum em que a cantora interpreta o cancioneiro de Chico Buarque), Mônica Salmaso (no álbum de 2007 dedicado ao repertório de Chico, no disco de 2008 que juntou a cantora com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e também no registro ao vivo do show com músicas de Chico que virou DVD em 2009) e Virgínia Rodrigues (no álbum Recomeço, de 2008). Merecem menções honrosas as abordagens de Beatriz pelas cantoras Cláudia (em disco gravado com o Zimbo Trio e lançado em 1994), Gal Costa (1945 – 2002) (no Songbook Edu Lobo, de 1995) e Zizi Possi (no álbum Puro prazer e no Songbook Chico Buarque, ambos de 1999). Curiosamente, se o criador da melodia Edu Lobo gravou oficialmente Beatriz nada menos do que cinco vezes ao longo desses 40 anos, em discos apresentados entre 1995 e 2023, Chico Buarque – autor da letra urdida com versos imagéticos – nunca incluiu a valsa na discografia oficial do cantor. De todo modo, o DVD documental Bastidores (2008) inclui registro de Beatriz com Chico e Edu ao fazer a retrospectiva da obra criada pelo compositor para o teatro. Mesmo sem uma gravação formal de Chico Buarque, a valsa Beatriz segue lindamente há 40 anos a sina de ter se tornado um standard da MPB, uma das canções mais perfeitas e sedutoras da música brasileira em todos os tempos.FONTE: G1 Globo