Obra magna de Dorival Caymmi é analisada nas ondas cíclicas de documentário sobre o artista
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Embora redundantes, os depoimentos são dados com propriedade por nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e Maria Bethânia em filme apresentado no Festival do Rio. Pintura de Dorival Caymmi (1914 – 2008) exposta no documentário 'Nas ondas de Dorival Caymmi', apresentado na 25ª edição do 'Festival do Rio'
Reprodução Resenha de documentário musical Titulo: Nas ondas de Dorival Caymmi Direção: Locca Faria Roteiro: Locca Faria e Pablo Ribeiro Produção: Bossa Produções e Canal Brasil Cotação: ★ ★ ★ 1/2 ♪ “O nome dele se diz de pé”, sentencia Maria Bethânia, se levantando para enaltecer Dorival Caymmi (30 de abril de 1914 – 16 de agosto de 2008) na abertura de documentário sobre o compositor, cantor, violonista e pintor baiano, caracterizado pela artista como “um dos maiores heróis do planeta”. Apresentado na 25ª edição do Festival do Rio, dentro da mostra Retratos da Première Brasil, o filme Nas ondas de Dorival Caymmi é, dos cinco documentários já produzidos sobre o artista, o de formato mais convencional. Ao longo de hora e meia, o diretor Locca Faria analisa a obra magna do artista através do encadeamento de depoimentos de grandes nomes da MPB – concedidos já há alguns anos, a julgar pelas aparências dos artistas – com números musicais e com imagens e falas do próprio Caymmi em roteiro de ondas cíclicas. O time de entrevistados – Caetano Veloso, Chico Buarque, Dori Caymmi, Gilberto Gil, Hermínio Bello de Carvalho, João Bosco, Nana Caymmi, Nelson Motta, Paulo César Pinheiro, Ricardo Cravo Albin, Sergio Mendes e Tárik de Souza, entre outros nomes – discorre sobre Dorival com propriedade e conhecimento de causa em vaivém que dá estrutura linear ao filme. A questão é que, à medida que o documentário avança, alguns depoimentos começam a soar redundantes pela repetição de máximas sobre a genialidade do artista. “Todos se curvaram diante da arte do Caymmi”, ressalta Paulo César Pinheiro, elencando nomes como Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959), Radamés Gnattali (1906 – 1988) e o maestro Lindolpho Gaya (1921 – 1987). Construído pelo diretor Locca Faria com Pablo Ribeiro, o roteiro se divide em temas ou ondas. No bloco inicial, os entrevistados discutem a arquitetura de cancioneiro que bebeu das fontes do folclore brasileiro e dos pregões das ruas de Salvador (BA), buscando simplicidade atemporal que fisgou os ouvidos mais sofisticados. Na sequência, o foco recai (longamente) sobre o encontro definidor de Caymmi com Carmen Miranda (1909 – 1955) em 1938, já no Rio de Janeiro (RJ), em união artística gerou a gravação do samba O que é que a baiana tem? (1939), rebobinada no filme. Depois, o roteiro se debruça sobre o toque do violão singular de Caymmi – “inimitável”, no entender de Caetano Veloso e de outros entrevistados. Também dono de um violão personalíssimo, João Bosco mostra no próprio instrumento a sofisticação dos acordes do músico baiano. A audição da voz de baixo-profundo de Caymmi, em canções como Roda pião (1939) e Quem vem pra beira do mar (1954), corrobora tudo o que está sendo dito no filme a respeito de obra pequena em quantidade – são pouco mais de uma centena de músicas, todas perfeitas – e grandiosa em qualidade. Embora o próprio Dorival Caymmi tenha se perfilado como preguiçoso, em trecho de entrevista reproduzida no documentário, Gilberto Gil questiona o espectador: “como você pode acusar um homem contemplativo de preguiçoso?”. Por se ater à obra do artista, inclusive a pintura, assunto do bloco final do filme, o documentário Nas ondas de Dorival Caymmi a rigor pouco ou nada investiga a personalidade do artista. Mas o próprio Caymmi dá uma pista e a receita da felicidade após cantar o samba Saudade da Bahia (1957), também ouvido na voz de Maria Bethânia em take da década de 1960. “Não precisa acreditar em glória, em dinheiro. Fica solto no meio disso e acredita na Bahia, acredita na mulher, acredita no feminino das coisas. Ai é que é o quente: é acreditar no feminino das coisas”, indica mestre Dorival Caymmi, no arremate do filme de Locca Faria, em declaração que merece ser aplaudida de pé enquanto, durante os créditos finais, Renato Russo (1960 – 1996) canta o samba-canção Só louco (1955).FONTE: G1 Globo