No Web Summit, Kondzilla defende protagonismo para jovens de favela pelo estudo da tecnologia

02 maio 2023
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Um dos maiores produtores de conteúdo do país acredita que os exemplos de sucesso precisam ter mais visibilidade: 'O Brasil é case em várias áreas da tecnologia e a gente fica sempre divulgando o quanto que consumimos de dancinha de Tiktok'. Kondzilla participa do Web Summit Rio

Raoni Alves/g1

A participação do youtuber brasileiro de maior sucesso nos últimos anos no maior encontro de tecnologia e inovação do mundo, o Web Summit, provocou reflexões para quem pretende incentivar novos talentos nas favelas e periferias do país. Para o produtor Kondzilla, os jovens precisam saber como a educação foi fundamental para o sucesso de grandes nomes brasileiros da tecnologia.

"A gente precisa levar talentos para (inspirar) a molecada de favela, incentivar a estudar tecnologia e pegar quem já estudou tecnologia (...) O Brasil é case em tecnologia em várias coisas. É case na receita, é case em arranjo de pagamento, em pagamento via aproximação, é case nas eleições, e a gente fica sempre divulgando o quanto que a gente consome de dancinha no Tiktok", alertou o produtor durante o evento, na Zona Oeste do Rio.

Dono de uma das maiores marcas da internet brasileira, Kondzilla acredita que os exemplos de sucesso precisam ter mais visibilidade para incentivar os jovens a estudar. O produtor de conteúdo disse, durante o segundo dia de Web Summit Rio, que os "heróis e heroínas" precisam contar sobre o papel da educação em suas vidas.

"A primeira coisa é identificar o que a gente é case, quem são as pessoas que estão desenvolvendo essas ferramentas, que são referência para todo mundo e dar protagonismo para essa galera. Precisamos dar visibilidade, mostrar como a educação foi importante para transformar a vida delas", opinou.

"Por muitos anos, os jovens de favela quiseram ser jogador de futebol, youtuber, funkeiros, enfim, tem uma porrada de referência. Eu acho que também temos os jovens de favela que querem se transformar ricos e querem transformar a vida da família deles através da tecnologia", comentou o empresário.

Dono de um dos maiores canais do Youtube na América Latina e que já foi o terceiro maior canal de música do mundo, com 65,9 milhões de inscritos e 36,5 bilhões de visualizações, Kondzilla apresentou um pedaço de sua história no palco e em mais dois painéis do Web Summit Rio desta terça-feira (2).

Em sua apresentação, o empresário Konrad Dantas, contou sobre a primeira decisão que mudou sua vida. Ele decidiu investir em educação.

"Quando minha mãe morreu, eu trabalhava com web desinger e ganhava R$ 913. Eu tinha direito ao dinheiro do seguro de vida dela e muitas pessoas falaram que eu tinha que comprar um apartamento. Mas eu decidi investir em estudos. Eu e meu irmão investimos em educação. Eu comecei a estudar computação gráfica, cinema 3D e aprendi a mexer em todas essas ferramentas que depois foram reduzidas a um computador móvel, a um computador de bolso, a uma câmera", contou Kondzilla.

Nascido em Vila Santo Antônio, uma comunidade do Guarujá, no litoral de São Paulo, Kondzilla acredita que a sua história e de outros grandes nomes da tecnologia podem inspirar os jovens e colocá-los no caminho do conhecimento.

"Tinha um cara que morava lá que tinha um carro importado, bacana, um carro caro pra gente. Eu vi ele chegando de São Paulo com o carro importado na favela e eu falei: 'Quero ter um carro desse ai'. Eu admirava o moleque que era um programador e não o traficante que tinha moto, que tinha carro", contou.

O vizinho que inspirou Konrad tinha estudado no Senai e se formado na Fatec. E isso foi o incentivo que ele precisava para dar sequência na carreira.

Desde 2011, quando Kondzilla começou a gravar seus primeiros vídeos, ele virou o "Rei dos clipes de funk no YouTube" e chegou a ter 1 bilhão de acessos por mês.

Conscientização gerou prejuízos

Kondzilla participa do Web Summit Rio

Raoni Alves/g1

O sucesso do trabalho de Kondzilla na internet também precisou se adaptar com o passar dos anos. E segundo ele, algumas mudanças eram importantes mesmo que aquilo representasse perda de receita.

Isso aconteceu em 2016, quando após uma participação de um de seus clientes no programa "Encontro com Fátima Bernardes". Na ocasião, MC João cantou uma versão adaptada de sua música, sem palavrões. Essa era uma pratica comum na indústria do funk, que na maioria das vezes produzia uma versão mais "leve" que a original para tocar em rádios e programas de TV.

"A partir disso, a Kondizilla tirou o palavrão das músicas, a gente parou de filmar mulher de calcinha e a gente parou de filmar cenas com armas", contou.

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No primeiro momento, a decisão trouxe um maior alcance para o canal de Konrad, mas logo ele viu seus concorrentes tomarem parte de seu mercado por não usar o mesmo filtro.

Contudo, para o produtor, era mais importante não propagar discursos machistas.

"A gente alcançou um público muito maior, um público que tinha preconceito de ouvir funk, que não deixava os filhos consumir funk dentro de casa, a gente fez um funk versão rádio, a gente conseguiu explodir nossa base de fãs. O lado ruim, é que antes a Kondzilla não tinha concorrente e a partir do momento que eu tomo essa iniciativa, de fazer esse filtro dentro dos nossos conteúdos, eu deixo de ser uma unanimidade para quem eu escolho para produzir, veicular e distribuir os meus conteúdos. E ai surgiram outros concorrentes que performam muito bem", explicou o produtor.

A luta pelo empoderamento feminino e o combate ao machismo na indústria da música também ganhou força com a criação do projeto Hervolution.

Criado pela esposa e sócia de Kondzilla, a empresária Alana Leguth, a inciativa tem como objetivo colocar mais mulheres trabalhando em todos as etapas da produção de conteúdo

A ideia é formar mão de obra feminina para trabalhar na indústria do entretenimento.

"É um projeto de empoderamento das mulheres no audiovisual, na música. Então é formar diretora de cena mulher, roteirista mulher, fotógrafa, produtora musical (...) Isso foi um grande desafio, mas conseguimos encontrar uma mulherada bem foda, que consegue bater de frente com qualquer produtor musical no mundo", completou Kondzilla.

IA na música

O debate sobre Inteligência Artificial foi destaque durante o segundo dia do Web Summit no Riocentro, na Zona Oeste do Rio, nesta terça-feira (2) e Kondzilla também avaliou como essa nova tecnologia pode influenciar no futuro da música no mundo.

Na opinião do produtor, o primeiro passo é regulamentar a questão. Para ele, mesmo que uma máquina possa criar uma música, ela vai usar referências de artistas reais e por isso os produtores precisam ser remunerados por isso.

"Quando a gente fala de música a gente tá falando de composição, obra, a gente ta falando da fixação da voz interpretando uma letra. Mesmo se a fixação dessa voz for virtual, ela ta homenageando alguém".

Kondzilla citou como exemplo uma produção virtual que utilize uma batida de uma outra produção famosa. Nesse caso, na opinião do produtor, o artista que inspirou a nova música precisa receber por isso.

"O direito de autor tem que ser protegido. E eu acho que o direito de fixação de voz também. Se usou esse artifício para explorar comercialmente, eu acho que tem que participar do resultado econômico disso também", completou.


FONTE: G1 Globo


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