Groove de Robson Jorge e Lincoln Olivetti ecoa forte em disco com músicas e gravações inéditas dos magos do pop dos anos 1980

22 ago 2023
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'Batebca' e 'Suspira' se impõem com as obras-primas de 'Déjà vu', EP que sai em 1º de setembro com cinco faixas feitas entre 1982 e 1986. Capa de 'Déjà vu', disco póstumo de Robson Jorge e Lincoln Olivetti

Arte de Colletivo Design

Resenha de EP

Título: Déjà vu

Artistas: Robson Jorge & Lincoln Olivetti

Edição: Selva Discos

Cotação: ★ ★ ★ ★ 1/2

♪ Um disco com músicas inéditas compostas e gravadas pelo pianista, arranjador, produtor musical e compositor fluminense Lincoln Olivetti (17 de abril de 1954 – 13 de janeiro de 2015) com o guitarrista, tecladista, arranjador e compositor carioca Robson Jorge (23 de abril de 1954 – 19 de dezembro de 1992) – magos do boogie-disco-pop e do groove funkeado dos anos 1980 – é sonho de consumo dos fervorosos admiradores do álbum Lincoln Olivetti & Robson Jorge (1982), título referencial da discografia da black music brasileira.

Pois esse disco existe, se chama Déjá vu e chega ao mundo em 1º de setembro, em edição digital e em LP, pelo selo fonográfico Selva Discos, em edição distribuída via Rush Hour.

O LP virá com encarte de oito páginas com fotos inéditas e textos em português e inglês que dimensionam o legado de Lincoln Olivetti e Robson Jorge na música do Brasil desde que ele se conheceram no estúdio carioca da gravadora CBS, entre 1976 e 1977, por ocasião da gravação do primeiro álbum da cantora Claudia Telles (1957 – 2020).

Caracterizado como “miniálbum” por Augusto Oliviani, diretor artístico do selo, mas a rigor um EP, Déjà vu apresenta cinco músicas inéditas compostas pela dupla e gravadas – de forma parcial ou total – entre 1982 e 1986, período em que Lincoln e Robson varavam madrugadas enfurnados nos estúdios Guerenguê e Floresta, ambos montados na casa de Lincoln.

As músicas foram feitas para uma possível continuação do álbum de 1982. A sequência do disco nunca saiu do plano das ideias. Mas o material inédito ficou guardado até ser garimpado e encontrado por Mary Olivetti, filha de Lincoln e DJ, ao vasculhar o vasto acervo deixado pelo pai em fitas de rolo e em HDs.

Em 2019, Augusto Oliviani já tinha sido informado por Kassin da existência de músicas inéditas feitas pela dupla para esse pretendido volume 2 do álbum de 1982. Mas foi somente em 2022 que o garimpo de Mary Olivetti começou a gerar o que se tornaria o EP Déjà vu a partir do envio para Oliviani de duas músicas inéditas, Dance baby e You, gravadas (parcialmente) em meados dos anos 1980 e encontradas numa mesma fita.

Na sequência, Mary descobriu uma música intitulada Ótima do rolo 1, usada como música incidental do filme Menino do Rio (1982) durante 15 segundos,, mas nunca registrada em disco. Essa música foi renomeada como Sem essa, expressão usada cotidianamente por Lincoln e Robson.

Depois, a filha de Lincoln achou Suspira, faixa praticamente finalizada. Apresentada previamente em single editado em 28 de junho, Suspira – música de Lincoln Olivetti e Robson Jorge com letra de Guto Graça Mello e Naíla Skorpio – abre o EP Déjà vu e vale por si só todo o garimpo de Mary Olivetti e o cuidadoso trabalho de recuperação orquestrado pelo produtor musical Alexandre Kassin.

Com arranjos de metais orquestrados conforme as indicações escritas por Lincoln na época, Suspira ecoa com brilho o groove característico da dupla, remetendo também ao boogie feito por Marcos Valle naquela década de 1980. Lincoln toca piano, bateria e pilota os synths da faixa. Robson toca guitarra e piano, além de cantar.

Robson Jorge (à esquerda) e Lincoln Olivetti no estúdio da gravadora CBS, em 1977

Divulgação / Selva Discos

Por fim, o disco Déjà vu apresenta Batebca, tema encontrado em dezembro de 2022 em HD, já na forma final com que é apresentada no EP após a masterização do fonograma.

Faixa final do EP, apresentada sem acréscimos, Batbeca é a obra-prima de Déjà vu ao lado de Suspira. Trate-se de tema instrumental sem letra – mas vocalizado – que flagra Lincoln Olivetti (piano e synths) e Robson Jorge (guitarra) em estado de graça em gravação feita pela dupla com a adesão de Leo Gandelman no saxofone barítono.

O groove de batida funkeada vai ficando mais envolvente à medida que avança a gravação de cinco minutos e 47 segundos.

Dance baby e You também têm encantos, mas, se tivessem sido encontradas em estágio mais avançado de gravação, as duas faixas provavelmente surtiriam mais efeito no disco viabilizado com produção executiva de Oliviani e Mary Olivetti em associação com Robson Jorge Jr., filho de Robson Jorge.

Contudo, a pós-produção das faixas foi feita com extrema fidelidade ao universo musical dos dois magos do pop. Ambas têm os vocais de Robson Jorge.

Sem essa – música que tem metais orquestrados por Kassin e Marlon Sette de acordo com indicações do arranjo concebido por Lincoln com Robson, além de solo do saxofonista José Carlos Bigorna, músico presente na faixa Aleluia do antológico disco de 1982 – agrega valor documental e música ao EP Déjà vu, fazendo supor que, se tivessem lançado a sequência do álbum editado há 41 anos, Robson Jorge & Lincoln Olivetti provavelmente teriam apresentado outro clássico da discografia black nacional.

Cria dos bailes do subúrbio da cidade do Rio de Janeiro (RJ), onde já era líder de banda desde a adolescência vivida nos anos 1960, Lincoln se afinou instantaneamente com Robson Jorge, virtuoso multi-instrumentista diplomado na escola da soul music à moda brasileira.

Juntos profissionalmente de 1976 a 1992, ano da morte precoce de Robson, os músicos ajudaram a dar forma como produtores e/ou arranjadores, à boa parte da música produzida no Brasil naquela época, sobretudo nos anos 1980, década áurea da dupla.

O disco póstumo Déjà vu corrobora o entrosamento singular dos artistas no estúdio enquanto atesta para a posteridade a magia do som de Lincoln Olivetti e Robson Jorge.


FONTE: G1 Globo


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