No caminho do rock: Day Limns bate o pé para se manter no estilo

28 set 2023
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Cantora, que começou a carreira no pop, conta em entrevista ao g1 como o estilo a influenciou. Day Limns aposta no pop rock

Reprodução/Instagram

A criação religiosa na infância retardou a aproximação da cantora Day Limns com a música, principalmente com o rock.

Aos 28 anos, a artista foi uma das finalistas na sexta edição do "The Voice Brasil", fez parcerias com Vitão, Di Ferrero, do NX Zero, abriu shows da Pitty e de Avril Lavigne, e bate o pé para abrir mais espaço e brigar pelo rock.

"Eu estou com 220 mil ouvintes mensais no digital. Cheguei a ter quase um milhão, antes de fazer rock. Mas hoje eu me sinto muito mais relevante", afirma em entrevista ao g1. "É uma resistência sem tamanho. Eu quero ser como a Pitty, como a Rita Lee, e fazer história."

Nesta semana, o g1 publica uma série de reportagens sobre o rock tocado por mulheres. Day Limns mudou o curso da carreira ao apostar o estilo e precisou lidar com as consequências.

Música era pecado

"A primeira lembrança que vem na minha cabeça - e a psicanálise diz que é isso mesmo - é eu conhecendo a Avril Lavigne quando tinha 7 anos, lá em 2002. Meu primo me mostrou 'Sk8er boi'", diz a cantora. "O rock chegou para mim já muito mainstream."

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Day, nascida em Goiania, conta que é quase impossível não falar da interferência da religião na sua formação musical - ou na ausência dela. "Cresci na Igreja Evangélica, e isso é uma coisa que limita as minhas possibilidades porque eu não podia ouvir 'música do mundo'", afirma.

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Divulgação

Depois da apresentação do primo à cantora canadense, Day se dedicou a aprender a tocar violão e músicas internacionais. Ainda que sentisse estar cometendo pecado. Conheceu Evanescence, de Amy Lee, Pitty, Linkin Park, e também recebia influência do pop, como Fifth Harmony e Demo Lovato.

"Comecei a ver MTV e para mim o rock chegou mais pop. Eu conheci Green Day porque vi a Avril Lavigne fazendo um cover. Tinha Fall out boy, Panic at the disco. Aí veio coisas mais pesadas, conheci Bring me the horizon, que escutava com muita culpa no coração", afirma.

A decisão de se tornar uma artista veio então quando assistiu pela primeira vez ainda na TV uma apresentação do Paramore, de Hayley Williams. "É uma das que eu mais me identifico, porque ela é uma mulher cristã, ela veio de um background religioso", diz.

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Divulgação/Lindsey Byrnes

"Ela cantava sobre coisas que me tocava muito neste lugar, eu me sentia menos mal. É uma loucura, porque em uma época eu tive que fazer jejum de 'música do mundo', era uma pressão psicológica e a Hayley me fez me sentir melhor, de falar abertamente da fé dela. Não tinha problema entrar nos lugares, estar no show, e isso foi muito significativo."

Day iniciou a sua trajetória profissional fazendo covers, voz e violão, e postando nas redes sociais, ainda com influências do pop, entre os anos de 2012 e 2013, mesma época em que se assumiu lésbica.

Ela ganhou repercussão nacional ao ser uma das finalistas do The Voice Brasil, em 2017, no time de Lulu Santos. "Bem-vindo ao Clube", seu primeiro disco já calcado no pop rock e na nostalgia roqueira, apareceu em 2021, com parcerias como o de Lucas Silveira, do Fresno, e participação de Gee Rocha, do NX Zero, na banda.

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Agora, ela diz, procura se desvencilhar deste saudosismo e encontrar um caminho para chamar de seu. "A Pitty é uma referência, mas se as pessoas esperam que eu vou fazer igual, vão quebrar a cara", afirma.

"Vou fazer rock nos meus próprios termos, porque para algumas pessoas eu não sou rock suficiente e também não sou pop o suficiente. Tenho que caminhar no meu mundinho."

Virada roqueira

A aposta no som mais pesado não foi uma decisão fácil. "Meu primeiro EP foi lançado numa parada mais pop e R&B, que eu amo, amo. Mas era uma coisa mais romântica, mais sensual e mais comercial", diz.

"Neste momento, eu tive uma ótima estreia, era uma artista nova, tinha os olhos da indústria, da gravadora, de 'vamos investir', até lançar 'Geminiana', em 2019."

Apesar de ser a sua faixa de maior sucesso, ela conta que no fim daquele ano, algo a incomodava com os rumos que sua carreira estava tomando. Insatisfeita com o lugar que estava ocupando, ela voltou para o bloco de notas e as suas composições passaram a soar mais pesadas, que resultou no EP 'A culpa é do meu signo'.

"Com 'Geminiana', alcancei 900 mil ouvintes mensais. Eu era capa de playlist, estava em todos os portais, aquela coisa. Mas eu estava desmotivada. Era uma coisa difícil, cantar na primeira faixa que você é mulher e gosta de outra mulher, imediatamente você é nichada."

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Gabriel Freitas

Foi com este sentimento, ela conta, que a fez voltar nos motivos que a levaram para a música. "Lembrei de tudo que escutava e era aquilo que me fazia sonhar, por isso eu fiz o 'Bem-vindo ao clube'", diz.

O disco foi uma introdução para esse novo caminho que ela queria seguir. "As baterias e as guitarras eram mais filtradas, porque estava vindo de 'Geminiana', que era mais de boa, tinha que amaciar as pessoas, e não podia chegar pesada."

Ainda assim, ela diz, sua gravadora alertou sobre a possibilidade de não dar certo, já que outros artistas estavam caminhando por outras sonoridades. "Daqui uns anos, todo mundo vai querer fazer isso e eu quero puxar o bonde neste novo momento, do meu jeito."

"Mas foi isso: eu fui de 900 mil ouvintes mensais para 100 mil."

Resistência

O retorno de bandas como NX Zero, Paramore e outras iniciativas roqueiras indicam que o cenário pode estar mudando para o rock. No entanto, existe resistência quanto ao seu som, segundo ela, por ser ainda mulher, trazer temáticas LGBT e abordar questões ligadas à religião. Mas ela não quer fazer diferente.

"Me tornei uma pessoa traumatizada em várias coisas, uma pessoa reprimida, e o rock vem muito deste lugar, de querer a revolução. O punk rock veio muito desse lugar e eu vou continuar tentando", diz.

Um de seus movimentos é tentar trazer mais mulheres para o backstage - da produção do álbum ao palco. E Day viu o quão importante é isso. Ela lembra de meses atrás ser uma das únicas mulheres no line-up de um festival de rock com vários dias de duração.

Day Limns: 'Quero ser como Pitty, como Rita Lee. Quero fazer história'

Reprodução/Instagram

"Me toquei que era a única mulher, no meio de pessoas que tinham mais anos de carreira do que eu tenho de idade. Mas não me intimidei, minhas referências são mulheres."

Para ela, estar ali, ocupando aquele local, foi um ato de resistência, quase político, principalmente em um momento em que existe certo desdém com o rock.

"Hoje estou com 220 mil ouvintes mensais nas plataformas. Já tive quase um milhão, mas hoje me sinto mais relevante", diz. "A pessoa que estava lá com 900 mil não estava abrindo show da Pitty, não estava abrindo show da Avril Lavigne, ou pra Fresno, fazendo feat com Di Ferreiro", diz.

"Quero ser que nem a Pitty, cara. Quero ser que nem uma Rita Lee. Quero fazer história, quero falar, gerar discussão, fazer as pessoas falarem sobre alguma coisa que mude o rumo da vida, como mudou o meu. É gritar mesmo, querer causas a revolução."


FONTE: G1 Globo


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