Helio Flanders queima no fogo das paixões em show com versos ardentes do poeta Walt Whitman
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Artista apresenta 'Madeira viva com musgo' pela primeira vez no Rio de Janeiro, no clube Manouche, com roteiro que incluiu a música inédita 'A noite do teu coração'. Resenha de show
Título: Madeira viva com musgo Artista: Helio Flanders Local: Manouche Data: 24 de novembro de 2023 Cotação: ★ ★ ★ ★ ♪ Helio Flanders é dos que ardem na fogueira das paixões. Não por acaso, o artista incluiu no roteiro do show Madeira viva com musgo uma bela canção de Angela Ro Ro, Me acalmo danando (1979), em que a artista se consome nesse fogo alimentado por angústias e desesperos bem interpretados pelo canto de Flanders. Na noite de ontem, 24 de novembro, Helio Flanders subiu ao palco do Manouche – clube carioca com charmoso ar de cabaré – para apresentar pela primeira vez no Rio de Janeiro (RJ) o show em que alinha poemas do norte-americano Walt Whitman (31 de maio de 1819 – 26 de março de 1892) com músicas da banda Vanguart (da qual é o principal vocalista e compositor), uma composição inédita – A noite do teu coração, canção iluminada pela melancolia poética entranhada na alma do artista – e com temas do primeiro e por ora único álbum solo de Flanders, Uma temporada fora de mim (2015), excelente disco lançado há oito anos. A costura resultou elegante. Os poemas se afinaram com as músicas pelas temáticas... afins, já que versos de músicas e poemas geralmente falavam de solidão, procura e (des)amor. Alternando-se entre o piano e o violão, instrumento com o qual abriu o show ao cantar Forasteiro (2010), parceria com Thiago Pethitt, Flanders recitou com propriedade alguns poemas gays de Whitman, encontrados em caderno do poeta e escritos por volta de 1860. São rascunhos que constituem as primeiras versões de poemas depois editados, caso de Horas intermináveis, recitado antes da já mencionada canção de Angela Ro Ro. O primeiro poema (bem) lido por Flanders na apresentação do Manouche foi Quando ouvi ao fim do dia, ao qual se seguiu sensível e nada convencional interpretação em falsete de As praias desertas (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958), canção de amor demais como outras da lavra autoral do artista. Dentre elas, cabe destacar Dentro do tempo que eu sou (Helio Flanders, 2015), composição embebida em melancolia, nostalgia, solidão e, também, em urgência de viver. Helio Flanders se alterna entre o piano e violão ao longo do show 'Madeira vivo com musgo', no Manouche, no Rio de Janeiro (RJ) Rodrigo Goffredo Cantor, compositor, músico, escritor e tradutor (ofício que vem sendo exercido por Flanders sobretudo para verter os poemas de Walt Whitman para o português) de origem mato-grossense, tendo nascido em 6 de dezembro de 1984 em Cuiabá (MT), o artista atualmente reside em Paris, na França, mas a alma volta e meia retorna para a terra natal, celebrada na saga existencial de Quando eu cheguei na cidade (Helio Flanders, 2017). A intensidade de Tudo que não for vida (Helio Flanders e Reginaldo Lincoln, 2018) – canção lançada pelo Vanguart, mas mais vocacionada para a discografia solo de Flanders – sinalizou a força do pulso poético do artista, que fechou o show com Romeo (2014), parceria com Thiago Pethit, parceiro de solidões e angústias. No bis, tumultuado por pedidos insistentes e desencontrados do público por músicas do Vanguart, o intérprete encarou a tristeza de E o peito mais aberto que o mar da Bahia (Helio Flanders e Reginaldo Lincoln, 2017) e abriu o coração ao reacender Semáforo (Helio Flanders, 2007), um dos primeiros sucessos da banda Vanguart. Madeira viva com musgo é o segundo espetáculo idealizado por Flanders com inspiração na obra do poeta Walt Whitman. Autor do romance Manual para sonhar de olhos abertos (2021), publicado há dois anos, o artista já apresentou pelo Brasil e pela Europa o show-recital Helio Flanders & As folhas de relva, cujo título reproduz o nome do livro mais famoso do poeta. Esses mergulhos estão em sintonia com a alma poética e musical de Hélio Flanders, cantor e compositor que bebe da fonte de artistas como Cida Moreira – com quem o Vanguart e o próprio Flanders já fizeram algumas gravações – e que, a duas semanas de festejar 39 anos, parece vindo de algum lugar do passado, movido por dor que arrasa céus e corações. Helio Flanders apresenta o show 'Madeira viva com musgo' no clube carioca Manouche Rodrigo GoffredoFONTE: G1 Globo