Os ambiciosos planos da Netflix para o mercado de games

31 ago 2023
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Produções de sucesso do serviço de streaming, como 'O gambito da rainha', estão sendo adaptadas como jogos à medida que a empresa de audiovisual busca se expandir. Pense na Netflix e em uma série ou filme que assistiu na plataforma de streaming.

Do que você lembrou? Da série Bridgerton? Stranger Things, talvez?

A empresa quer que, em breve, os games concorram por um lugar nessa lista.

A Netflix afirma que os jogos são uma parte fundamental de sua proposta para permanecer relevante para o público nos próximos anos e está lentamente tirando do papel os planos de oferecer mais experiências de jogos aos assinantes.

“Os jogos são uma das maiores formas de entretenimento que existem hoje, por isso é realmente apenas uma ampliação natural para a Netflix incluí-los como parte da assinatura", diz Leanne Loombe, vice-presidente do setor de jogos externos da Netflix, à BBC News.

“Os limites entre as diferentes maneiras como aproveitamos nosso entretenimento estão se confundindo. Quando você está naquele momento entre sentar e assistir a um filme ou ser mais ativo e jogar um jogo, queremos ter certeza de que temos algo a oferecer para você."

“Nosso objetivo é ter jogos para todos. Não focar em criar uma grande experiência, mas sim em uma seleção de títulos que os membros possam escolher para jogar.”

Desde novembro de 2021, jogos estão disponíveis no aplicativo da Netflix, mas isso passou despercebido a muitos usuários. Loombe diz que o serviço de streaming deliberadamente não está “gritando" sobre a novidade e, em vez disso, está dedicando seu tempo para, primeiro, entender o mercado.

Até agora, o que está sendo oferecido são jogos para celular, alguns vinculados a franquias famosas da Netflix (como Stranger Things) e outros independentes do serviço (como Reigns: Three Kingdoms).

Atualmente, eles só estão disponíveis em dispositivos móveis, mas testes estão em andamento para verificar como poderiam funcionar em TVs e computadores.

Para a jornalista especializada em jogos Shay Thompson, essa abordagem discreta é uma medida sensata, porque a indústria está “cheia de tentativas fracassadas” de marcas de mídia tradicionais que tentaram entrar no mundo dos jogos.

“Quando outras organizações de entretenimento tradicionais tentaram entrar no espaço dos jogos, elas realmente tiveram dificuldades”, diz Thompson. “Acho que muitas vezes isso ocorre porque as empresas não entendem fundamentalmente o que os jogos são, nem o que os torna tão atraentes para os jogadores."

"A Amazon Games é um exemplo disso. Eles tiveram títulos como Lost Ark e Crucible com grandes orçamentos, mas faltava a esses títulos a criatividade e a exclusividade que esperamos dos jogos. Essa é uma razão significativa pela qual esses títulos não acabaram causando um impacto forte."

Experiências como esta e a da gigante Google, que fechou sua plataforma de jogos Stadia este ano, mostram como é difícil encontrar um lugar no ramo dos jogos.

A divisão de jogos da Amazon pode ainda não ser tão bem-sucedida quanto a operação Prime Video, mas ainda esperamos ver mais novidades no futuro. A empresa está trabalhando, por exemplo, em um jogo da franquia Tomb Raider.

Mas, até agora, nenhum de seus lançamentos desafiou a popularidade de jogos como Fortnite ou Call of Duty.

“Focar primeiro nos jogos para celular é uma estratégia inteligente que pode funcionar a favor da Netflix”, diz Thompson. “Parece que eles estão tomando tempo para entender o cenário e os jogadores. Eu sei que a reputação deles tem estado um pouco instável no lado do streaming recentemente, mas certamente parece que eles estão tentando trabalhar com o ramo dos jogos, e não contra ele."

"No entanto, dar aos jogadores o que eles querem, e não o que as grandes organizações pensam que eles querem, será a chave para fazer isso funcionar."

No futuro, Loombe acredita que a Netflix vai expandir ainda mais sua propriedade intelectual.

“Conectar programas, filmes e jogos de nossos universos é o que estamos tentando fazer”, explica a vice-presidente do setor de jogos da empresa.

Num moderno escritório no centro de Liverpool, na Inglaterra, é exatamente isso que a equipe do estúdio Ripstone Studios está tentando fazer.

Entre tijolos expostos, plantas suculentas e enfeites da cultura pop estão desenvolvedores e programadores criando a próxima atualização para sua primeira parceria com a Netflix.

O gambito da rainha é, como você deve ter adivinhado, um simulador de xadrez baseado nas aventuras da personagem principal da série, Beth Harmon.

A equipe ganhou o contrato depois que Jaime Brayshaw, o executivo criativo, enviou um e-mail à Netflix de repente.

“Perguntei a eles: quando a Netflix se tornará a Netflix dos jogos?!”, ele conta, rindo.

A Ripstone, que tem uma longa história na produção de jogos de xadrez, tornou-se uma das primeiras empresas a fazer parceria com a gigante do streaming para trabalhar na oferta de jogos.

Brayshaw diz que o relacionamento não é apenas um acordo de licenciamento, mas sim uma “parceria colaborativa”, com ambas as empresas compartilhando conhecimentos entre si.

Além de oferecer mais conteúdo aos clientes da Netflix em um mercado cada vez mais competitivo, Brayshaw acredita que a colaboração é uma chance de ajudar também a impulsionar os jogos como forma de entretenimento mais popular.

“A Netflix tem um público de 238 milhões de pessoas atualmente”, diz ele.

“Muitas delas nunca jogaram um jogo antes, por isso tivemos que pensar em criar algo que fosse acessível ao maior número de pessoas possível, mesmo que elas nunca tivessem jogado um game."

"É empolgante porque permite que mais pessoas em potencial experimentem as alegrias de jogar, e isso pode ampliar a popularidade do meio."

Confiante de que a colaboração trará vantagens para os dois lados, Brayshaw não está preocupado em se juntar à longa trajetória de jogos, filmes ou séries fracassados.

“Sim, há muitos exemplos ruins do passado, mas geralmente há cronogramas envolvidos nisso [na falha]", argumenta ele.

“A Netflix tem uma abordagem mais madura, onde os produtos não precisam estar interligados no lançamento, portanto são necessários menos compromissos.”

Ao focar em títulos para dispositivos móveis, que são mais baratos de produzir do que os grandes lançamentos para consoles, há menos risco financeiro para a Netflix.

No entanto, o outro lado da moeda é que, num ramo tão competitivo, se os usuários não ficarem impressionados com as novidades, irão rapidamente passar para outra coisa.

Pode ser difícil reconquistar um público que já migrou para outros jogos.

Como Loombe, da Netflix, reitera: “Estamos no início de nossa jornada com jogos. Quando se trata de uma indústria tão grande como essa, onde já existem alguns títulos fantásticos que os jogadores realmente amam, só queremos ter certeza de que estamos fazendo as coisas da maneira certa."


FONTE: G1 Globo


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