Caetano Veloso ganha Prêmio UBC pelo conjunto da obra, uma das mais completas traduções do Brasil
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Cosmopolita, o cancioneiro do artista parte da Bahia preta para abarcar referências e sons universais. Caetano Veloso vai receber o Prêmio UBC em cerimônia agendada para 5 de dezembro, na sede da UBC, na cidade do Rio de Janeiro (RJ)
Aline Fonseca / Divulgação ♪ ANÁLISE – Caetano Veloso é o sétimo artista laureado com o Prêmio do Compositor Brasileiro, concedido desde 2017 pela União Brasileira dos Compositores, a UBC, instituição de gestão de direitos autorais que agrega os maiores criadores da música do Brasil. Em cerimônia agendada para 5 de dezembro e organizada sob a direção artística de Zé Ricardo, com números musicais que serão feitos por nomes de várias gerações na sede da entidade no Rio de Janeiro (RJ), o artista baiano receberá o Prêmio UBC, se juntando a um time de laureados que já inclui – pela ordem com que foram homenageados – Gilberto Gil, Erasmo Carlos (1941 – 2022), Milton Nascimento, Herbert Vianna, Djavan e Alceu Valença. Caetano Veloso é celebrado na sétima edição do Prêmio UBC pelo conjunto de obra que inclui, por ora, 642 composições registradas oficialmente. O prêmio é mais do que justo. Como sintetiza Marcelo Castello Branco, diretor-executivo da UBC, o cancioneiro de Caetano Veloso é “onde o Brasil é mais amorosamente baiano e global”. Uma das mais completas traduções do Brasil, a obra autoral de Caetano Veloso foi criada em sintonia com o caráter miscigenado do povo e da música do país. Fascinado tanto pelo samba do Recôncavo Baiano quanto pela bossa nova de João Gilberto (1931 – 2019), o já octogenário compositor – nascido há 81 anos em Santo Amaro da Purificação (BA) – sempre manteve as antenas ligadas no universo pop. Ao arquitetar a Tropicália com o irmão de alma e som Gilberto Gil, Caetano eletrificou a música brasileira em 1967. Cinco anos depois, em 1972, já sinalizou que o reggae iria dar na praia do Brasil em álbum, Transa, de alma roqueira. Dono de espírito inquieto, Caetano Veloso se mantém jovial, e não somente quando incursiona pela atmosfera do indie-rock, como na trilogia de álbuns iniciada em 2006 com o renovador disco Cê. Com um olho na produção de Roberto Carlos e outro na de Arto Lindsay, coprodutor de álbuns essenciais como Estrangeiro (1989) e Circuladô (1992), Caetano Veloso já se permitiu até soar senhoril – como no heterodoxo songbook norte-americano A foreign sound (2004), orquestrado com produção do violoncelista Jaques Morelenbaum – sem perder o elo com o novo. O novo sempre vem em qualquer disco de Caetano. O último álbum de estúdio, Meu coco, reiterou a efervescência criativa da obra do artista. Dentro do coco de Caetano, parece haver um mundo em constante ebulição. Parceiro eventual de Gilberto Gil, Chico Buarque e Milton Nascimento, gênios contemporâneos da MPB, Caetano se basta como compositor. Na obra autoral do artista, letra e música se afinam – ou às vezes se desafinam, pois Caetano sabe valorizar dissonâncias – como raio-x do Brasil. Bússola de país errático, o cancioneiro de Caetano Veloso tem feito soar em todos os tempos, desde que o samba é samba, a sílaba do compositor. Um grande compositor que contempla o Brasil e o mundo com olhar cosmopolita, mas, ao mesmo tempo, enraizado na interiorana Santo Amaro da Purificação e nas memórias dos dias e noites vividos na Bahia preta, fonte mítica e encantada da obra do artista, ora merecidamente laureado com o Prêmio UBC.FONTE: G1 Globo