Disco da Banda Del Rey é registro caloroso de sucessos de Roberto Carlos nos anos 1960

23 ago 2023
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Após quase duas décadas de atuação nos bailes, o quinteto pernambucano aborda o repertório da Jovem Guarda no primeiro álbum, gravado em estúdio. Capa de 'O disco', primeiro álbum da Banda Del Rey

Arte de Chiquinho Moreira

Resenha de álbum

Título: O disco

Artista: Banda Del Rey

Edição: Selo Pedra Onze / Altafonte

Cotação: ★ ★ ★ 1/2

♪ Há sempre alto risco quando uma banda de baile vai para o estúdio gravar as músicas com que anima eventos festivos. Formada em 2004 no Recife (PE) para tocar em festa de aniversário de amiga do vocalista Chinaina, a Banda Del Rey escapa ilesa ao lançar – após 19 anos nos palcos e bailes da vida – o primeiro álbum, intitulado O disco e disponível desde ontem, 22 de agosto, data em que, no ano de 1965, Roberto Carlos, Erasmo Carlos (1941 – 2022) e Wanderléa estrearam o programa Jovem Guarda (1965 / 1968) na TV Record.

Se nos shows a Banda Del Rey apresenta recorte mais amplo do repertório desse movimento pop brasileiro dos anos 1960, tocando canções como Coração de papel (Sérgio Reis, 1966), Chinaina, Chiquitito Corazon (órgão, synth, pandeirola e vocal), Felipe S. (guitarra), O Príncipe (guitarra, violão e vocal) e Vicente Machado (bateria) abordam no álbum somente sucessos de Roberto Carlos, o rei da juventude naquelas tardes de domingo.

Das 10 faixas d'O disco, nove são da Jovem Guarda ou do período imediatamente posterior, quando Roberto ainda fazia transição para a fase adulta da discografia. A exceção é Ilegal, imoral ou engorda (1976), parceria com Erasmo do reinado na década de 1970. Embora deixe um grito de rebeldia parado no ar, essa música soa deslocada n'O disco.

Gravado com a adesão do baixista Estevan Sinkovitz Neto como músico convidado, o álbum da Banda Del Rey cumpre mais o objetivo quando, com a energia do rock, o quinteto toca músicas como Você não serve pra mim (Renato Barros, 1967), Não há dinheiro que pague (Renato Barros, 1968) e Nada vai me convencer (Paulo César Barros, 1969).

“Nunca tivemos a intenção de fazer um álbum. A diversão era tocar essas músicas ao vivo para embalar os bailes. Resolvemos gravar essas canções para marcar um tempo, para deixar um registro da banda para a posteridade”, ressalta o vocalista Chinaina no texto de apresentação do disco, cuja capa criada por Chiquinho Moreira resultou graciosamente vintage ao reproduzir os envelopes em papel que abrigavam vinis.

Ciente dessa ausência de pretensão, é justo reiterar os méritos do álbum gravado entre abril e julho de 2022 nos estúdios Pedra Onze (SP), Estúdio S (SP) e Estúdio Nsa. de Lourdes (PE) com produção musical orquestrada pela própria Banda Del Rey.

O resultado quase sempre é bom. Se o funk Não vou ficar (Tim Maia, 1969) soa sem a pegada do registro original de Roberto e mesmo da (ótima) gravação feita pela banda carioca Kid Abelha no álbum Tudo é permitido (1991), Do outro lado da cidade (Helena dos Santos, 1969) flui com leveza pop aliciante e com o romantismo recorrente em repertório que inclui a balada Quase fui lhe procurar (Getúlio Côrtes, 1968), revivida em gravação mela-cueca que evidencia o toque do órgão do tecladista Chiquitito Corazon no arranjo encorpado com o “sha-lá-lá” do coro.

A maioria das músicas da Jovem Guarda envelheceu bem, o que favorece O disco da Del Rey. Se Negro gato (Getúlio Côrtes, 1965) é tingido com o toque frenético das guitarras de Felipe S. e O Príncipe, Se eu pudesse voltar no tempo (Pedro Paulo e Luiz Carlos Smail, 1970) se revela a joia mais rara do repertório, ainda que o quilate dessa canção seja menor do que os das outras reunidas pela Banda Del Rey neste álbum que eterniza a brincadeira musical levada a sério por esse grupo recifense que se tornou popular em São Paulo (SP), cidade que abriga o vocalista Chinaina.

Como é impossível voltar no tempo, O disco cumpre o propósito de eternizar a passagem da Banda Del Rey pelos bailes da vida.


FONTE: G1 Globo


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