Diretor de ‘Retratos Fantasmas’, Kleber Mendonça Filho diz que matéria-prima do cinema é a ‘maluquice que é esse país’
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Cineasta esteve em João Pessoa para lançamento de seu mais novo longa e falou sobre a relação entre Recife e a capital paraibana, e sobre o que é 'Retratos Fantasmas' Kleber Mendonça Filho fala sobre estreia de Retratos Fantasmas
O diretor de cinema Kleber Mendonça Filho esteve em João Pessoa na sexta-feira (1º) para um debate com o público sobre o filme “Retratos Fantasmas”, que estreou no último dia 24 de agosto. Em entrevista exclusiva ao repórter Hebert Araújo, o diretor falou sobre a relação entre João Pessoa e Recife, sobre o filme, e sobre a produção cinematográfica no Brasil. LEIA TAMBÉM: Kleber Mendonça Filho fala sobre 'Retratos fantasmas', cinemas de rua, Cannes e 'filmes de boneco' “Retratos Fantasmas” estreou no Brasil após exibições nos festivais de Cannes e Gramado, e explora a história e o atual estado dos cinemas do centro da cidade natal do cineasta. Com imagens do apartamento comprado por sua mãe, usado em "O som ao redor" (2013), Mendonça Filho, diretor de "Aquarius" (2016) e "Bacurau" (2019), fala, na entrevista, sobre inspirações para o longa e também sobre outros aspectos da carreira Leia, abaixo, a entrevista (editada para clareza): Entrevista com Kleber Mendonça Filho, diretor de 'Retratos Fantasmas' Reprodução/TV Cabo Branco g1 - Eu queria que você falasse um pouquinho sobre Retratos Fantasmas, de onde é que surge a ideia, qual o conceito? Kleber Mendonça Filho - O “Retratos Fantasmas” eu venho desenvolvendo já há muitos anos, e é um filme que junta muito material que eu filmei, inclusive na época que eu estava me formando na Universidade Federal de Pernambuco, e naquela época eu tinha uma câmera VHS, eu comecei a registrar os cinemas de rua que estavam fechando, e eu acompanhei de perto o fechamento de alguns deles. E esse material ficou guardado muito tempo, até que uns 10 anos atrás eu voltei para esse material e eu achei que o tempo foi muito generoso, um pouco como uma fotografia guardada, que você redescobre num álbum, numa caixa, e você diz, ‘essas são boas fotos’, e aí eu parti para usar esse material no “Retratos Fantasmas”. g1 - E aí esse material é um material essencialmente documental que você está mesclando com algo que é uma coisa ficcional. Kleber Mendonça Filho - Pois é, quando eu faço um filme eu não penso no que que o filme vai ser, eu nunca pensei que esse filme seria um documentário, eu achava que ele poderia ser uma coleção de imagens que se relacionam com o cinema, e aí depois de um tempo eu entendi que o cinema, no meu caso, começou na minha casa, na casa onde eu cresci, onde eu fui adolescente e onde eu fui adulto também. E aí o filme se tornou um filme que parece um documentário, mas depois de um tempo você não sabe muito bem se é documentário ainda e termina um pouco como uma ficção quase científica. Imagem em 'Retratos fantasmas' Divulgação g1 - E aí tem muita coisa de memória tua, memória da cidade, e essa memória dos cinemas que se comunicavam mais com a cidade, não é? Kleber Mendonça Filho - Pois é, eu acho que todas as cidades têm histórias muito parecidas, a lógica das cidades terminam sendo muito parecidas. Em João Pessoa também existe um número de cinemas que funcionaram na rua e que serviram uma cidade durante o século XX, a mesma coisa com o Rio de Janeiro, com São Paulo, Belo Horizonte, com Nova York, com Recife. Eu acho que o filme está destravando muitas memórias, muitas relações que cada um faz com a sua cidade e a sua própria relação com a sala de cinema. Kleber Mendonça Filho Reprodução/TV Cabo Branco g1 - Como você estava falando dessa cidade, a gente falou da proximidade de João Pessoa e Recife e dessa relação com artistas daqui, de atores que participaram de produções tuas, me fala um pouco sobre isso. João Pessoa e Recife são cidades irmãs, são próximas. Eu sempre tive amigos que são de João Pessoa, ou que moravam aqui e foram estudar lá [em Recife], ou que são do Recife e vieram morar, estudar ou trabalhar em João Pessoa. Isso é muito claro para mim, eu não sinto nenhuma diferença quando eu saio do Recife e venho para cá, em termos de sotaque, e isso é sempre uma coisa que me chama muito a atenção quando eu viajo. Eu adoro vir aqui antes de fazer um filme. Para entrevistar, procurar pessoas, procurar caras, rostos, que podem se encaixar nos filmes que eu estou fazendo. Eu acho que ‘Bacurau’ terminou sendo a maior experiência paraibana que eu tive, em termos de elenco. Trans, negra e nordestina: atriz paraibana que atuou em 'Bacurau' fala sobre transição de gênero Atriz paraibana Danny Barbosa interpretou a personagem Darlene, em 'Bacurau' Reprodução g1 - Com essa boa recepção que seus filmes eles vêm recebendo, quando você olha para o que você fez, para essa trajetória que você construiu, quem é Kleber Mendonça Filho no cinema do Brasil? Kleber Mendonça Filho - É um realizador pernambucano que tem como matéria-prima a maluquice que é esse país. Acho que todos os países, se você olhar para artistas de cada país, eles, elas, vão achar matéria-prima para fazer o que eles têm que fazer. Mas eu, sendo brasileiro, eu tenho muita, eu tenho uma consciência muito forte e grande que esse país é um país incrível, um país belíssimo e também muito problemático. E tem muito material para melhorar, em todos os níveis, as questões sociais, as questões de raça, as questões políticas mesmo, mas é um país belo. E eu acho que isso é muito estimulante e a matéria-prima é riquíssima para você trabalhar no cinema, no teatro, na música, na literatura, é material que não acaba. Vídeos mais assistidos da ParaíbaFONTE: G1 Globo