Jão evolui entre a melancolia e a sensualidade do afogueado álbum ‘Super’
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Artista progride como compositor em disco em que abre o peito em coesa série de canções autobiográficas que expõem emoções reais sobre amor e sexo. Capa de 'Super', quarto e melhor álbum de estúdio de Jão
Gabriel Vorbon / Divulgação Resenha de álbum Título: Super Artista: Jão Edição: Universal Music Cotação: ★ ★ ★ ★ ♪ Como compositor, Jão atinge inédito ponto de coesão na discografia com a safra autoral do quarto e melhor álbum de estúdio do artista paulista, Super, no mundo desde as 21h de ontem, 14 de agosto. Se o repertório do bom antecessor Pirata (2021) balançou no mar alto das paixões, o cancioneiro de Super segue sem grandes oscilações ao longo de 14 músicas compostas por Jão com o habitual parceiro Pedro Tófani e com Zebu, que assina com Jão a produção musical deste álbum afogueado. Artista que sempre deu voz a emoções reais, com repertório criado fora da linha de montagem do pop brasileiro do século XXI, a ponto de abrir mão dos feats. impostos pela indústria, Jão arma a fogueira das paixões em Super com doses bem equilibradas de melancolia e sensualidade sem posar de santo, vítima ou vilão. Aliás, como um moderno Lupicínio Rodrigues (1914 – 1974), Jão clama até por vingança em Escorpião, blues-country-rock embasado com a batida sintetizada recorrente no disco. Me lambe, faixa que tem a adesão do duo Tropkillaz nos créditos, é rock elétrico e eletrônico que expõe a vulnerabilidade do protagonista da narrativa afetiva seguida pelo cantor em Super. “Você quer o seu orgulho e eu só quero você”, admite Jão nesta música que sinaliza a sensualidade explícita no disco. “Me diz qual o seu tipo / Eu sei me transformar”, reitera o popstar, ainda vulnerável, em versos de Gameboy, synth pop que ecoa o som new romantic da década de 1980. Leia a entrevista de Jão ao g1 sobre o álbum Super: “É uma forma de pedir desculpas a mim mesmo” Super, contudo, está longe de ser disco para baixo ou tristonho. Primeira grande música na disposição do repertório no álbum, Alinhamento milenar é rock pop e feliz em todos os sentidos. Outro título sobressalente na safra de Super, Lábia é synth pop movido pelo desejo entranhado no cancioneiro do disco. Lábia escancara o sexo praticado sem culpa por rapaz que, ao chegar na capital paulista, vindo da interiorana Américo Brasiliense (SP), entrou na roda-viva hedonista da pauliceia desvairada em vivência remoída na autobiográfica São Paulo, 2015, faixa mais eletrônica e noturna do disco. Em outro clima e tempo, a melancólica canção folk Maria – que ganha intensidade à medida que a faixa evolui – rememora amor desfeito com o coração do protagonista em chamas. Na sequência, a aliciante balada country Julho ecoa a mesma melancolia gerada pela lembrança de paixão antiga. Contudo, o protagonista dá a volta por cima na sequência da narrativa. Eu posso ser como você flagra Jão se assumindo infiel enquanto versa sobre lealdade e traição sem perder a melancolia, recorrente na canção Sinais, ponto menos luminoso do álbum Super. O disco retoma a força com o synth rock Se o problema era você, por que doeu em mim?, música que exemplifica a evolução de Jão como compositor de boa música pop que passa longe da produção industrial descartável e sem alma dominante no mercado. Canção sedutora, Locadora reitera o progresso autoral do artista em tom vintage dado pela letra situada em algum lugar do passado onde amantes viam filmes em VHS. Rádio versa sobre o amor em tempos de fama e surpreende ao sintonizar, nos vocais que introduzem a canção, o doo wop dos dourados anos 1950 antes de cair na batida pop sintetizada que dá o tom contemporâneo do álbum Super. “A água ainda chove, mas já não me molha / Eu estou em chamas”, conclui Jão, abrindo o peito supersônico na faixa-título Super, canção que se revela épica ao fim da música e ao fim deste ótimo disco em que o artista arde na fogueira das paixões com a intensidade e com a personalidade que o torna um nome diferenciado no pop brasileiro dos últimos cinco anos.FONTE: G1 Globo
